domingo, 27 de maio de 2007

MEDO E CORAGEM


MEDO E CORAGEM


Amiga minha, amigo meu.

Mais uma semana inciante e de incertezas plenas.

Tentarei não ter medo, como faço sempre: de sonhar, de lutar, de viver, de perder ou vencer.

Mas quando o medo chegar, também como sempre, que minha coragem seja um pouquinho, só um pouquinho já está bom, maior que meu medo.

Muita paz, um belo domingo e uma semana de luz em sua vida.

Um beijo em seu coração hospitaleiro.

Paulo da Vida Athos.

LULA, ONTEM E (AINDA) HOJE

















LULA, ONTEM E (AINDA) HOJE


Caro mestre e amigo Odemar Leotti,


Não vou responder agora quanto à minha indignação. Estou analisando para não me precipitar, querendo olhar o prisma em seu todo.

O funcionalismo federal, em alguns setores mais e outros menos, está há décadas com o salário corroído. Pior ainda a grande massa, aquela que tem como base o salário mínimo (veja que estou excetuando os que nem isso tem): nesse aspecto a coisa é inominável.

Verdade que o salário mínimo teve aumento real, não apenas nominal, mas é real que sua qualidade de aviltamento continua igual. Mas isso também é um trem que não se resolve por decreto.

Não acho justo o aumento de Lula, dos congressistas e de ninguém que ganhe mais que 10 salários mínimos enquanto nossa realidade for essa que aí está. Realidade indigente. Inumana.

Dou razão a você quando afirma sobre o posicionamento de Lula "SE OS OUTROS FUNCIONÁRIOS NAO VÃO TER EU TAMBÉM NAO QUERO TER. ISSO SERIA HONRADO. SE FOSSE EU LÁ FARIA ISSO".

A grande questão que eu enfrentaria seria mais contundente até, e tanto que não sei qual seria o desfecho final em relação ao povo brasileiro. Em meu radicalismo não pagaria mais os juros da dívida interna. Aliás, nem a dívida real (caso ainda exista de fato). Mas e as conseqüências? Não sei. Mas Brizola pregava isso em um mundo que, então, não era tão globalizado como hoje. Sabemos que não basta querer não pagar. Assim como não basta querer colocar o salário mínimo em R$3.800,00. A banca não bancaria.

Não é de fácil solução (se é que existe alguma sem passar por graves depressões ou convulsões e se é que tal levaria a algum lugar melhor).

Poderia afirmar a você, que tem meu respeito e admiração, que descarto Lula de pronto, nesse momento. Não. Ainda não, para mim. Claro que tenho clara a visão de seus erros como governante e, dentre eles, o mais grave é o que agora desfralda: a Lei de Greve.

Greve é greve. Greve se opõe. Contra tudo, todos e, principalmente, não se adequa a normas. A norma da greve é seu fim. Os meios não são importantes e regras são feitas para que ela, a greve, as descarte.

Esse erro em Lula é imperdoável.

Porém, caro amigo e mestre, Lula, Collor, Jango, Getúlio, etc. não têm muita importância para mim: e sim o povo. O que está sendo por ele, o povo, conquistado. E, por enquanto (e não me refiro a amanhã de manhã), ainda não vejo alguém que possa fazer melhor que ele em seu lugar. Talvez Heloísa Helena. Talvez.

Não sou filiado a nenhum partido político, hoje. Não creio ser preciso. Prefiro me engajar nas lutas que, independente de sua origem ideológica, vá atender aos anseios do povo. Essa é minha bandeira. E principalmente pelos mais miseráveis entre os miseráveis.

Creio na política e nos resultados dela. Não creio na maioria dos políticos, o que é bem diferente.

Sintetizando, discordo de Lula quanto a aceitar o aumento de seu salário, creio que a atitude que você tomaria em seu lugar é a única digna e que se amoldaria à história dele como político.

E, mesmo assim, ele deveria lutar contra a tal Lei de Greve, ou declarar seu distanciamento de sua trajetória enquanto líder classista e sindical, devotando-se de vez ao neoliberalismo que, como sabemos, jamais compatibilizará crescimento econômico sustentável com uma justa distribuição de renda, como alardeiam.

Como vê, estou em compasso de observação.

Tenho muitas críticas a Lula. Mas ainda são mais relevantes as críticas positivas que tenho com relação a ele.

Ou seja, ainda não perdi a esperança em que o povo tenha um ganho real, nem creio que qualquer lei contra greve tenha aplicabilidade fora dos limites que já hoje temos.

Com minha admiração e respeito,

Paulo.



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terça-feira, 15 de maio de 2007

A BUSCA AOS MORTAIS DE DUAS CABEÇAS
















A BUSCA AOS MORTAIS DE DUAS CABEÇAS1



Odemar Leotti*


O título deste trabalho é uma alusão a Parmênides que viveu no final do século VI e começo do século V a.C. sendo legislador em sua cidade natal, Eléia, deixou um poema, apresentando suas idéias filosóficas. Constrói o tema do saber ascético em oposição ao saber produzido pela experiência humana, considerado como degenerador das formas verdadeiras e, portanto originais que para ele, seria as essências para a vida. Segundo Pesanha, esse filósofo “... descreve uma experiência de ascese e de revelação; a primeira parte apresenta o conteúdo principal dessa revelação mostrando o que seria a ‘via da verdade’; a segunda parte caracteriza a ‘via da opinião’. A distinção fundamental entre os dois caminhos está em que, no primeiro, o homem se deixa conduzir apenas pela razão e é então levado à evidência de que ‘os mortais de duas cabeças’, pelo fato de atentarem para os dados empíricos, as informações dos sentidos, não chegariam ao desvelamento da verdade (aletheia) e à certeza, permanecendo no nível instável das opiniões e das convenções de linguagem. PESANHA, José Américo. Os Pré-socráticos. Col. Os pensadores. São Paulo: ed. Abril, 1999. P. 21”.

