Sou filho de um momento terno entre a Terra e o Sol, amante da Vida e da Poesia e afilhado do Tempo. O Amor é meu companheiro de viagem, junto com a Indignação. Tenho ao meu lado, como guia a Liberdade. O mundo é um caminho regido pelo Destino e sustentado pela Eternidade, por onde ando e encontro pessoas e mestres e em cada dia que passa uma nova lição. Sou aquele a quem a Vida ama e que ama a Liberdade. Paulo da Vida Athos
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Não tente mudar seu amor...
Minha amiga,
Que posso desejar na vida de uma mulher-menina, que não seja amor, muito amor?
Sim, é isso! Que sejam dias e meses de amor todo o novo tempo que breve será inaugurado em sua vida; que esse novo ano tenha um nome: amor.
E que você viva esse amor, de forma vívida e farta, e que dele não se farte nunca e que ele jamais lhe falte.
E, não tente mudar nada.
Ao tentarmos mudar o objeto de nosso amor, ele deixa de ser o que o nosso amor amou e então pode ser desamado, independente de nossa vontade.
Faça isso. A passagem do tempo não muda o amor.
Nós o fazemos.
E, nem sempre é o melhor...
Beijos!
terça-feira, 29 de dezembro de 2009
VIVER NÃO É PRECISO...
“Viver não é preciso...”
Na verdade, a ausência é apenas de mim, não de meus sonhos ou de seus sonhos que são onipresentes em nós e tem a imortalidade que transcende o tempo que usamos da eternidade. Com um detalhe, quando realizados, os sonhos deixam de ser sonhos e tem sua morte decretada apenas por ela, pela realização, e passam a freqüentar a vida.
Ao passarem a esse estágio, não mais nos pertencem nem a eles pertencemos. Eles pertencem a todos que sonharam juntos sua realização. Nós passamos a abrigar novos sonhos que se aninham em nosso espírito e nos arregimentam para novas auroras que se desfraldam como bandeiras no amanhã.
Sim, minha amiga, temos os pés no presente mas nosso coração e nossa mente estão no futuro. Assim que o cansaço nos alcançar, passaremos o bastão que nos entregaram no ontem e eles continuarão, sempre num tempo futuro, a pavimentar uma estrada que conduz a um amanhã onde não haverá fome nem guerra, nem prisões nem desigualdades, em que o paraíso prometido será aqui mesmo, onde haverá harmonia entre a humanidade consigo mesma e a natureza: a comunhão entre o homem e o divino no homem, e assim vivermos o que bem traduziu suas palavras, não um pais, mas um mundo “mais fraterno, mais lúcido, mais solidário, mais consciente”.
Para tanto é necessário que continuemos “persistentes sonhadores” exercendo “o direito lícito e legal de acreditarmos que a harmonia seja possível”, como você disse.
E, como disse Pessoa: “- Viver não é preciso...”
Beijos.
Paulo da Vida Athos
Unidade de Polícia Pacificadora, UPP : um facho de luz em 2009
Um facho de luz em 2009, para 2010... 11... 12... 13...
O ano de 2009 vai se esvaindo no céu do tempo, é seu ocaso. Não sinto muito orgulho da história que escrevemos nele. A humanidade tem muito pouco para sentir orgulho do legado que a 2009 emprestamos. Sim, nós o fizemos. Nós escrevemos a história que nele inserimos, na página de cada dia, compondo coletivamente os títulos e subtítulos, as semanas e os meses, de mais um tomo da história que nós, independente de credo e de raça, quer por ação, quer por omissão, escrevemos juntos.
Fica muito fácil culpar o ano que finda, que não pode se defender, por todas as culpas do homem. Mas o ano nada faz que obedecer a marcha do tempo, com todas as suas estações, desde o tempo em que não nos preocupávamos com a camada de ozônio e Copenhagen era, na minha infância, sinônimo do melhor chocolate que existia. Essa marcha é marcada ora pelo homem através de sua atuação no mundo exterior, no ambiente em que vive, alterando-o ora para melhor ora para pior; ou pela própria natureza ora em seu curso normal, ora rebelando-se contra a ação do homem. O resutado dessa atuação humana que repercute na vida do planeta e de cada um de nós, chama-se fato.
