terça-feira, 19 de agosto de 2008

PF ESCUTA SEM ORDEM JUDICIAL: QUEM SÃO OS BANDIDOS?


Polícia Federal tem maleta que faz escuta sem passar por operadoras.



A Polícia Federal do Brasil incorporou a seu aparato tecnológico maletas com equipamentos capazes de realizar interceptações de telefones celulares sem recorrer às operadoras e, por isso, em tese, sem a necessidade de autorizações judiciais.

Para isso, a PF obteve o aval da Anatel, que analisou modelos importados que podem custar até US$ 500 mil. O equipamento, usado por unidades de elite dos EUA e da Europa, pode varrer as comunicações mantidas por meio de uma determinada ERB (Estação Rádio Base) - antena instalada pelas operadoras-, interceptar um sinal telefônico específico no ar e o decodificar.

A segurança do STF considera o uso da maleta de interceptação uma das hipóteses para a "provável escuta" detectada mês passado na sala do assessor-chefe do presidente do STF, Gilmar Mendes. Não há provas.

Procurada por repórteres da Folha de S. Paulo, a PF não respondeu a nenhuma questão sobre as maletas. A Anatel disse que analisou o equipamento a pedido do Ministério da Justiça para ser usado só como bloqueador de celular em presídios, com autorização judicial.

As maletas têm capacidade para bloquear e interceptar e decodificar sinais.

Fonte:

http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?idnoticia=12434

domingo, 17 de agosto de 2008

OS MORTOS SÃO SEMPRE "BANDIDOS"


Informações falsas emperram investigações sobre mortes de inocentes



Uma prática difundida entre policiais emperra logo no início praticamente todos os inquéritos sobre mortes em confrontos (autos de resistência): ao chegar à delegacia, eles costumam informar que as vítimas eram ligadas ao tráfico, mesmo quando elas sequer têm antecedentes criminais. É o que informa a reportagem de Antônio Werneck, publicada no jornal O Globo deste domingo.

Foi assim no caso do estudante Hanry Silva Gomes de Siqueira, de 16 anos. Morto por PMs no Lins durante suposta troca de tiros em 2002, ele foi tratado como traficante. Ninguém investigou. O caso acabaria arquivado como tantos outros, não fosse a coragem da mãe do jovem, a dona-de-casa Márcia de Oliveira Jacinto. Decidida a provar que o filho era inocente, ela levou dois anos investigando o crime e mais quatro pedindo justiça. Na semana passada, entrou de cabeça erguida no Tribunal de Justiça depois de desvendar a farsa: os dois PMs que mataram o estudante e simularam um tiroteio começaram a ser julgados por homicídio qualificado.


Autos de resistência: 4 mortos por dia

Longe de ser exceção, histórias como a de Hanry acontecem em todo o estado e estão nos registros de autos de resistência, sobretudo em favelas. A morte em confronto é tratada como legítima defesa no registro policial, mesmo quando as circunstâncias apontam o contrário. De janeiro de 2006 a abril deste ano, 2.895 pessoas morreram supostamente enfrentando a polícia no estado, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) - uma média de três mortos por dia. Este ano, de janeiro a abril, foram 492 casos - quatro mortos por dia ou um a cada seis horas.


Procedimentos da PM mudam em favelas

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, revelou ao Globo que estão sendo tomadas algumas medidas para reduzir a letalidade da polícia durante operações em comunidades dominadas pelos criminosos e, assim, evitar a morte de inocentes. Mariano garantiu que a polícia tem sido orientada para "redobrar os cuidados em áreas críticas, áreas nas quais a chance de conflito é muito grande, principalmente nas situações de pronto atendimento, de patrulha".

José Mariano Beltrame disse ainda que a polícia, com o acompanhamento do Ministério Público, investiga possíveis excessos dos policiais na operação do Complexo do Alemão, onde 19 pessoas morreram. Laudos revelaram que 16 deles levaram tiros também pelas costas, sendo que três foram atingidos na nuca.

- O que houve ali foi uma situação de guerrilha, de questionamento do Estado, e isso não é negociável. Há três inquéritos em andamento e na fase final, e não se pode falar em punição antes da conclusão.


Para socióloga, confronto não reduz crimes

A política de enfrentamento adotada pela polícia no Rio, responsável pelo aumento do número de pessoas mortas em confrontos, é contestada pela socióloga Julita Lemgruber, diretora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes. Na opinião de Julita, as ações da polícia não contribuíram para a diminuição da violência. Ela cita o aumento do número de roubos no estado. No ano passado, a taxa foi de 875,5 casos para cada cem mil habitantes. Em 2006, tinha sido de 801,4. A socióloga lembrou que em São Paulo, onde a polícia mata cada vez menos, a taxa foi de 693,4 em 2007.