Ao negar a via da opinião Parmênides nega as propriedades dos humanos de agirem numa consonância entre os seus elementos sensoriais e o mundo do pensamento que resultariam daí na produção das subjetividades humanas e conseqüentemente instaurariam as práticas relacionais dos homens em seus meios espaciais onde existem outras formas individuais com todas características que cada qual carrega. Cada cultura é produzida a partir de grupos de individualidades que ao necessitarem viver juntas. Esse ajuntar-se necessita por sua vez de formas de ligação pelos sentidos que são produzidos pela significação das coisas contidas em seus espaços ou no espaço alcançado pelos seus conhecimentos. Quando nos pomos a falar em conhecimento, estamos falando do que foi produzido para que uma dada cultura constitua-se com espaço de pertencimento para acomodar as relações das necessidades físicas num engendramento com as necessidades de suas formas de pensar.

O que nos diferencia dos outros animais é o fato de sermos animais que necessitamos da linguagem para nos apossarmos da vida: vida entendida como o espaço físico e o espaço dos significados que nos colocam em relação com ele. Esses significados já pré-existem ao nosso surgimento. Já nascemos em um mundo de significados que vai nos encaminhar, via esse saber já funcionando, ou seja, já exercendo sua função de controle dos passos, dos sentimentos, do destino daqueles que adentram ao habitat de cada cultura. Um saber que seria comum a todos que habitam cada cultura seria chamado de conhecimento. Um conhecimento deve ser algo comum a todos e o conhecimento de todos deve ser adequado para garantir a vontade individual de cada um dos seus comuns. Logo estamos falando de um saber que possibilita o ato de ver o mundo. Ver o mundo pressupõe um conhecimento para que possamos crer que sabemos algo sobre o espaço físico em que estamos instalados. Logo o saber comum seria o saber comunitário, da comunidade, logo comum para todos e ao mesmo tempo funcionando garantindo as diferenças nas apropriações individualizadas de cada um. Vemos instalar aí um problema que será de difícil contorno numa cultura. Como garantir o coletivo como comum garantindo o individual que é singular a cada um dos seus elementos? Seria tornando o que é individual num ser preso a um saber para todos? Será tornando um saber para todos aberto às formas de apropriação de cada individualidade? Eis o problema que cada cultura teve que administrar. Cada qual fez funcionar seus mecanismos de controle dessa situação. O que agora me interessa é saber como um saber chamado de pensamento ocidental se constituiu dentro dessa problemática? Gostaria de deixar no ar para depois tentar pensar sobre a questão que foi também um problema: podemos fugir de nossa condição de seres da linguagem? Se não podemos então como resolvemos a questão de nos ligarmos ao que é físico sem nos tornarmos seres ascéticos, ou seja, seres que necessitam construir uma ilusão sobre o físico para poder fazê-lo funcionar com nossos sentidos que são caracterizados por essa necessidade? Quando Foucault foi interpelado se não acreditava na razão, disse que a vida necessita da razão única e transcendental. Entendo que o que estava problematizando era uma racionalidade que se quer universal e transcendental (branca, européia e masculina) que para se afirmar necessita tentar aniquilar todas as demais racionalidades, tanto de grupos quanto de outras culturas. E faz isso as especificando, classificando-as em hierarquias que assujeitam seus saberes de forma anuladora e perversa. Partimos do pressuposto que cada cultura constrói sua racionalidade para poder adquirir seus pertencimentos ao espaço em que se propõe ou necessita viver, por inúmeros motivos que não cabe aqui explicar. Agora a classificação que se deu até hoje e ainda hoje se dá, são produtos de práticas discursivas que deram possibilidades para que emergissem enunciadores como sujeitos produtores de genialidades sobre a forma que nos conduzimos ou devemos nos conduzir na terra em cada espaço ou na tentativa megalomaníaca da metafísica de características tentaculares universalizantes das multiplicidades culturais. Tentar entender isso ou mesmo se entender como cria de tudo isto é o que se torna um desafio para discutir nossos problemas atuais saindo do mesmismo produzido pelos que se entendem como intelectuais, de esquerda e de direita.

Sair do problema é antes de tudo um exercício do sair dos modelos de análise do problema e entendê-lo com o criador do problema. De uma coisa não podemos fugir, penso eu: somos seres que necessitamos da palavra e das coisas, mas mais do que isso, dos elementos que engendram coisas e palavras e a questão política de tudo isto, o poder que devemos ter de lidar com a feitura do saber daí advindo. Precisamos da linguagem para poder nos apossar do espaço em que estamos destinados a viver e, portanto precisamos constituirmo-nos como sentido lidando com nossas vontades que é um emaranhado produzido de forma imanente entre o físico do corpo, o físico que nos rodeia e a linguagem que nos põe a funcionar garantindo nosso exercício nesse espaço onde existem as palavras e as coisas. Logo a partir da admissão da linguagem com elemento novo devemos entender que nem a palavra nem as coisas são lugares do saber e sim que este nos vem através das construções discursivas que no engendramento dos enunciados formam discursividades que dão formas e sentidos diferentes às palavras e às coisas. Logo dá para a gente entender que precisamos participar da trama da produção da linguagem para podermos formas uma língua, um idioma que será nosso oceano onde iremos mergulhar nele para poder viver, para que exista um poder que tome maior proximidade possível com sua forma verbal, expressiva, pois é isso que torna importante o saber como ferramenta para nosso conhecimento para que possamos ver não somente com nossos olhos, mas com algo que foge de nosso corpo e mente que é o pensamento que só se dá no saber produzido, que vira forma de conhecer as coisas, vira aquilo que muitas vezes recebemos sem questionar que é o conhecimento. Esse conhecimento é que nos dará a característica para que possamos nos sentir como um animal das palavras, ou seja, que entre as palavras e as coisas existe a construção das verdades e é delas que temos que cuidar. Elas existem sob uma condição regimentar, ou seja, sob uma condição de um conjunto de regras e leis que determinam como esse conhecimento chegará até nossos sentidos. Com isso será com essa forma de conhecer que vamos inserir nossa vontade de potencia, nossa energia. Ela poderá ser a nosso favor e alimentar nossa vida saudável ou poderá se nossa destruição. O pior que qualquer que seja, nós aceitaremos elas como verdade, pois do contrário elas não chegariam até nós, caso a repelíssemos. Portanto o que quero falar é sobre a história do pensamento na forma em que ele chega até nós e o porque nós aceitamos e combatemos aqueles que tentam nos contrariar nisso. E ao mesmo tempo gostaria mais posteriormente, se conseguir, falar de como nos sentimos impotentes para resolver os problemas do tempo presente e porque ainda estamos tentando sair do pantanal da crise que vivemos, lembrando o velho Marx, puxando-nos pelos próprios cabelos, ou usando o efeito do boot strap, ou seja, sair do atolamento que vivemos nos puxando pelos cadarços de nossos sapatos. Para adiantar quero dizer que a ciência não explica o que a própria ciência constituiu. Para podemos pensar o pensamento ocidental nos dias atuais e os problemas que nos dias atual, devemos voltar ao que estávamos discutindo antes e caminhar na construção de uma genealogia da forma de construção desse pensamento.

