sábado, 23 de fevereiro de 2013

O que Aécio faria do Brasil que temos hoje?


O que Aécio faria do Brasil que temos hoje?


Encarregado de fazer o contraponto à la carte para a mídia, Aécio Neves sequer roçou a grande pergunta embutida no feixe de avanços sociais e econômicos reunidos pela Fundação Perseu Abramo, para o evento da última 4ª feira, '10 Anos do PT'. 



A pergunta é:



'Se voltasse ao poder, o que o conservadorismo faria do Brasil que temos hoje?'



A omissão não deve ser debitada à superficialidade pessoal do provável candidato tucano em 2014.Colunistas da cota reservada a José Serra sibilam essa interpretação.



Maldade.



O fato de Aécio ter omitido preferências não significa que não as tenha. 



Ele as tem.



São as mesmas dos seus rivais de partido; as mesmas dos vulgarizadores de seu credo na mídia.



As mesmas marteladas pelos professores-banqueiros encarregados de pavimentar a candidatura conservadora até 2014. 



Fácil é defendê-las em artigos acadêmicos. 



Palatável, discorrer sobre elas em colunas dirigidas aos iniciados da mesma igreja.



Complicado assumi-las em uma tribuna pública.



Quase inviável assoalhar um palanque presidencial com o seu conteúdo. 



A tarefa consiste em desqualificar e desautorizar grandezas sociais de uma mutação histórica dificilmente reversível pelas urnas.



Para ir direto ao ponto mais agudo de uma dinâmica inconclusa mas incontrolável:



As favelas brasileiras reúnem 12 milhões de habitantes e formam hoje um mercado de R$ 56 bilhões. 



O equivalente a uma Bolívia.



Não é propaganda do PT. É o resultado da pesquisa feito pelo Data Favela em 2011.



Ela mostra que 65% das populações faveladas pertencem agora ao que se convencionou denominar de nova classe média, ou classe C.



Em 2002 o percentual era de 37%. 



Favela continua sendo favela.





Mas o recheio humano mudou. E aí reside o paradoxo de uma dinâmica infernal para aécios e assemelhados.



O mesmo ocorre nas periferias metropolitanas que continuam sendo periferias conflagradas.



Ou nos bairros distantes que continuam carentes de serviços essencias.



E também nos conjuntos habitacionais, vilas e arruamentos rurais do resto do país. 



Que continuam sendo tratados como resto do país.



A população aí residente saiu do rodapé da renda para o segmento do consumo popular. Representa agora 52% do Brasil.



O dado banalizou-se. 



Mas não a completa extensão do paradoxo político que encerra.



Não o desconforto eleitoral que constrange o discurso do conservadorismo.



A ponto de Aécio recitar frases de efeito que não tem nenhum efeito. 



A ponto de Lula, Dilma e o PT, de um modo geral, apostarem que esse impulso ainda pode encher as velas de mais uma vitória eleitoral. Guiada pela promessa do passo seguinte dessa história: a cidadania plena.



Mesmo difuso e ainda sem projeto --que cabe ao PT esclarecer-- o aceno tem receptividade expressiva. 



Milhões de brasileiros que formariam um país do tamanho da Argentina deixaram de ser meros sobreviventes de um naufrágido de 500 anos.



Chegara à praia. 



Querem mais.



Como dizer-lhes: 'Não, o regime de metas de inflação não comporta vocês'.



Ou, como preferem os professores-banqueiros do PSDB: 



'O populismo petista aqueceu a demanda para além do hiato do produto (potencial produtivo acionável na economia; que eles interpretam como um grandeza inelástica)'.



A receita para reverter o desmando é a plataforma que os tucanos e assemelhados hesitam em explicitar em palanque.



Um lactopurga feito de choque de juros e cortes no salário real; a começar pelo salário mínimo.



Quase tão simples assim.



A dificuldade reside no fato de que o 'voluntarismo petista' consumou um colégio eleitoral que hoje elege sozinho um presidente da República, se quiser.



De modo que o problema não é Aécio. 



Um Aécio careca enfrentaria a mesma dificuldade.



O balanço reunido pelo PT (http://www.fpabramo.org.br/sites/default/files/Folheto_PT_10anos_governo_Net.pdf) envolve escolhas e desdobramentos que vão além das platitudes da má vontade conservadora.



A tal ponto que argui a zona de conforto da própria agenda progressista.



Para que o fim da miséria seja só o começo, como promete a provável bandeira da reeleição da Presidenta Dilma, há perguntas à espera de uma resposta.



Sobre uma delas o governo se debruça exaustivamente nesse momento.



Trata-se de viabilizar um novo ciclo de investimentos que redesenhe os contornos de um país previsto originalmente para acomodar apenas o terço superior da renda.



A nova cartografia escapa às receitas técnicas que seduzem uma parte do governo.



Reequilíbrios macroeconômicos são indispensáveis.



Mas as soluções imaginadas cobram um protagonista social que as legitimem e ferramentas que as executem.



A hegemonia numérica da chamada classe C sobreviveu à crise mundial do capitalismo porque, entre outras coisas, Lula e Dilma colocaram os bancos estatais a seu serviço. 



No ano passado, o Banco do Brasil expandiu em 25% a sua carteira de crédito, à base de agressiva redução dos juros.



A Caixa Econômica Federal ampliou a sua em arrojados 42%.



Para desgosto da mídia que vaticinou prejuízos calamitosos, o BB e a CEF registraram lucros recordes em 2012. 



As taxas de inadimplência foram inferiores às da banca privada que, exceto o Bradesco, viu seus lucros minguarem em relação a 2011.



Bancos estatais dominam agora 47% do mercado de crédito no país.



Dispor de ferramentas autônomas permitiu ao governo criar um fenômeno de consumo indissociável da aspiração por cidadania plena.



Isso mudou a pauta política do país ao dificultar sobremaneira o discurso conservador. 



Qual seria o equivalente na batalha do investimento?



Por enquanto não existe.



Daí as dificildades dilacerantes que empurram o governo de concessão em concessão. Com resultados ainda imponderáveis.



Como compartilhar esse desafio com quem tem mais interesse num desenlace progressista e bem sucedido: milhões de brasileiros à procura de um país onde caiba a sua cidadania?



A cartilha dos '10 anos do PT' deixou esse capítulo em aberto.



Cabe ao V Congresso do partido escrevê-lo em 2014.



Mas é quase tarde. É preciso correr e começar já.

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