quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A NOVA DITADURA I


Tráfico, milícia e polícia impõem regime de terror a moradores de favelas do Rio

O funcionário público tatuou em suas costas uma mensagem para o filho desaparecido. Foto: Custódio Coimbra


O jornal "O Globo" começa a publicar neste domingo uma série de reportagens, intitulada "Os brasileiros que ainda vivem na ditadura", que aborda como cerca de 1,5 milhão de moradores de favelas e morros do Rio de Janeiro ainda vivem sob uma ditadura. Eles têm seus direitos fundamentais violados por grupos armados do tráfico ou da milícia, ou são submetidos a todo tipo de desrespeito por parte de uma polícia despreparada e, muitas vezes, bandida.

Foram realizadas mais de 200 entrevistas. São relatos de quem sofreu na pele ou testemunhou o sofrimento de pessoas que tiveram seus direitos violados nesses territórios "dominados". Como muitas dessas pessoas sofrem ameaças, elas ganharão codinomes - recurso usado pelos militantes perseguidos pela ditadura militar - e, em alguns casos, os locais onde aconteceram os crimes serão omitidos.

Durante a série, vamos conhecer casos como o do funcionário público Claudio Daltro, de 50 anos, que tatuou em suas costas uma carta de 13 linhas. O texto, misto de declaração de amor e despedida, é endereçado ao filho, Diego, de 23 anos, desaparecido em março após desentendimento com um policial militar ligado à milícia que atua na Vila Sapê, em Jacarepaguá.

Diego figura entre os 10.464 desaparecidos catalogados de 1993 até junho pelo Serviço de Descoberta de Paradeiros da Delegacia de Homicídios, incluindo dados das unidades da Zona Oeste e Baixada Fluminense. Desse total, 70% (7.324) dos casos estariam relacionados à ação do tráfico e, mais recentemente, das milícias. No vácuo deixado pelo Estado, a ditadura imposta por esses grupos produziu, num período de 14 anos, 54 vezes mais desaparecidos do que os registrados durante os 21 anos do regime militar: 136, segundo levantamento do Tortura Nunca Mais.

Em cinco meses, o homem que evitava exames de sangue e injeções, por medo de agulhas, transformou o corpo num mosaico em homenagem ao filho.

- Isso aqui é uma forma minha, não sei, de auto-flagelação. É uma forma de atenuar essa dor insuportável - diz Claudio, referindo-se às imagens do rosto do filho e de um coração partido tatuadas nos braços, após o desaparecimento dele.

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