O pensamento ocidental, toma formatos diferentes mas mantém uma característica presa dentro de uma permanência que é o mundo ascético, ou seja, a separação do corpo e da alma. Em outras palavras a separação do conhecimento da experiência. Começa com Parmênides, depois com Platão, da concepção de que há uma matéria primordial que antecede a ação humana e que para tanto necessita-se que a experiência deixe de fluir de forma descontrolada por uma origem pura, para que não degenere mais as formas de ser no mundo. Para os gregos do tempo de Parmênides, o tempo não era entendido como nos tempos modernos. Se hoje estamos inseridos numa crença de que é no futuro que iremos viver uma vida pura, para o grego era no passado que existia a forma pura da vida, do mundo e era para ela que deveria voltar sua vontade não hora de pensar numa melhora do tempo presente em seus momentos de crise de existência. Logo, tanto um pensamento quanto o outro coloca o tempo presente apenas como uma passagem para um mundo que não mais existe: se para o grego o paraíso seria a Idade de Ouro existente no passado (para eles o tempo era pela qualidade dos metais, Idade de Ouro, de Bronze, de Ferro, etc.), onde o sentido era diferente do que é para nós modernos. Se para nós o futuro seria regenerador da perfeição humana, imaginamos o tempo como aperfeiçoador do mundo. Para o s gregos o tempo, ao invés de regenerador era degenerador, portanto o futuro para eles significava a destruição do mundo, que para eles obedecia uma lógica biológica (o que nasce, cresce, envelhece e acaba), portanto com o tempo o mundo acaba e cabe a cada um trabalhar um saber que esteja a serviço da reintegração do que está se degenerando: reintegrar seria o mesmo que regenerar. Enquanto que para o pensamento moderno, reintegrar seria o mesmo que reconduzir o mundo a um futuro onde ele esteja, também regenerado das imperfeições com as quais ele ficou caracterizado, justamente por ter ficado a mercê dos saberes: para a igreja profano, para a ciência um saber popular e não erudito, para a esquerda um saber alienado. Enfim o que eles tem em comum é que a experiência é o lugar que precisa ser controlada para ser levada a um lugar da razão pura.

.Proceder dessa forma busca uma experiência de ascese e de revelação, apresentando como conteúdo principal dessa revelação o que seria a via da verdade. Esta via entende o ser como sendo algo imutável, não exposto a desvios. A multiplicidade seria, portanto banida da efetivação do sentido humano, e o saber único e integrador deveria ser a única forma possível de se encontrar a noção de unidade. Fica entendido como impossível, segundo essa máxima, às construções de sentidos mundanos, pois pelo fato de atentarem para os dados empíricos, as informações dos sentidos, não chegariam ao desvelamento da verdade (aletheia) 2. O mundo passaria a ser uma oposição à vida. Nasce então uma forma de saber onde o conhecimento deve se dar fora da experiência humana. No anseio da busca de uma verdade fora do mundo, querendo uma certeza das coisas, tentava-se a exclusão das construções pelas vias experimentais das práticas cotidianas tidas como representações ou seja, uma forma segunda, cópia da matriz essencial, lugar de verdade das coisas. Criava-se uma devoção à certeza, contra a dúvida, à incerteza, lugar da experiência e da necessidade constante de construções de verdades ininterruptas, criava-se simultaneamente e literalmente uma dúvida perante um mundo que tinha como futuro a decadência, tida como vítima da experiência que só degenera esse mundo. Só a definição de um modelo único e fora dos saberes dos homens poderia ser possível a unidade do mundo, e isto só se daria dando descrédito às criações da experiência classificadas de forma inferiorizada como cópia da cópia ou representações humanas.

O sentido parmenidiano sobre o desvelamento do mundo tem alimentado muito do que se entende como sentido das coisas ou mais no nosso caso, o sentido histórico humano. Negando as condições das modalidades receptivas constituídas pela experiência e das formas de linguagens daí provindas, anula as formas subjetivadas e daí a instituição do sujeito e das utilizações dessas características que o exercitam. Negam sua estética de construir o real e de ser esta a forma de se instaurar no espaço das coisas e impede essa via do mundo. Nega à esta forma-sujeito seu status de leitor e de suas condições singulares que lhe garantem uma mutabilidade e conseqüentemente um lugar de diferenciações ininterruptas de apropriação do texto que lhe é apresentado.

1 O título deste trabalho é uma alusão a Parmênides que viveu no final do século VI e começo do século V a.C. sendo legislador em sua cidade natal, Eléia, deixou um poema, apresentando suas idéias filosóficas, em “... descreve uma experiência de ascese e de revelação; a primeira parte apresenta o conteúdo principal dessa revelação mostrando o que seria a ‘via da verdade’; a segunda parte caracteriza a ‘via da opinião’. A distnção fundamental entre os dois caminhos está em que, no primeiro, o homem se deixa conduzir apenas pela razão e é então levado à evidência de que ‘os mortais de duas cabeças’, pelo fato de atentarem para os dados empíricos, as informações dos sentidos, não chegariam ao desvelamento da verdade (aletheia) e à certeza, permanecendo no nível instável das opiniões e das covenções de linguagem. PESANHA, José Américo. Os Pré-socráticos. Col. Os pensadores. São Paulo: ed. Abril, 1999. P. 21”.

