sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

2016, Ano Macunaíma

Ano Macunaíma


Ouvi gente maldizer as horas do tempo desse ano que se despede deixando marcas nas praças e nas gentes, como fosse ele amaldiçoado, um pária, despojado até do direito de ter passado, de ser lembrado.  

-"Ano macunaíma, sonso e cretino assim, nem deveria ter existido", ouvi numa esquina, de duas mulheres vestindo camisetas verde-amarelas.

Realmente 2016 foi um ano ladeira abaixo para a maioria: os pobres, os banidos, os excluídos, as minorias que fazem parte dessa maioria de despossuídos de direitos que formam a grande base da pirâmide: a massa.

A bandeira da luta de séculos em busca de alguma justiça e igualdade social não resistiu desfraldada muito tempo; pouco mais de uma década e, durante ela, não passou uma semana inteira sem que sofresse atentados.

Uma, duas vezes, três vezes!  Mas, quatro vezes era insuportável.  Que negócio é esse de sairem da senzala? do jugo?  Que papo é esse de  invadirem meu shopping? 

Minha praia vá lá, água e areia tem mesmo pra todo mundo, e rock é mesmo pervertido.  Mas meu aeroporto?  Aí tá de sacanagem!  

Ver aquela gentalha infestando aeronaves como baratas, ouvir aquele dialeto tipo "o probrema é o seguinte", "casca uma laranjinha pra nóis aí, meu", "num vai tê armoço não?,  "Ih!  o largato tava uma delícia!", na poltrona ao lado, é foda.  

Não deu para uma minoria seleta aguentar mais quatro anos de governo progressista.

Então, o que fazer?

Simples, a receita tradicional. 

Corrupção, governo corrupto, mar-de-lama, governo incompetente, comunistas, e a mídia, o martelo da mídia agora mais sofisticado.  Prensas quase aposentadas e a nova vedete, a TV!

Com ela entrando na vida de 90 milhões de famílias todos os dias, quatro vezes por dia, é mole!  

Basta repetir a arenga.  Deu certo com Getulio, deu certo com Jango, quase deu certo com Lula, porque não daria certo com uma mulher?  E deu certo.  Não por ela ser mulher, mais pelo imenso investimento na covardia...  Dilma é guerreira,  não se deixa abater.

Foi como em Hamelin, a flauta eletrônica foi eficaz!

A classe média, que historicamente odeia a classe dominante tanto quanto explora e odeia as classes abaixo dela, foi o alvo.  

A TV dava a senha, tatatatá: e o domingo na orla tinha mais um programa antes das geladinhas na areia: gritar fora Dilma!  

Chovia pato!

Pior que a classe média estava hipertrofiada pelos nela recém ingressados - que agora perceberam o engodo -  e nossa velha política não se fez de rogada: de uma tacada, menos de 500 deles invalidaram mais de 54 milhões de votos.

Tiraram Dilma, eleita democraticamente, e, em em seu lugar, colocaram uma quadrilha, como agora todos já sabem, liderada por Temer, o traidor.

Aí vem o golpe que antecede o golpe final: os políticos passaram a legislar contra o povo; contra os que elegeram Dilma e contra os que apoiaram o golpe.  

E assim o projeto vencido nas urnas passou a ser votado e aprovado pelos mesmos políticos que se negavam a votar e aprovar os projetos que favoreceriam o trabalhador e o povo brasileiro, quando Dilma os apresentava.

Só que a dose foi muito forte e eles perderam o controle além do juízo, e tal como um trem desgovernado o ovo-da-serpente chamado Lavajato acabou detonando a economia de forma estrutural.

O que era para ficar em  círculo coordenado e predeterminado se tornou um Orós e grandes empresas brasileiras foram desmoronando, e a economia, que é como a engrenagem de um relógio suíço, desandou junto, e o tal rombo que a corrupção fez na Petrobras se tornou gorjeta perto  do rombo que a lavajato provocou em nossas mais lucrativas empresas e na economia nacional.

Como consequência,  número de  desempregados atingiu 12,1 milhões de pessoas no trimestre encerrado em novembro último, número 33,1% maior do que o mesmo trimestre do ano passado; e  vai piorar em 2017.

Aposentaram a aposentadoria.  Silêncio nas panelas...