- As diferenças entre o Rio e São Paulo mostram que os paulistas, ao longo dos anos, deram continuidade à política de segurança. No Rio, isso não aconteceu: cada governo que entrou não considerou o que seu antecessor estava fazendo e mudou tudo. Em São Paulo, em todos esses anos, eles mantiveram a mesma linha e estão colhendo os frutos. Foram mais competentes - disse Julita.


Fonte: O Globo.

sábado, 9 de agosto de 2008

NÃO SOU HERÓI



NÃO SOU HERÓI


Não quero ser herói. Heróis não choram, não sentem dor.

Heróis não deitam com a angústia, não brigam com a insônia, contando o tempo, os segundos, a toda hora com o coração acelerado ao ouvir uma porta que bate ao longe, o barulho da freada brusca de um carro, ou de uma sirene que corta com seu lamento o silêncio da madrugada, enquanto espera o último filho chegar em casa.

Heróis não se assustam com o telefone que toca no meio da noite madura que se debruça na madrugada chegante, e pulam da cama como o mais imaturo adolescente, sentindo a boca seca, o coração disparar, o corpo tremer, num desassossego de alma impossível de descrever, até que ouve do outro lado uma voz amada dizer:

“- Fica frio, pai, tô numa boa com a galera. Não esquenta que daqui há pouco tô chegando.”

Heróis não ficam ali, babacamente tentando decifrar quem compõe a “galera”, como será essa “boa”, se o lugar é seguro, se existem feras nas sombras, se seu filho está entre lobos com pele de cordeiro, se existe perigo no ar.

Heróis não se preocupam com o futuro, são imortais. Não são como nós que apreensivos muitas vezes perdemos o rumo das palavras, e não conseguimos, debalde as tentativas, mostrar aos nossos filhos a importância de aproveitar o tempo, as oportunidades de poderem estudar sem precisar trabalhar, para acumularem o único tesouro que ninguém pode deles arrebatar, que é o saber.

Heróis não morrem a cada vez que a dúvida os assalta: onde estará meu filho?, com quem minha filha saiu e o que está fazendo?, está com pessoas de bem?, será que sabe perceber o canalha que muitas vezes se esconde em um sorriso cativante?

Heróis não temem os monstros que são essas dúvidas que sitiam nossos dias e roubam nossa paz. Às favas os medos dos amanhãs! Para eles basta fazer como o Super-Homem e girar velozmente até o tempo retroceder para consertarem qualquer estrago. Taí um poderzinho que cairia muito bem em minha vida... qualquer coisa era só um zuuummm!, e pluft!, o tempo retornava ao passado e eu presenteava o futuro com um presente sem estragos. Uma boa, não? Dava até para fazer novamente aquelas provas em que tiveram nota abaixo de sofrível. Mas aí estaria deixando de ser esse herói hipotético para ser um patético vilão e minha ação uma fraude. Não vale.

Não quero ser herói porquê não sou herói e, por não ser herói, não quero ser visto como herói.

Quero que meus filhos saibam que sou apenas uma pessoa comum, frágil como um papel de arroz, ainda que em algumas situações me comporte como a grama ou como o bambuzal ao vento: vergo mas não quebro. Ou quebro por dentro e vou juntando os cacos, num ritual de amor. Sim, muitas vezes é tudo que podemos fazer: juntar cacos de sonhos e de vida e tentar salvar alguma coisa que nos devolva a esperança.

Quantas vezes a vida nos coloca diante de situações que julgávamos não poder suportar e, sabe-se lá de onde, a gente reúne forças e conseguimos nos levantar antes de encerrar a contagem final para continuar a luta, muitas vezes apenas para continuar no corner, apenas apanhando, apenas para ganhar tempo enquanto não encontramos a solução ou a resposta?

Herói não passa por isso, não beija a lona, não vai a nocaute, não junta cacos em ritual de amor, não se sente derrotado em cada derrota de um filho, não sente o gosto do sal que nos sabe em cada lágrima que derramam, sejam elas de desamor ou de dor de amar, da inabilidade de se fazer amar, inerente da imaturidade e do esplendor da juventude, até nisso choramos com e por eles, pois muitas vezes tudo que nos é permitido pela Vida se resume a isso: chorar com eles.

Herói não passa por isso. Aliás, que me lembre não conheço nenhum super-herói que tenha filhos...

Sei que sei amar e luto como leão se preciso for por meus filhos e quando não posso lutar, quando é impossível lutar, faço o que é possível, e se o possível for apenas chorar choro junto com eles.

Afinal, sou simplesmente pai.


Paulo David
Rio, 10 de agosto de 2008.
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