2 PESANHA, José Américo. Os Pré-socráticos. Col. Os pensadores. São Paulo: ed. Abril, 1999. P. 21.


*Odemar Leotti, é professor da UFMT, Campus de Rondonólis-MT, tem mestrado em História Social pela Unicamp e escreve nos blogs Deferenti e Poder Repensado .


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sábado, 12 de maio de 2007

TERROR EM SÃO PAULO E O SILÊNCIO OFICIAL

















UM ANO APÓS ATAQUES DE MAIO, MORTES AINDA NÃO FORAM ESCLARECIDAS E FAMÍLIAS CHORAM



Mãe sofre para conseguir que estado reconheça que filho não é indigente em atestado. Autoridades não sabem ao certo nem quantos morreram durante os primeiros ataques.


Um ano após os ataques que pararam São Paulo em maio de 2006, Maria da Luz da Silva ainda não conseguiu que o estado reconheça que seu filho não é um indigente, como consta em seu atestado de óbito. Maria Dinauci de Lima não sabe quem disparou os quatro tiros em seu marido, o cabeleireiro Lindomar Lino da Silva em 15 de maio. E a agente penitenciária M. tem medo ao lembrar dos 20 tiros que mataram Robson Cleiss, seu marido e colega de trabalho.

Vítimas da violência que marcou o período entre os dias 12 e 20 de maio, os três são parte das estatísticas do período - 493 pessoas foram mortas a tiro nos oito dias, de acordo com laudos dos 23 Institutos Médicos Legais do estado. O número reúne os mortos dos ataques de maio e da reação da polícia, além de casos não relacionados, como suicídios e latrocínios.

"Minha vida são meus filhos", diz mulher de policial morto e jovem continua desaparecido um ano após ataques.

Nem as autoridades sabem ao certo quantos dos mortos estavam, de fato, envolvidos no primeiro episódio da guerra urbana que se travou entre criminosos ligados à quadrilha que age a partir dos presídios de São Paulo e a polícia. Foi a primeira das três séries de ataques ocorridas em 2006 em São Paulo.

As estatísticas oficiais são incompletas. Na apresentação dos dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública (SSP) nesta quinta-feira (10), diante de seguidos questionamentos sobre as informações apresentadas, o secretário Ronaldo Marzagão não descartou uma revisão no levantamento.

Oficialmente, o estado considera que 140 pessoas morreram na primeira série de ataques, iniciada em 12 de maio de 2006. Destes, 92 são apontados como "criminosos" no documento. "Foram mortos em confronto com a polícia", explica Marzagão, que, questionado sobre o termo "criminosos", recuou. "O certo seria suspeitos."

Além das 140, o levantamento do estado aponta mais 114 mortes de autoria desconhecida na capital. Das 114, 11 foram esclarecidas e estão ligadas aos ataques. Quatro mortes foram causadas por dois policiais - um deles, autor de uma chacina, foi morto; o outro está preso. O estado diz não ter dados sobre mortes esclarecidas fora da capital.

Para Marzagão, os números são uma questão "micro", da qual ele não pode falar. "Eu cuido da macropolítica de segurança". O assessor de imprensa Enio Lucciola, responsável pela redação do levantamento, minimizou a discussão: "No fim é uma questão de semântica."


NÚMEROS

A questão de semântica é vista como um problema pelo Ministério Público, pela Ouvidoria da Polícia e pela Defensoria Pública. O número de mortos em supostos confrontos com as autoridades, e os poucos esclarecimentos um ano após os ataques, levantam suspeitas.

Um dia antes de Marzagão apresentar os dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP), o procurador-geral do Ministério Público, Rodrigo Pinho, classificou a demora de "falta de empenho" na apuração das mortes. O ouvidor Antonio Furani diz que há indícios de execução em boa parte dos casos e destaca que, de 88 mortes de autoria desconhecida, apenas oito foram solucionadas. E, por fim, a Defensoria diz ter provas da participação de policiais em execuções e tenta conseguir indenização do estado para a família de uma das vítimas.

Sobre as suspeitas de participação de policiais militares em execuções, o G1 procurou o corregedor da PM, José Paulo Menegucci, para ouvi-lo sobre as investigações internas na corporação. A Secretaria de Segurança Pública, no entanto, não atendeu à solicitação.


SECRETÁRIO DESCARTA NOVOS ATAQUES

Um ano após a onda de violência de maio, o secretário Marzagão descarta novos ataques articulados como os de 2006. Ele enfatiza que desde então a prioridade é o uso da inteligência no combate ao crime organizado e ressalta que, no primeiro trimestre de 2007, foram detidas 107 pessoas da quadrilha sem que um único tiro fosse disparado. O governo também sustenta que a estrutura financeira da organização foi desmontada com o combate ao tráfico de drogas e à lavagem de dinheiro do bando.

A certeza de Marzagão de que a quadrilha não voltará a aterrorizar a cidade como em 2006 é contestada pelo procurador-geral de Justiça, Rodrigo Pinho. “A organização criminosa continua atuante. Mas estamos fazendo o possível para desarticulá-la.” A violência, que, na opinião do então governador Cláudio Lembo (DEM), quase culminou em uma guerra civil em 2006, ainda é uma ameaça na avaliação do MP.

Nos presídios, de acordo com a Pastoral Carcerária, o crime organizado continua atuante e influente. Um presidiário perseguido por quadrilhas relatou ao G1 a ação dos criminosos no sistema prisional. Os agentes penitenciários ainda reclamam de falta de segurança. A categoria discute paralisações para chamar a atenção da sociedade para a situação.

A superlotação também continua sendo um problema - em dez anos, o número de presidiários praticamente dobrou (de 67.748 em 1997, a população carcerária do estado saltou para 137.107 em 2007) e as rebeliões continuam sendo uma constante.