Ou seja, o golpe saiu inúmeras vezes mais prejudicial que a corrupção que, como sabemos, não vai acabar.

O golpe esta em movimento.  Depois que Temer fizer a parte que lhe cabe será descartado.  Igualzinho aos paneleiros de minha rua e aos patinhos que idolatraram a FIESP. 

Risível.

Mas apesar de tudo não vejo 2016 como um ano perdido. Coisas maravilhosas aconteceram nele, e outras, tão maravilhosas quanto, foram preservadas.  

Entre elas a vida, a esperança, a capacidade de sonhar, de crer, de lutar e prosseguir devem permanecer intactas.  

Perdemos uma luta, companheir@s, mas lutar faz parte da vida de quem tem como objetivo mudar as coisas.  A luta mantém vivo.  

Não sou peixe morto que só nada a favor da maré.

Desembarcarei de 2016 mais experiente, mais forte;  viver sempre fortalece.

E embarcarei em 2017 cheio de esperança, sonhos,  e vontade de realizá-los.

A conversa que relatei no inicio, foi de duas mulheres de bem que estavam horrorizadas com as mudanças na aposentadoria.

Lembro tê-las visto comemorando a saída de Dilma...

Feliz ano novo para tod@s!!

E, #ForaTemer!
  

domingo, 4 de dezembro de 2016

Viver é se aventurar

Juliana​, minha querida.  Espero te encontrar feliz hoje; espero te encontrar feliz sempre, todas as vezes, em todos os dias de tua vida.   Dizem por aí que isso não é possível, com certa razão.  A felicidade permanente seria um tédio e faria da vida um saco, uma coisa sem sentido, né? Tipo desmotivante.  Imagina só milhões de copas d'água, uma cachoeira de águas geladas na nossa frente, e a gente sem a menor sede, sem qualquer vontade de beber coisa alguma.  Aff!  Não dá.  Por outro lado, imagine uma vida em que todos os nossos desejos, inclusive aqueles mais íntimos, se realizassem imediatamente...  Assim, de repente, parece uma coisa maravilhosa.  Mas com o tempo, um vazio imenso, um tédio massacrante  viriam nos abalar.  A certeza da realização imediata de todos os nossos anseios mataria a expectativa e ela é fundamental para a felicidade.  Sabe aquela espera de que algo aconteça, aquela pessoa apareça, ou a chuva caia?  Pois é, não existiria.  As manhãs perderiam o encanto, as tardes de domingo deixariam de ser bucólicas, as noites de plenilúnio não mais teriam graça, e até o amor, e mesmo as dores do amor, perderiam o feitiço.  Seria uma vida despossuída da palavra conquista e, quando isso acontece, os despossuídos somos nós.  Nada teria aventura pois a aventura é a materialização do resultado de nossa luta e, como a luta se tornaria desnecessária, com o tempo encararíamos todas as coisas como se fossem esmolas e nós, bem, nós, querida Ju, não passaríamos de pedintes  aos olhos da Vida e, a Vida, miserável aos nossos olhos.  E sabes disto. Não à toa braços dados com a Aventura foi perseguir teus sonhos, forjar tuas expectativas, garimpar tuas manhãs e teus amanhãs, nessa campanha ultramar planejada por teus anseios, por tuas expectativas,  e o pouco,  ou o muito, conquistado com nossa luta é sempre compensador.  Tudo passa a ter um pouquinho do nós, a marca de nossa alma, e fica impregnado com nossas alegrias e tristezas, passando a ser parte integrante daquilo que nos tornamos em nossa caminhada, e ninguém fica menor por dentro do que estava quando deu o primeiro passo, lá atrás no tempo, no tempo em que tudo começou.  Se é assim então porque iniciei dizendo que esperava te encontrar feliz hoje?  Exatamente por isso!  Por ser a vida como uma montanha-russa para os que de fato se lançam nessa fantástica aventura que é viver, viver mesmo, como fazes, não esperar a banda passar,  cavalgar o cavalo em pelo, domar as tempestades, beber as lágrimas, mergulhar fundo, apneia pura, e aflorar de novo à superfície com o sorriso largo de quem jamais será vencida, por ter a seu lado, em toda luta, justamente a felicidade que se chama viver.  Bom dia. Te amo.  Um beijo.

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