A TV na Ditadura Militar
À época, estavam no ar as Redes Tupi – que sairia do ar em 1980 – e a Excelsior – que teve o mesmo destino dez anos antes –, Record e Cultura, que estão no ar até hoje. A Rede Globo, até hoje acusada de ter financiado e dado espaço à ditadura, entrou no ar em abril de 1965.
Com exceção da segunda, todas as outras emissoras ajudaram o regime. A família Simonsen, proprietária da Excelsior tinha ligações com João Goulart, o Jango, presidente deposto pelo Regime Militar, bem como com outros opositores. O governo cassou concessões de linhas aéreas da empresa Panair, então a maior do Brasil. Perseguida, saiu do ar definitivamente em outubro de 1970. Durante os 21 anos de ditadura, era preciso “dançar conforme a música”. Caso contrário, quem pleiteasse um canal, não o ganharia. E quem tivesse uma concessão, perderia.
A Globo é um caso à parte. Cinco anos após entrar no ar, já em 1970, era líder absoluta de audiência. A emissora dos Marinho conquistou o espaço deixado pela Excelsior, além de ter recebido a quantia de US$ 5 milhões do Grupo Time Life, para a compra de equipamentos novos, e modernos para a época.
De acordo com o livro Muito Além do Jardim Botânico, de Carlos Eduardo Lins da Silva, um dos grandes responsáveis pela liderança de audiência da Globo foi Walter Clark, que entre outras coisas, criou o chamado ‘sanduíche’ na programação, onde entre duas novelas, já na época o estilo de programa mais popular, deveria haver um jornal, neste caso o Jornal Nacional, que entrou no ar em 1º de setembro de 1969. Para garantir o Ibope, a novela das 19h tinha um estilo bem leve, quase cômico, e o das 20h, dramático. Estratégia perfeita, e que se mantém até hoje.
Também foram contratados nomes como Abelardo Barbosa, o Chacrinha e Dercy Gonçalves para atrair rapidamente a audiência do público. Silvio Santos – que já estava no ar desde 1962 na TV Paulista, comprada pela Rede – foi mantido no ar aos domingos.
Para Clark, não bastava ser líder de audiência. Era preciso criar o hábito de assistir a Globo. Coincidentemente, o JN estreou no período de maior endurecimento do Regime Militar, em 1969. O Ministério das Comunicações foi criado neste mesmo ano. O que interessava à ditadura era a chamada “Integração Nacional”. O JN foi o primeiro transmitido em rede. O tom formal e frio, com informações que interessavam diretamente ao regime, deu ao jornal o apelido de “porta-voz da ditadura”. Uma declaração do então presidente Emílio Garrastazu Médici – campeão do poder do regime sobre a sociedade – deu o tom do que era o JN.
“Sinto-me feliz, todas as noites, quando ligo a TV para ler o jornal. Enquanto as notícias dão conta de greves, agitações, atentados e conflitos, em várias partes do mundo, o Brasil marcha em paz, rumo ao desenvolvimento. É como se eu tomasse um tranqüilizante, após um dia de trabalho.”
Fonte: Na telinha
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