Tentou-se ouvir o secretário de Administração Penitenciária, Antônio Ferreira Pinto, sobre a situação atual do sistema, mas sua assessoria não respondeu à solicitação. Assim como na SSP, o acesso público às informações oficiais é limitado. Recentemente, foram retirados do site da secretaria os números referentes à capacidade de cada presídio. De acordo com a assessoria, os dados estão sendo atualizados, após reformas nas unidades.


A pergunta que não cala é: o que as autoridades pensam que com o silêncio conseguirão esconder?


Veja vídeos dos ataques.


Fonte


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sexta-feira, 11 de maio de 2007

ENTREVISTA COM BOFF SOBRE A VINDA DO PAPA




O alemão Joseph Ratzinger, hoje papa Bento XVI, é um velho conhecido do teólogo Leonardo Boff. Em setembro de 1984, na condição de cardeal e prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - novo nome dado ao antigo tribunal da Inquisição -, Ratzinger conduziu o interrogatório que culminou com a condenação de Boff a um ano de "silêncio obsequioso", em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresentadas no livro "Igreja: Carisma e Poder".

À época, Boff foi obrigado a sentar-se na mesma cadeira que Galileu Galilei sentou 400 anos antes. E escutou de Ratzinger as seguintes palavras: "Eu conheço o Brasil, aquilo que vocês fazem nas Comunidades Eclesiais de Base não é verdade, o Brasil não tem a pobreza que vocês imaginam, isso é a construção da leitura sociológica, ideológica, que a vertente marxista faz. Vocês estão transformando as Comunidades Eclesiais de Base em células marxistas".

Dom Paulo Evaristo Arns, que acompanhava Boff no tribunal, retrucou no momento apropriado. Referindo-se a um documento que, havia saído três dias antes, condenando a Teologia da Libertação, disse: "Cardeal Ratzinger, lemos o documento e ele é muito ruim. Não o aceitamos porque não vemos os nossos teólogos dizendo e pensando o que o senhor diz da Teologia da Libertação. Se quero construir uma ponte, chamo um engenheiro, e o senhor, para construir a ponte, chamou um gramático, que não entende nada de engenharia".

Mais de 20 anos após o encontro entre os dois no salão do Santo Ofício, no Vaticano, Leonardo Boff discorre em entrevista sobre quais seriam as reais razões que trazem - o agora - papa Bento XVI ao Brasil. Apesar do tempo, as motivações de Ratzinger, na opinião de Boff, continuam a ser as mesmas da época de sua condenação.


Brasil de Fato - Na realidade, por detrás do discurso oficial, em sua opinião, por que Ratzinger vem ao Brasil nesse exato momento?

Leonardo Boff - Com ou sem o papa aconteceria a 5ª Conferência dos Bispos Latino-Americanos que se realiza a cada dez anos. A reunião iria se realizar em Quito, no Equador. Mas quando o atual papa soube da espantosa emigração de católicos que ocorre cada ano rumo a outras denominações evangélicas de cunho carismático e popular decidiu fazer a reunião no Brasil. Seguramente, a intenção é sustar esta sangria no corpo católico. Talvez chegue a acusar o engajamento dos cristãos em questões políticas e sociais, como a principal causa desta emigração católica. Mas esta explicação representaria falta de auto-crítica. Onde há igrejas engajadas como em São Paulo a saída é bem menor do que onde está ausente esta dimensão como é o caso claro do Rio de Janeiro. Nesta Igreja, as Comunidades Eclesiais de Base foram perseguidas e os teólogos da libertação proibidos de qualquer atividade. Impôs-se uma Igreja rígida com os dois ouvidos voltados para Roma e longe dos miseráveis. Eu falei na diocese do papa em Roma, perto do Vaticano, mas nunca pude dar uma palestra sequer, em 20 anos de atividade teológica, no Rio de Janeiro, por causa da pronta proibição de dom Eugênio, hoje já aposentado. A causa principal da saída dos católicos é a falta de inovação no seio da Igreja, é a rigidez dogmática de seus ensinamentos, é a falta de bom senso nas questões de moral e de sexualidade onde ela mostra um rosto cruel e sem piedade, é a proibição de se fazer qualquer criação no campo litúrgico, mesmo em se tratando de culturas diferentes como aquela dos indígenas e dos afro-descendentes. A maioria dos católicos não está mais sentindo sua igreja como um lar espiritual. Ou sofre e tolera com dor a mediocrização a que todos estão submetidos ou simplesmente abandona a Igreja. O papa deve enfrentar-se com esta questão. Temo que siga o caminho mais fácil de culpabilizar os outros e não fazer auto-crítica sobre o tipo de presença que a Igreja está tendo na sociedade.


Brasil de Fato - O senhor acredita que Ratzinger irá aproveitar o simbólico 13 de maio - por coincidência mesmo dia em que João Paulo II sofreu o atentado em 1982 e dia de Nossa Senhora de Fátima para anunciar a beatificação de João Paulo II em Aparecida?

Boff - Não creio que fará aqui a beatificação de João Paulo II. Ele é um santo para os europeus, italianos, poloneses e os movimentos conservadores que sempre bajularam o papa. Lá é o ambiente adequado para a sua beatificação e santificação. Nós não contamos muito para o Vaticano, pois somos periféricos. Querem que cresçamos, mas desde que sempre submissos aos ditames emanados de Roma. Quer dizer, nos querem cristãmente colonizados e neocolonizados.


Brasil de Fato - Sobre as declarações de dom Odilo Scherer de que a "Teologia da Libertação já passou". O que o senhor teria a dizer a ele?

Boff - Suas declarações mostram o nível de desinformação e alienação que esse arcebispo tem a respeito das coisas internas da própria Igreja que ele, por profissão, deveria conhecer. Os teólogos da libertação que eram e são maioria no Brasil estão ainda vivos, produzem teologia e não se tem notícia que se tenham reconvertido à uma teologia distanciada do povo e da caminhada das comunidades. A Teologia da Libertação nasceu ouvindo o grito dos pobres e excluídos. Esses aumentaram no mundo inteiro. Bom seria se não existissem mais. Mas seu grito virou clamor. É o que faz com que a Teologia da Libertação mantenha vigência e continue pensando a partir dos crucificados para que possam ressuscitar. Se com o desaparecimento da Teologia da Libertação, como pensa o arcebispo de São Paulo, tivessem desaparecido também os pobres e os excluídos, então ele seria um sério candidato a prêmio Nobel de Economia. Conseguiu o feito messiânico de libertar a Terra de todos os filhos e filhas condenados e junto com isso libertado a Igreja da Teologia da Libertação.


