sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A NOVA DITADURA IV
















SEM CORPO, UM CRIME SEM CASTIGO

Mãe até hoje luta para que polícia suba morro e ache cadáver da filha enterrado em cemitério clandestino


Assim como os ursinhos de pelúcia da jovem ainda enfeitam seu antigo quarto, a investigação sobre o desaparecimento de Taís Louise, de 18 anos, também não saiu do lugar.

Desde que a filha desapareceu no ano passado, a donadecasa Silvia, de 38 anos, vai, a cada 15 dias, à 37aDP (Ilha do Governador). Mas, até hoje, a polícia não subiu o Morro do Barbante, na Ilha, onde traficantes seqüestraram a jovem no dia 2 de julho de 2006.

O corpo de Taís teria sido enterrado num cemitério clandestino numa área conhecida como Amendoeira, na parte alta do morro. No entanto, não foi encontrado. Silvia acusa a mulher do então chefe do tráfico pelo crime. Contra a vontade da mãe, a filha namorava o bandido, que conhecera num baile funk. O romance já durava quatro meses quando a jovem foi seqüestrada.

Desde que o namoro começara, Taís, que estava na 8asérie de um supletivo, passara a faltar às aulas e praticamente abandonara o curso de inglês. Ao se apaixonar pelo bandido, Taís se tornou moradora do Barbante, onde ficava parte da semana na casa de uma amiga.

— A polícia encontrou a milha filha e o namorado dormindo num barraco. A Taís foi liberada, mas pôde escutar quando ele foi morto. Depois, ela me ligou e disse que não podia sair de lá naquela hora, porque podiam achar que ela era X-9 (informante da polícia) — recorda Silvia, que recebeu o primeiro telefonema da filha por volta das 11h e o último, às 14h.

O ritual da execução foi detalhado pela amiga com quem Taís morava. Segundo ela, os traficantes levaram a jovem e outra menina, Ana Carolina, também desaparecida, para o alto do morro. Silvia chora ao contar a história que soube pela testemunha do crime: — Os bandidos metralharam a minha filha, esquartejaram e atearam fogo ao corpo dela. Ela ainda está lá, no alto da Amendoeira.


Feirante perdeu três filhos

Feirante há 40 anos ou, como ele prefere, “desde que se entende como gente”, seu Joel, de 61 anos, viu a milícia atingir como um raio a sua família. Em 92, ele ficou sozinho com cinco filhos para criar, três deles homens, numa casinha no acesso à Favela Lins de Vasconcellos, entre comunidades como Gambá e Cachoeirinha.

Todos os filhos homens foram assassinados. O último, Leonardo de Freitas Paiva Neves, de 25 anos, o Léo, por milicianos de uma favela em Quintino.

O rapaz desapareceu com a mulher em 28 de novembro do ano passado. Os corpos não foram encontrados.

Joel, que hoje mora num sítio longe da cidade, diz que sempre achou impossível criar um filho em paz numa favela: — Na favela, você perde seus filhos para o tráfico ou para a polícia. Os jovens delinqüentes da Barra, quando presos, têm bons advogados e logo são soltos. Ou vão para clínicas de reabilitação.

Os nossos filhos são executados. Todos os 20 da turma do Léo estão mortos. Joel hoje vive com os netos órfãos e luta para prender os assassinos de Léo. Ele, que já havia sido preso uma vez, teria sido morto após voltar a roubar toca-fitas. A milícia pune com a morte quem rouba em sua área de influência.

Os outros dois filhos de Joel, um deles viciado, foram mortos pela polícia.

Carla Rocha, Dimmi Amora, Fabio Vasconcellos e Sérgio Ramalho.

Um comentário:

Anônimo disse...

O caso foi solucionado. A menina morreu a mando de "Rose Peituda", uma "matuta" do morro, do porte de traficantes como Marcinho VP. A Rose era namorada do Andre Negao, que teve caso com Tais.

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