Para muitos o fato mais marcante de 2009 foi a morte de Michael Jackson. Foi realmente marcante. Ele era especial. Com sua música e sua dança fez do mundo um grande palco e, da vida, um show que durou toda sua existência, entre sombras e luzes, fumaça de gelo-seco e megawatts, entre drogas e sonhos, até que de um desses últimos não conseguiu despertar.
Muitos outros fatos dividem a opinião de todos: a nova gripe H1N1, as enchentes no Brasil, a tragédia com o 447 da Air France, o indizível Prêmio Nobel da Paz para Barack Obama, o tsunami na Oceania, o Rio eleito sede das Olimpíadas 2016, a crise econômica mundial, o helicóptero da polícia abatido no Rio, a revelação de que a polícia do Rio de Janeiro é a que mais mata do mundo, ou que as balas perdidas são o pesadelo maior do carioca.
Esse negócio da bala perdida e realmente terrível. Pior: corriqueiro. Tanto que a rotina colocou seus registros quase que no roda-pé dos noticiários... e isso quando são mencionados. Lembro bem como começou a ceifar vidas em 2009. Muitos nem se lembram que foi justamente no Réveillon passado que Irani Pereira da Silva foi atingida na cabeça, dentro de casa, em Costa Barros, um subúrbio do Rio, perdendo a vida. Aliás, só na festa da virada na Praia de Copacabana foram registrados cinco feridos no início de 2009.
Quanto a violência policial, dados do ISP indicaram que nos últimos 10 anos foram mais de 10 mil mortes cometidas pela polícia, com um aumento nos últimos anos durante a chamada "política de enfrentamento" do atual governo estadual.
Comumente a parte mais influente da sociedade vocifera que não basta mais pena: "o negócio é a pena de morte!", brada ensandecida pela comoção de alguma violência fora do “normal”, como se houvesse menor ou maior repúdio ou hediondez de um homicídio para outro. A dor e a lágrima de uma mãe que perde um filho, é igual, independente da arma que disparou a bala, independente da idade ou da posição social.
Recordo de um participante de reality show ter afirmado, tempos atrás, que as pessoas que estavam aqui fora não imaginavam “o quanto era difícil permanecer cinco semanas confinados naquele espaço”. Na mesma hora pensei no Presídio Central em Porto Alegre que tem capacidade para abrigar 1,7 mil presos e, atualmente, de acordo com dados da Secretaria estadual de Segurança Pública gaúcha, abriga cerca de 5 mil. Aliás, Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário o colocou como o pior presídio do Brasil. Nesse ranking figuram: em segundo lugar, a Colônia Agrícola de Campo Grande (MS); e em terceiro, o Distrito de Contagem (MG), a Delegacia de Valparaíso (GO), a 52ª Delegacia de Polícia em Nova Iguaçu (RJ) e a 53ª Delegacia de Polícia de Caxias (RJ).
Enquanto isso, políticos do senado tupiniquim querem mais pena para o crime organizado e crimes contra a honra (deles, por certo), como se não bastasse as que já temos. Nossos legisladores não tem a menor idéia de que pena não ressocializa, que o crime é subproduto da desigualdade social e que desigualdade social não se reduz com prisão. Na verdade, criminaliza a pobreza.
Ao longo de anos vimos denunciado essa prática de invasões e caveirões em nossos guetos e favelas, incentivadas pela histeria ou pelo silêncio cínico e conivente da classe média e alta da burguesia carioca. A morte de crianças e inocentes é mero efeito colateral. As mortes em confronto, na média de mil por ano, são necessárias.