Fonte: Brasil de Fato


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quinta-feira, 10 de maio de 2007

OS INTELECTUAIS E O PODER


OS INTELECTUAIS E O PODER




por Odemar Leotti*


Quando você abrir este link "A revolução não será televisionada" , verá que os sujeitados estão saturados de dar ouvidos às cantilenas da esquerda e da direita, pois já se ferraram a torto e a direita. Tudo o que está acontecendo, iria acontecer de forma inevitável, pois tudo que foi construído como caminho da salvação, não passou de fábulas modernas que estão morrendo dentro de suas próprias limitações. O que parece moderno vem desde a antiguidade. Desde o surgimento dos filósofos na Grécia, é que surgiu essa forma de dizer que tudo que se produz no âmbito do povo é considerado como sem sentido do verdadeiro. Com isso se formaram duas formas de pensar no ocidente atravessadas pelo pensamento platônico, que elege a essência como lugar original da verdade sobre as coisas em detrimento do mundo que ficou considerado como lugar das opiniões que impedem o homem de tocar a grande Razão Verdadeira. O pensamento ocidental moderno, respeitando sua complexidade, se fundou nesse paradigma da morte. Mas os habitantes da caverna, nem por isso perderam suas características se subjetivarem. O mundo depende da linguagem, da qual dependemos para constituir nosso sentido sobre as coisas e daí constituir nossa cultura, ou seja, nosso sentido de pertencimento no mundo. Cada cultura, em cada contingência espacial e temporal, necessitou de construir suas formas de habitar instituindo o espaço geográfico em espaço discursivo. Mas os filósofos, no ocidente, que viviam também na caverna e esqueceram disso, construíram um arquétipo de mundo onde as configurações de sentidos só teriam valor se anulasse o poder do povo de pensar por si. A partir do movimento iluminista, reinicia-se todo esse esquema, agora nos moldes modernos, que irá se concretizar com os revolucionários franceses. Imbuídos desses sentidos ascéticos, depositaram suas construções, entendendo que o poder se instituiria para todos a partir de sua localização no Estado Liberal, forma pela qual se “consolidou”. Entendendo que o poder estaria localizado unicamente no Estado, os intelectuais constituíram um esquema de poder jurídico e começaram a falar em nome dos que não tinham direito à sua expressão, e que ficavam sob sua custódia. Só não explicaram foi que ao se intitularem vanguarda intelectual negaram àqueles não considerados como tal o direito a falar em seu próprio nome. A esquerda não ficou imune a tudo isso. Temos o exemplo da União Soviética, que teve sus soviets, que em língua portuguesa quer dizer comitês populares, que derrubaram os senhores do poder russo, foram gradativamente destituídos de seus coordenadores e colocados em seus lugares a vanguarda intelectual bolchevique, com a argumentação platônica que entende o intelectual, tal qual os filósofos gregos, como aquele que tem a luz e que vê mais à frente que um pobre diabo que não teve os estudos da tais de teorias. O que resultou de tudo isto foi a frustração dos trabalhadores de Petrogrado, que ao sentirem traídos, tentaram remontar os soviets, contra os tidos como comunistas e camaradas. Qual foi o resultado: massacre de mais de dez mil trabalhadores pelos fuzis e canhões do Exército Vermelho. Assim que os trabalhadores tomaram o poder das mãos dos senhores capitalistas as fábricas, ao invés do desejo de Alessandra Kolontai, de que elas fossem para o comando dos soviests, passaram para as mãos do gerenciamento “científico”, inspirado em Frederic Taylor, que instituiu o Taylorismo, base metodológica da segunda fase da Revolução Industrial. É claro que aparecerão várias justificativas contra o que ora falo, mas não poderão desmentir que a economia da União Soviética até a década de 50, tinha 30% de seus rendimentos produzidos pelos presos políticos nos famosos Gulags. E só para matar a curiosidade: de onde surgiram os neo-empresários da atual Rússia capitalista?


Portanto, quando os sujeitados a esse esquema resolverem a pensar por si, todo esse poder frágil que depende da coação para sobreviver irá ruir. Aprendamos um pouco com dois mestres dessa forma de ver, que são Michel Foucault e Gilles Deleuze. Em suas conversações, publicada na obra Ditos &Escritos, Deleuze e Foucault, expressam suas análises sobre a fragilidade do Sistema, a inoperância dos intelectuais e de suas teorias a hipocrisia das chamadas reformas e as ações revolucionárias dos homens ordinários. Por homens ordinários aqui entendamos aqueles que sempre foram considerados como não possuidores de valor teórico e portanto condenados por um saber abusivo a não terem direito à expressão e com isso a não participarem como artífices das tramas de seus destinos, depositando tudo nas mãos dos que se intitulam seus representantes.


Para Foucault e Deleuze, nosso sistema, por ser constituído nessa forma paradigmática, tal qual nossas explicações anteriores, que não exclui o modelo tido como liberal capitalista e hoje neoliberal, instituiu uma forma de poder jurídico, que para poder sobreviver, necessitou de construir uns saberes disciplinadores, que está materializado no modelo educacional e no sistema de controle policial que foi embutido em cada um, mas que aos poucos vai ruindo e se formando de maneira fora do controle. Parafraseando o dramaturgo Antonin Artaud, que viveu seu apogeu intelectual na década de 30, na França, diria que quando as coisas não são significadas com a participação de todos com fins do bem de toda a comunidade e feito pela comunidade, essas coisas voltam contra seus demiurgos com violência sem tamanho. É que a forma descarnada com que se produziu nosso saber, onde se fala tanto em modernidade, cibernética, robotização, falta tanto a vida, tanto a vida para aqueles que não tem acesso às condições básicas de sobrevivência quanto àqueles que mesmo tendo, morrem pela solidão e pela pobreza de sentido de suas vidas, como seres pensantes, ou morrem no sinaleiro, ou seqüestrados ou um monte de coisas mais. Para Deleuze, na verdade, esse sistema em que vivemos não pode suportar nada: daí sua fragilidade radical em cada ponto, ao mesmo tempo que sua força de repressão global.


