segunda-feira, 30 de abril de 2007

SER POETA



















SER POETA

por Paulo da Vida Athos.

Ser poeta é sacudir as dores com sonhos, lançando-as fora da memória, adormecendo em festa e despertando em devaneio, concluindo que a dor faz parte da vida;

É imaginar o som dos pingos de chuva cancionando nas telhas, mesmo quando se vive numa selva de concreto e aço, de onde foram banidos os telhados antigos, mesmo diante de um dia de sol;

É um crer constante, mesmo quando tudo não nos leva a ter esperança alguma, mesmo quando um completo ruir nos envolve, ou quando o desespero ronda a nossa vida;

É atravessar a vida sem esconder o sorriso ou a lágrima, sem se arrepender do momento vivido, seja ele de amor ou tristeza;

É navegar no azul do céu mesmo quando a chuva cai e mesmo até quando lágrimas turvarem nossa visão;

É brindar com um sorriso o sorriso da alvorada e não pensar em chorar quando viver um pôr-do-sol;

É gostar da chuva repentina que nos surpreende em plena rua e do vento que nos desmancha os cabelos, pois tanto uma quanto o outro, não repetem o mesmo percurso duas vezes;

É se sentir criança, é sentir juventude independente de qualquer idade, redescobrindo mistérios de gnomos e fadas, ocultos em nossa lembrança;

É vislumbrar a luz e as cores, mesmo imerso em trevas, mesmo desterrados de ambas, como os cegos fazem;

É sentir alegria ao voltar para casa e não sentir tristeza quando não tiver uma casa para voltar;

É um agradecer constante à Vida, sem quase nada pedir, concluindo que temos muito mais do que poderemos, humanamente, viver;

É sentir felicidade ao voltar para casa, e não sentir tristeza quando não tiver uma casa para voltar;

É viver!, aceitando a vida como ela é, sem se esconder como muitos fazem, porque nossa vida é uma vida só, impreterivelmente uma, irrecorrivelmente única, e, se perdermos tempo em tentar modificá-la, há de chegar o tempo em que não teremos tempo para nos arrependermos dessa tola presunção;

É ter ciência de que a Vida é passageira do trem do Tempo.

Um trem que não para nas estações...




Foto: Mário Eloy - Poeta -1938 Museu do Chiado

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