Aliás, tudo muito de acordo com o mesmo cinismo contido na concessão do Prêmio Nobel da Paz para Barack Obama: “vamos fazer a paz através da guerra!” O mesmo que acender a luz para ver o escuro...
E assim, entre mortos e feridos mundo à fora, fruto da incapacidade crônica que os governantes têm para gerir seus países, estados ou municípios, independente do sistema político ou de força, das ditaduras ou democracias e de todos os “ismos” existentes entre ambas, a desigualdade social é cada vez maior no Brasil e no mundo.
A desigualdade social é, em última instância, o agente multiplicador de quase toda violência na terra. Excetuo aquela violência que nasce da intolerância religiosa que por aqui, ainda, não existe. Afinal, Deus é brasileiro...
Mas surge em 2009, um facho de luz...
Esse era o reclamo maior de minha alma peregrina: um facho de luz sobre a insanidade da política de segurança pública carioca. E ele se fez luz onde existia o caos. Falo da política de segurança chamada de UPP, ou Unidade de Polícia Pacificadora, implantada por sua excelência o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral.
Touché, monsieur Cabral!
Quando, em 19 de dezembro de 2008 era inaugurada na Favela Santa Marta, zona sul do Rio, a primeira UPP, olhei com certa descrença. Vai durar pouco, pensei. Afinal, nada que prestava para as comunidades mais carentes tinha continuidade.
Hoje, um ano depois, lá, temos a realidade assombrosa de nem um homicídio registrado e não apenas: não houve nem um tiroteio. Mudou a vida de toda a comunidade e de todos os que vivem nela: para melhor, muito melhor! Não há mais traficantes armados, não há mais o dono do morro. As melhorias foram em todos os aspectos. Agora os serviços públicos, tais como temos no asfalto, estão presentes na comunidade. Mais até, inclusive com rede wi fi banda larga grátis para a comunidade.
Porém, o mais importante é que lá, agora, todos tem um lar, uma residência, um título de propriedade, um lugar que sabem que podem levar suas visitas e amigos, sem vergonha ou medo, e com uma das paisagens mais belas da cidade.
As UPPs já existem no Morro Santa Marta, em Botafogo, no Chapéu Mangueira/Babilônia, no Leme, na Zona Sul, na Favela do Batan, em Realengo e Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Essa semana mais duas, Tabajaras e Morro dos Cabritos (Copacabana e Botafogo), foram ocupadas sem um tiro!
Ou seja, sem a famosa prática antiga da invasão. E os policiais foram bem recebidos pela comunidade. Ou seja, não é uma promessa de campanha, não é um sonho.
Com isso sua excelência evitou, minimamente, nos últimos 12 meses, a morte de centenas de nossos jovens e muitos policiais. Só isso bastaria para que eu considerasse o melhor governo que o Rio de Janeiro já teve. É uma realidade tangível que está sendo executada de forma inteligente, como sempre preguei e desejei.
Pode melhorar? Sim, sempre pode. Mas, especificamente nessa área, basta usar menos os caveirões e as invasões, ou não usar, e, no lugar de ambos, usarmos a inteligência como meio de ocupação, como se fez na implantação das UPPs e Tabajaras foi o maior exemplo!
Sua excelência está no caminho certo: polícia se faz com inteligência, não com cadáveres.
A UPP foi o fato mais relevante para mim, junto com a eleição de Lula, depois da queda do regime militar.
Feliz 2010, senhor Governador!
O Rio e a Vida agradecem.
Paulo da Vida Athos.
Rio, 29 de dezembro de 2009.
CHINA EXECUTA PENA DE MORTE CONTRA BRITÂNICO
URUMQI, China, 29/12/2009 - O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, se declarou nesta terça-feira perplexo com a execução na China de um britânico preso por trafico de heroína. Em resposta, Pequim defendeu o seu sistema judicial.
Parentes de Akmal Shaikh, de 53 anos, e o governo britânico haviam implorado clemência, argumentando que o ex-empresário sofria de transtorno bipolar e depressão maníaca. A Suprema Corte chinesa rejeitou o apelo, dizendo haver provas insuficientes de doença mental.
Brown condenou "nos termos mais fortes" a execução. "Estou perplexo e desapontado por nossos persistentes pedidos de clemência não terem sido atendidos", disse ele em nota divulgada pela chancelaria britânica. "Estou particularmente preocupado por nenhuma avaliação mental ter sido realizada."
Jiang Yu, porta-voz da chancelaria chinesa, reagiu dizendo que "ninguém tem o direito de falar mal da soberania judicial da China". "Manifestamos nossa forte insatisfação e resoluta oposição às infundadas acusações britânicas."
A agência estatal de notícias Xinhua disse que Shaikh foi executado com uma injeção letal, na região de Xinjiang, no extremo oeste chinês. A família divulgou nota se dizendo "perplexa e frustrada". "Estamos perplexos com a sugestão de que o próprio Akmal deveria ter fornecido provas do seu estado mental frágil", afirmaram os parentes.
Shaikh foi o primeiro cidadão europeu executado na China desde 1951, segundo entidades ocidentais de direitos humanos. A China é o país que mais executa condenados -- foram cerca de 1.718 em 2008, bem acima das 346 do Irã e 111 dos Estados Unidos, de acordo com a Anistia Internacional.
O caso pode inflamar a opinião pública britânica contra a China, e também alimentar o ressentimento de Pequim contra "interferências" em seus assuntos internos, despertando lembranças das humilhantes derrotas para os britânicos nas Guerras do Ópio do século 19.
A Grã-Bretanha é o terceiro maior parceiro comercial da China na Europa, com um comércio total de 45 bilhões de dólares em 2008. Recentemente, os dois governos trocaram farpas por causa dos resultados da conferência climática de Copenhague.
Defensores de Shaikh, como a ONG britânica Reprieve, dizem que ele foi induzido a traficar heroína por uma gangue que prometeu fazer dele um astro pop. O homem foi preso em 2007, e seu último recurso foi negado em 21 de dezembro.
Pela Internet, a Reprieve divulgou uma gravação que Shaikh fez da canção intitulada "Come Little Rabbit" ("vem, coelhinho"), que ele acreditava que seria um sucesso internacional e contribuiria com a paz mundial.
O chanceler britânico, David Milliband, ressaltou que o governo britânico não está criticando o combate ao narcotráfico. "A questão é se o sr. Shaikh se tornou uma vítima adicional dele."
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
RIO DE JANEIRO: TAXA DE LUZ É APAGÃO MORAL
RIO, 18/12/2009 - As duas sessões na Câmara de Vereadores que aprovaram a nova taxa de iluminação pública no Rio de Janeiro foram canceladas nesta quinta-feira, em caráter liminar, pela juíza Georgia Vasconcellos da Cruz, da 7ª Vara de Fazenda Pública. Ela acolheu uma ação cautelar que alega que as sessões não foram comunicadas à população, como manda o regimento interno da Câmara.
Segundo o advogado Victor Rosa Travancas, autor da ação, o projeto foi incluído na ordem do dia sem prévia comunicação no Diário Oficial, ferindo o princípio da publicidade, previsto na Constituição.
- Os cidadãos interessados não sabiam com antecedência da data da votação e os vereadores, mesmo percebendo o erro, aprovaram o projeto - argumentou o advogado, que agora pretende entrar com uma ação popular contra a Câmara e a prefeitura.
Na decisão, a juíza afirma que houve ofensa ao artigo 181 do regimento interno, ao se permitir que um "projeto de lei instituidor de tributo de constitucionalidade duvidosa" fosse aprovado de maneira clandestina. Segundo a vereadora Clarissa Garotinho (PMDB), um dos três votos contrários ao projeto, para viabilizar a cobrança da taxa em 2010, a Câmara terá que votar novamente o texto até o fim do ano, agora seguindo todos os trâmites legais.
O presidente da Câmara, vereador Jorge Felippe (PMDB), não foi encontrado para comentar a decisão. Já o prefeito Eduardo Paes, que ainda não sancionou o projeto, disse que só vai se manifestar quando for notificado oficialmente.
Segundo cálculo feito antes da decisão judicial pelo vice-presidente da Fecomércio, Antônio Florêncio Queiroz, membro do Conselho de Consumidores da Light, a arrecadação com a nova taxa poderia chegar a R$ 252 milhões no primeiro ano. Ele fez a projeção a partir da média de consumo de luz no município, usando dados da Light referentes a novembro. Queiroz lembra que o valor é muito superior às necessidades da RioLuz - que receberá o repasse dos recursos - para investir em iluminação pública. Considerando a arrecadação prevista, a taxa deve gerar uma receita extra anual para a Light de R$ 7,5 milhões. "
Fonte O Globo.
O que a Justiça fez foi jogar luz sobre o apagão moral de nossos representantes. Cabe ao povo, agora, se mobilizar e, principalmente, divulgar a lista com os nomes dos vereadores que aprovaram a nova taxa de iluminação pública, para que eles não sejam mais reeleitos, e ela, a taxa, não seja aprovada.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
HUMAN RIGHTS WATCH: O BRASIL QUE MATA
Rio de Janeiro, 8 de dezembro, 2009
Policiais do Rio de Janeiro e de São Paulo recorrem à força letal de forma rotineira, frequentemente cometendo execuções extrajudiciais e exacerbando a violência nos dois estados, afirmou a Human Rights Watch em relatório lançado hoje.
O relatório de 134 páginas, "Força Letal: Violência Policial e Segurança Pública no Rio de Janeiro e em São Paulo", examinou 51 casos nos quais policiais teriam executado supostos criminosos reportando em seguida que as vítimas haviam morrido em tiroteios enquanto resistiam à prisão.
As polícias do Rio e de São Paulo juntas matam mais do que 1.000 pessoas por ano em supostos confrontos. Embora alguns desses casos de homicídios cometidos pela polícia após suposta "resistência" sejam atos de legítima defesa, muitos outros são execuções extrajudiciais, concluiu o relatório.
"A execução extrajudicial de suspeitos criminosos não é a resposta ao crime violento," disse José Miguel Vivanco, diretor da divisão das Américas da Human Rights Watch. "Os moradores do Rio e de São Paulo precisam de um policiamento mais eficaz e não de uma polícia mais violenta."
Homicídios ilegais cometidos pela polícia acabam por minar os esforços legítimos nos dois estados de combate à violência do crime organizado fortemente armado. No Rio, essas facções são em grande parte responsáveis por uma das mais altas taxas de homicídios do hemisfério. Em São Paulo, apesar da redução da taxa de homicídios na última década, a violência das facções criminosas também constitui uma grande ameaça.
A Human Rights Watch obteve provas críveis em 51 casos de "resistência" que contradizem as alegações dos policiais de que as vítimas teriam morrido em tiroteios. Por exemplo, em 33 casos, provas forenses não eram aparentemente compatíveis com as versões oficiais sobre o ocorrido? inclusive 17 casos nos quais os laudos necroscópicos demonstram que a polícia atirou nas vítimas à queima roupa. Os 51 casos não representam a totalidade do número de possíveis execuções extrajudiciais, mas servem como indicativo de um problema mais amplo, concluiu o relatório.
O relatório também se baseia em entrevistas detalhadas com mais de 40 autoridades da justiça criminal inclusive promotores e procuradores importantes que vêem as execuções extrajudiciais cometidas pela polícia como um grave problema nos dois estados.
Dados estatísticos governamentais apoiam a avaliação dos promotores de que o problema é generalizado:
* As polícias do Rio e de São Paulo mataram mais de 11.000 pessoas desde 2003.
* O número de homicídios cometidos pela polícia do Rio atingiu o nível recorde de 1.330 em 2007 e em 2008 o número de homicídios era o terceiro mais alto, atingindo 1.137 homicídios.
* O número de homicídios no estado de São Paulo, embora seja menor do que no Rio, também é comparativamente alto: por exemplo, nos últimos cinco anos, a polícia do estado de São Paulo matou ao todo 2.176 pessoas, número maior do que as mortes cometidas por policiais em toda a África do Sul (1.623) no mesmo período de cinco anos, sendo que a África do Sul possui taxa de homicídio bem maior do que São Paulo.
O elevado número de homicídios cometidos pela polícia é ainda mais dramático ao lado dos comparativamente baixos números de civis feridos não fatalmente e de óbitos policiais.
* O Comando de Policiamento de Choque da Polícia Militar de São Paulo matou 305 pessoas no período de 2004 a 2008, deixando apenas 20 feridos. Em todos esses supostos "tiroteios", a polícia sofreu um óbito.
* No Rio, a polícia em 10 áreas, cada uma sob responsabilidade de um batalhão da polícia militar, foi responsável por 825 homicídios classificados como "autos de resistência" em 2008 sofrendo, no mesmo período, um total de 12 óbitos policiais.
* A polícia do Rio prendeu 23 pessoas para cada pessoa que mataram em 2008 e a
polícia de São Paulo prendeu 348 para cada vítima fatal. Comparativamente, a polícia dos Estados Unidos prendeu mais de 37.000 pessoas para cada vítima fatal em supostos confrontos no mesmo ano.
"Policiais são autorizados a usar força letal como último recurso para se protegerem ou protegerem outros," afirmou Vivanco. "Mas a noção de que esses homicídios seriam cometidos em legítima defesa ou seriam justificados pelos altos índices de criminalidade, é insustentável."
Além dos muitos homicídios após "resistência" cometidos todos os anos por policiais durante o expediente, policiais matam mais centenas enquanto atuam fora do expediente, frequentemente quando agem como membros de milícias no Rio e em grupos de extermínio em São Paulo.
Os policiais responsáveis por homicídios no Rio e em São Paulo raramente são levados à Justiça. A causa principal dessa falha crônica de responsabilizar os policiais em casos de assassinatos, o relatório afirmou, é que os sistemas de justiça penal dos dois estados atualmente dependem quase que inteiramente de investigadores da polícia para resolver
esses casos.
A Human Rights Watch conclui que policiais frequentemente tomam medidas para acobertar a natureza real dos homicídios após "resistência". Além disso, investigadores da polícia geralmente não tomam as medidas necessárias para determinar a verdade dos fatos, garantindo dessa maneira que não se possa determinar a responsabilidade criminal nos casos e que os autores dos crimes permaneçam impunes.
"Enquanto couber às polícias investigar a si mesmas, essas execuções continuarão e os esforços legítimos de combater a violência nos dois estado serão enfraquecidos," disse Vivanco.
O relatório apresenta recomendações para as autoridades do Rio e de São Paulo para reduzir a violência policial e melhorar a aplicação da lei. A recomendação central é a criação de unidades especializadas dentro dos Ministérios Públicos Estaduais para investigar homicídios após "resistência" e garantir que os policiais responsáveis por execuções extrajudiciais sejam responsabilizados criminalmente.
O relatório também detalha medidas que as autoridades estaduais e federais deveriam tomar para maximizar a eficácia dessas unidades especiais, dentre elas:
* Exigir que os policiais notifiquem o Ministério Público sobre homicídios após "resistência" imediatamente após o ocorrido;
* Estabelecer e rigorosamente implementar procedimentos para a preservação da cena do crime que impeçam que policiais realizem falsos "socorros" e outras técnicas de acobertamento;
* Investigar possíveis técnicas de acobertamento, inclusive falsos "socorros", e processar criminalmente os policiais que assim atuarem.
Para ler "Força Letal: Violência Policial e Segurança Pública no Rio de Janeiro e em São Paulo," favor visitar: http://www.hrw.org/node/87056
Para maiores informações sobre o trabalho da Human Rights Watch sobre o Brasil, favor visitar: http://www.hrw.org/americas/brazil
Para maiores informações, por favor entrar em contato com:
No Rio de Janeiro, José Miguel Vivanco (Inglês, Espanhol), Daniel Wilkinson (Inglês, Espanhol) e Fernando Delgado (Inglês, Português) pelos telefones: +55 21 8789-3893 e +55 11 7026-2887
terça-feira, 10 de novembro de 2009
CARTA A NICOLINO CUPELLO
Lino, hoje é dia de manhã nublada.
Amanheceu assim o céu do Rio de Janeiro. Durante a noite choveu, espantando os dias azuis de calor que já estavam aborrecendo o verde e as flores.
Hoje não poderia ser diferente. É a primeira vez que, para espanto da Vida, você não está.
Nem os pardais que invadem minha cozinha e enchem o ar com sua alegria, tiveram vontade de fazer algazarra.
Há um ar de desencanto e de saudade em toda parte, eu sinto. Há qualquer coisa pungente que mexe com a gente, que desarmoniza as horas, que desenha uma lágrima em nós.
Sei que é justamente isso que você não gostaria. Mas fica difícil, meu irmão.
Difícil imaginar um mundo despido de sua alegria , de seu amor, de sua voz.
Você chegou a minha vida da mesma forma que na da maioria das pessoas que conheceu: pelos braços da Música. Ela veio junta e, como a Vida também me ama, mandou que você me trouxesse um grande amor. Meu grande amor.
Lembro bem a data, 29 de outubro de 1976. Havia muita música no ar naquele dia, era um festival de canções.
Com o grande amor que veio com você, tive mais dois grandes amores: Juliana e Pedro.
Os anos foram passando. Muitos foram nossos momentos juntos: e invariavelmente com a presença dela, da Música, que sempre foi o grande amor de sua vida e o presente sempre presente com que você nos brindava.
Pois é, meu irmão, é mesmo da porra falar de você usando o pretérito.
Mas é o trem da Vida que, um dia conversando, falei pra você que não parava nas estações. Não para mesmo. E fico muito puto em ocasiões como essa.
Não fui ao seu velório, não vou ver cremarem seu corpo, não vou a nenhuma dessas missas que reúnem pessoas de tempos em tempos, essas ocasiões em que o defunto está lá e a maioria dos presentes nem tão presentes assim...
Aprendi com o Zelão, companheiro de algumas passagens, que velório bom é de inimigo. De quem se ama, não se vai.
Poderia ir, ouvir conversa fiada, aquelas bobagens de sempre, expor minha lágrima, chorar publicamente minha saudade e a dor que todos os que te amam estão sentindo.
Mas isso é coisa de quem tem sangue italiano como você (que nem pode usar seu passaporte vinho que Juliana conseguiu ao correr atrás de sua cidadania). Pois é meu irmão, pior é que nem na Itália você pode ir, seu grande sonho.
Agora pode, tem passaporte de alma, concedido por Deus em seu desembarque de ontem.
Todos estão como você estaria nesse momento se perdesse um de nós: italianamente emocionados e incontidos. Todos choram em dor exposta. Todos te amam.
Também te amo. Te amo muito, e você sabe, sempre soube. Mas tenho sangue judeu.
Prefiro colocar seu disco e escutar você cantar para mim, só para mim, o Sole Mio, e permitir minha lembrança deixar minha alma encontrá-lo para mais uma canção...
Até , meu irmão.
Um beijo.
Paulo.
Rio de Janeiro, 9 de novembro de 2009.
Ps. Uma semana antes você pediu para gravar a música do Gonzaguinha, para você. Gravei.
Ps2.: Para quem quiser ouvir você, clicar AQUI.
Ps 2: Para quem quiser saber mais de você, ir em Velhos Amigos.
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