Quando aqueles que não encontravam espaço para falarem por si começam a construir suas formas a ferro e fogo, podem finalmente falar por si. Aí o sistema rui por si. Foucault denuncia a indignidade do falar em nome dos outros, ou melhor, da inutilidade das representações daqueles que se intitulam como delegado para falar, para mudar leis, para operar reformas. Para ele isso não passa de hipocrisia, pois não ultrapassa os limites dos “arranjos do poder, uma distribuição de poder que se dupliciza por uma repressão aumentada”; quando os desvalidos, tanto pela esquerda, quanto pela direita, que se lambuzam na farra dos aumentos abusivos de salário, resolvem pensar por si, transformam o que era para ser uma reforma reclamada, “exigida por aqueles a quem ela concerne, e ela cessa de ser uma reforma: é uma ação revolucionária que, do fundo de seu parcial, está determinada a pôr em questão a totalidade do poder e sua hierarquia.” [DELEUZE, 40]


Para Deleuze poderíamos chamar essa forma de poder construído para a maioria sem direito a expressão, de um “poder delirante”. Esse tipo nefasto de poder “é o que aparece como em nome das custodiados pelos ditos representantes, mas que nos bastidores pode se ver que está apenas presos nos limites do arranjo de um poder” dos que não se preocupam com a tragédia nacional. Como diria Cazuza, atendidos pelos que os odeiam. Portanto o que seria esse poder delirante? “O que se faz em nome do sistema, impondo àqueles que estão sob sua custódia, operações insidiosas e absurdas ou as manifestações daqueles que já não suportando tanta tripudiações, lançam-se a falar e a gritar denunciando seus sofrimentos?”. Será que os integrantes de uma sociedade escutam tudo sobre o que acontece e que se arquitetam sobre eles? Ou será que se contentam e vêem como totalidade as reduzidas informações que chegam aos seus ouvidos? Aquilo que não serve ao rebanho não pode chegar aos seus ouvidos. Se assim fosse, os fariam ver que as ovelhas não se desgarram por si e sim por não se afinarem com os discursos de lobos metamorfoseados em cães mansos? Mas os saberes não são somente o que vem de fora. Saber se produz, e transforma as coisas a partir de novos significados. Esses por sua vez se produzem a partir da crueza violenta que o texto-mundo se apresenta. Não podemos esperar daí, que a maioria vá mandar rosas para seus agressores, né! O que aconteceria se todos os segmentos considerados sem direito a voz como as crianças, as mulheres, os favelados, os presos, os loucos, os velhos, começassem a falar por si sem serem representados por aqueles que se investem como seus interlocutores, aqueles que se arrogam teoricamente fundamentados por uma teoria que não serve nem mesmo a si e muito menos aos que consideram seus representados?


Rebelar contra um poder pueril e arcaico, conforme o conceitua Foucault. É isso o que foi oferecido àqueles que ficaram sob a custódia dos intelectuais de esquerda e direita. Para Foucault: “O que choca nessa história é não somente a puerilidade do exercício do poder, mas também o cinismo com o qual ele se exerce como poder, sob a forma mais arcaica, a mais pueril, a mais infantil. Reduzir alguém a pão e água, enfim, nos ensinam isso quando se é garoto”. Para esse formidável pensador. “...o poder não se esconde, não se mascara, se mostra como tirania levada aos mais ínfimos detalhes, cinicamente ele próprio; ao mesmo tempo, ele é puro, ele está inteiramente ‘justificado’, já que ele pode se formular inteiramente no interior de uma moral que enquadra seu exercício: sua tirania bruta aparece então como dominação serena do Bem sobre o Mal, da ordem sobre a desordem.”. portanto chega do moralismo na análise dos acontecimentos de hoje. Acordemos enquanto é tempo.


*Odemar Leotti, é professor da UFMT, Campus de Rondonólis-MT, tem mestrado em História Social pela Unicamp e escreve nos blogs Deferenti e Poder Repensado .


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terça-feira, 8 de maio de 2007

AS CRUZES DA VILA CRUZEIRO


AS CRUZES DA VILA CRUZEIRO




por Paulo da Vida Athos


Quando diante do saldo de sangue de 30 feridos e 6 mortos, a maioria absoluta e esmagadora de inocentes, o comandante-geral da PM, coronel Ubiratan Ângelo avalia positivamente a ocupação que já dura uma semana na Vila Cruzeiro, na Penha, subúrbio do Rio, existe algo insano no ar.

Apesar da insanidade de uma operação de guerra onde a área de conflito é nada mais nada menos que uma área residencial, na verdade um gueto povoado pelos excluídos da justiça social, sua senhoria acha que o saldo é positivo.

O assassinato covarde e frio de dois policiais militares deram início a essa campanha militar que já dura uma semana e mais de três dezenas de vidas (afinal, não é preciso morrer para se sentir com a vida atingida). Para alguns é como um jogo: se mataram dois, temos que matar no mínimo quatro. Ocorre que o campo é uma comunidade que sempre foi abandonada à própria sorte e que só é lembrada pelo Estado para a prática desses jogos de guerra em que o saldo de sangue, invariavelmente, é composto quase que em sua totalidade, de civis inocentes.

O ponto principal sobre a ineficiência dessas invasões que gera esse número absurdo de feridos e mortos que não têm nada a ver com a questão, está diretamente relacionado da natureza militarizada da instituição invasora. A mais convincente prova está na prisão de Elias Maluco, aquele que comandou a morte do jornalista Tim Lopes, naquele mesmo local.

