sábado, 31 de outubro de 2015

Pobreza

Pobreza


Então é assim, 
arrasta-te feito correntes reverberando tuas 
lamentações
que vão batendo de porta em porta 
pela ruas da cidade,
a suplicar piedade,
a expor vergonhosamente tuas chagas
regadas por lágrimas que quase não mais tens.

Tornaste-te um farrapo, dizes, 
em nome do amor,
um amor inexprimível, fantástico, 
jamais sentido ou devotado,
quase humanamente impossível,
não fosse, tu mesmo, 
o decreto que afirma essa humanidade:
tolo, arrogante, presunçoso.

Não!  Nunca destes o sentimento mais bonito!
Nunca destes, nada!

Não tens o amor.
O amor nunca se dá.
Ele não é possuído
e se nega possuir.

O amor, é.
Não és o amor.
Muito menos é o amor a pessoa amada.

O amor está, 
ou pelo menos deveria estar,
em ti.

Mas, como estaria se nem por ti sentes amor?

Andas assim aos pedaços, 
a vender uma alegoria em cada porta,
a envergonhar o amor nas esquinas
de teu mundo interior,
em prática de estelionato.

Não amas!  
Não podes dar amor.

Não tens amor por ti
e ninguém pode dar o que não tem...


(Paulo da Vida Athos)






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