RIO, 30 de agosto de 2009 - Na conversa interceptada em escuta telefônica, o cabo da PM Denílson Custódio de Souza agradece à promotora Beatriz Leal de Oliveira o dinheiro recebido durante visita ao Batalhão Especial Prisional (BEP), em Benfica, onde ele está preso acusado de assassinato. Por 45 dias, a Polícia Civil monitorou as ligações do policial militar, o que revelou o envolvimento da representante do Ministério Público em um esquema para acobertar crimes, entre eles execuções, praticados por PMs, em Cachoeiras de Macacu. O caso está sendo investigado por representantes do Ministério Público e do Tribunal de Justiça (TJ) do Rio. Quem conta é o repórter Sérgio Ramalho, em reportagem do jornal O GLOBO.
Em pouco mais de um mês, o PM e a promotora trocaram 32 telefonemas. Nos diálogos, Beatriz Leal dá orientações jurídicas a Denílson, oferece dinheiro, afirma estar acompanhando no TJ a movimentação do habeas corpus impetrado para solicitar sua libertação, recomenda a troca constante dos celulares para evitar escutas e até faz planos para comemorar o resultado do julgamento do recurso numa churrascaria.
O envolvimento da promotora na proteção de crimes praticados por PMs, entre eles integrantes do Grupo de Apoio aos Promotores (GAP), foi constatada na investigação da 159 DP (Cachoeiras de Macacu) sobre a morte da testemunha Bruno Barreto Raposo, em janeiro de 2008. Meses antes de ser executado, ele havia apontado em depoimento o PM Delton Belmont Pereira e Heverton Falcão da Rocha como responsáveis pelo assassinato de Leandro Melo da Silva, em fevereiro do ano anterior.
Na ocasião, a promotora opinou em inquérito contra a decretação da prisão dos dois suspeitos, desacreditou o depoimento de Bruno e afirmou que ele não corria qualquer risco para justificar as detenções de Delton e Heverton. Após a morte da testemunha, policiais do GAP que trabalham com Beatriz Leal apresentaram Antônio Peçanha Torres como autor do crime, contrariando a linha de investigação da delegacia local. A versão, contudo, foi classificada de "farsa" e o suposto autor apresentado pelos PMs como "bucha"(bode expiatório) em relatório do promotor Giuliano Sete, que assumiu o caso após Beatriz Leal ter se dado como suspeita.
A iniciativa de se afastar da investigação, no entanto, só foi tomada pela promotora após ter dois procedimentos questionados por juízes da região, que encaminharam ao procurador-geral de Justiça pareceres contrários às decisões de Beatriz Leal. Somado a isso, parentes de vítimas do "grupo de extermínio formado por PMs" - como descreve o relatório da investigação - prestaram depoimentos na corregedoria do MP, acusando a promotora de acobertar crimes praticados pelos policiais.
Fonte: O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário