Cabral se aproxima dos seis meses de governo sem linha definida na segurança
RIO - Passados quase seis meses do governo de Sérgio Cabral, o que mudou na segurança? Para entender melhor as ações do novo governo nessa área tão sensível para o Rio, O GLOBO ONLINE perguntou a especialistas se já é possível definir uma linha de ação no comando da segurança no estado. Apesar de ter alcançado uma maior integração com os governos federal e municipal, conseguido apoio da Força Nacional de Segurança e de ter um secretariado elogiado, uma das promessas de campanha de Cabral, aposentar os "caveirões", não foi cumprida. Segundo Marcelo Freixo, pesquisador da ONG Justiça Global, esse assunto tem sido fruto de muitas conversas entre os estudiosos do tema.
- A unanimidade é que é um governo muito mais reativo do que preventivo, o que é grave e não é o que a gente esperava - afirma o deputado do PSOL.
Um ponto elogiado foi a mudança nos critérios de promoções e nomeações. Há consenso que no novo governo acabaram as indicações políticas. (Ouça o antropólogo e secretário de Prevenção à Violência de Nova Iguaçu Luiz Eduardo Soares sobre os pontos positivos e negativos do novo governo). O coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, no entanto, tem uma posição mais dura e afirma que "não houve nenhuma mudança visível em relação ao que havia antes".
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Bons nomes no comando ainda não geraram mudanças práticas
Além de crimes bárbaros, como a morte do menino João Hélio , as balas perdidas continuam matando inocentes e a polícia fica na corda-bamba entre ações exemplares - a prisão de Marcelo PQD - e ocupações violentas - como a que já se estende por mais de um mês no Complexo do Alemão . Três dos especialistas ouvidos tiveram posições muito semelhantes. Eles elogiam a equipe formada para a área de segurança, mas dizem que a prática ainda não mudou.
- É uma equipe muito diferente da anterior, muito mais qualificada, receptiva à colaboração com a sociedade. Tem se mostrado mais transparente nas suas ações e tem objetivos de médio e longo prazo com relação à necessária reforma da polícia e ao uso da informação, da inteligência - afirma Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social.
Monteiro completa o raciocínio, no entanto, dizendo que a equipe "ainda não conseguiu passar das intenções aos atos".
- Algumas ações demonstram uma nova orientação, mas no cômputo geral, devido ao grau de deterioração que tinha chegado a área no último governo, uma mudança visível, em termos de novos índices, ainda não foi possível - completa.
Invasões bélicas e caveirão na mira dos especialistas
A principal crítica ao novo governo é a manutenção da "política do confronto", com invasões bélicas a comunidades dominadas pelo tráfico. O caveirão, definido pelo próprio Cabral como "assustador" durante a campanha eleitoral no ano passado, também é alvo dos estudiosos.
- Um exemplo é o Alemão, que hoje talvez seja o mais simbólico. Estamos há quase um mês num confronto generalizado, onde inúmeras crianças perderam o direito de ir à escola, pessoas perderam os empregos, ficaram feridas sem ter relação com crime, policiais foram mortos, e existem denúncias gravíssimas de violações básicas de direitos cometidas pela polícia - critica Marcelo Freixo.
- Essa estratégia de ocupação é um erro, ela foi equivocada pois não foi devidamente planejada. Ocorreu após a morte dos policiais sem um planejamento mais fino, um levantamento de operações sobre a área. Ao mesmo tempo, o uso do caveirão continua sendo um problema político, que causa desgaste ao governador. Até porque ele tinha prometido aposentar, mas a persistir esse tipo de enfrentamento, o caveirão acaba sendo inevitável. Será que é possível enfrentar a criminalidade a partir de outros princípios? Outras estratégias? - questiona Geraldo Tadeu Monteiro.
Os números do próprio governo depõem contra a tática usada. Os dados divulgados pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) mostraram que os casos de "auto de resistência", que registram as mortes em supostos confrontos com a polícia, subiram nos três primeiros meses do ano , em relação aos números do ano passado, e voltaram a subir em abril . Entre janeiro e março deste ano, 318 pessoas morreram em confronto com a polícia, contra 228 mortos no mesmo período do ano passado, uma diferença de 90 mortes.
Fonte:
Eduardo Almeida - O Globo OnlinePublicada em 23/06/2007 às 00h15m
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