A atuação da polícia civil não foi esse desastre e essa falta de respeito para com a vida de cidadãos de bem (vez que a favela é isso mesmo, composta de pobres, mas cidadãos de bem, trabalhadores em sua maioria, maioria essa que é composta por mais de 98% de seus moradores). O que me deixa indignado é a omissão da sociedade diante dessa insensatez. Mais que omissão, vejo-a legitimando essas ações de guerra contra milhares de pessoas, e não apenas a sociedade. A mídia também. Mas da mídia nada mais estranho, serva da elite que é e sempre foi, tem mais que ser usada contra o povo já que tal faz parte de sua história e sociologicamente é esse um de seus papéis.

Ainda ontem via nos jornais, na boca do povo e na internet a ira santa de todos contra o que os israelenses fizeram no Líbano. Ainda hoje vejo a mídia em críticas à demente invasão ao Iraque. Até passeatas em protesto vi brasileiros se colocarem contra aqueles crimes pelas ruas do Rio, de São Paulo, de Brasília e outras capitais. Mas santo de casa não faz milagre e não importa muito se a matança na Vila Cruzeiro vai aumentar ainda mais o número de mortos e feridos nessas escaramuças que envolve policiais e bandidos pelas ruas do Rio.

Para quem não sabe, em todo o ano passado, 144 policiais militares foram mortos no Rio, e o Relatório “Bala Perdida”, elaborado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, “constatou que 224 pessoas foram vítimas de balas perdidas em 2006, de acordo com os Registros de Ocorrências das Delegacias Policiais do Estado. Do total, 19 foram vítimas fatais”.

“O perfil levantado pelo estudo revela que, das vítimas fatais, 13 eram do sexo masculino e, na sua maioria, jovens e adultos com 18 anos ou mais. Os dados indicam ainda que a capital do Rio de Janeiro registrou o maior índice de vítimas de bala perdida: 17 fatais e 169 não fatais. Em seguida, vem a Baixada Fluminense com duas vítimas fatais e 18 não fatais”.

“O estudo divulgou também dados do mês de janeiro de 2007. Foram constatadas 31 vítimas de bala perdida, sendo três delas fatais. Todas mencionadas eram do sexo masculino - uma criança, um adolescente e um adulto - e foram mortos em via pública”.

Inovando, a nossa gloriosa policia militar, tal como os israelenses fazem na faixa de gaza, está dinamitando “redutos do inimigo”. Talvez isso agrade a alguns insanos que estejam considerando tal ato como uma forma de fazer “remoção de favelas”. Vai que a onda pegue...

Sua senhoria ainda nos fez o favor de nos brindar com esse primor: “-Esse final de semana nós demos um presente aos moradores da Vila Cruzeiro que é devolver os espaços urbanos para que o serviço público possa voltar lá. Vamos permanecer na favela e alcançar os algozes do BOPE, vamos acabar com o tráfico de drogas.”

Podemos até acreditar que matarão os assassinos dos infelizes policiais militares que perderam suas vidas nessa política burra de nossa segurança pública. Mas acabar com o tráfico? Isso é fazer pouco caso da inteligência do povo. O povo pode ser omisso. Mas não é burro.

A sociedade brasileira em geral, e a carioca em especial, não pode e nem deve ser solidária, através do silêncio, nesse compromisso inominável de tolerância e apoio tácito a essas mortes, a essas invasões. Seria cretino tentar se enganar achando que esses feridos e mortos são criminosos. Desse número de mortos e feridos na Vila Cruzeiro: apenas um ferido e um morto eram bandidos. Os demais, assim como os policiais, inocentes! Aceitar isso é consagrar a idiotice de que nossa política de segurança é uma maravilha. Não é! Segurança Pública que não se faz com inteligência e tecnologia é burrice e o resultado é chacina!

A Democracia será sempre uma quimera, uma ilusão idiota, se a cidadania é por qualquer forma vilipendiada. Continuar nesse caminho é abrir as portas para uma prática que nunca nos abandonou: os porões e as torturas.

Não está longe esse horizonte. As chacinas já estão de volta.

Nas guerras, senhoras e senhores, não há democracia. Existe apenas, a vontade do vencedor.


Então nós, assim como a Vila Cruzeiro, estaremos sem voz...


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sábado, 5 de maio de 2007

O AMOR NÃO MORRE


O AMOR NÃO MORRE




por Paulo da Vida Athos.




O amor não morre.

É como nuvem que se renova após a estia, é como flores que retornam com a primavera.

Ao assistirmos o agonizar de um grande amor, independente da razão que o provocou, somos inclinados a aceitar que nossa felicidade também feneceu com ele e que não existe mais razão para se estar vivendo.

Tolos, nós somos. Tolos e imaturos por pensarmos assim. Não foi o amor quem morreu. O amor não morre. Morreu uma razão de amar, apenas.

Assim como more um cravo.

Assim como uma nuvem condensada se transforma em chuva e se desfaz.

Porém, essa mesma chuva que caiu se transmudará em nuvem, um dia, e a queda do cravo não implica na destruição da raiz que o gerou.

Nosso coração é como um sol.

Com seu calor podemos secar as lágrimas, suavemente, em lenta evaporação, compondo uma nova nuvem interior.

Nosso coração é também o solo onde nossa sensibilidade aprofunda suas raízes em busca de seiva para novas flores.

Por quê chorar, então?

Não há razão...

Bom é o terreno úmido que facilita o trabalho do sol na formação de novas nuvens.

Sem chuvas não há colheitas.

A queda da flor é razão de força para o botão que irá desabrochar.

O amor não morre...

Crer na morte do amor é crer na morte da vida e a vida é imperecível.

O amor é o vôo Fênix no céu interior de cada um de nós.

É renascença.

É eternidade.

Lembre-se de seu primeiro amor.

Lembre-se de todos os amores que você viveu até que essas últimas lágrimas fluíssem de seus olhos.

Lembre-se da importância que tiveram em cada fase de sua vida.

Lembre-se de que antes dele vieram muitos e que muitos outros virão depois... amanhã... hoje mesmo, talvez.

E não esqueça que, afinal...

- Você é o Amor!



Rio de Janeiro, junho de 1974.


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