sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Carta a duas guerreiras















Carta a duas guerreiras


Fernanda Tardim e Gilda Arantes, boa tarde


... e a tarde é bela e boa nesse momento de céu azul no Rio de Janeiro, que ficou ainda melhor e mais bela para mim, ao ler as palavras amigas com que me brindaram.

Como não me envaidecer diante de elogios de duas bravas guerreiras, combativas pela gente brasileira e dedicadas de corpo e alma a essa luta fantástica de não permitir com que o homem se desumanize, nem se sinta na solidão dos abandonados, dos sem voz?

Confesso que peco esse pecado, que não sei se venial ou mortal, me deliciando por alguns momentos na crença passageira de que sou tudo isso que me brindam com suas palavras. Mas é por um átimo. Apenas.

Logo minha alma se alerta de que somos, eu e ela, um reflexo de pessoas como vocês, com quem fui aprendendo ao longo da vida, ao longo de décadas de uma forma mais coloquial e, na última década e meia, também virtualmente.

Somos de um tempo mais lento, em que se escrevia cartas ou se confabulava pelos desvãos das noites ou das madrugadas, das tardes ou das manhãs ensolaradas, no becos ou nos botecos, no campus, nos campos, e nas ruas das cidades, de coisas ditas assim com mais sussurros do que bilhetes, onde a pressa de se chegar à praia cedeu lugar à presa de liberdade, de democracia, de justiça legal e social.

Muito foi feito. Muito mais ainda está por fazer. Abalamos pela raiz um parasita que queria matar uma árvore chamada Brasil: ela e seus frutos, sua gente, seu povo. Em lugar do parasita plantamos uma mudinha novinha em folha, de Democracia, que deu sua primeira flor em 1988, através do fruto da Constituinte, um fruto que virou sementeira.

Essas sementes, tal como uma passagem literária milenar e conhecida, foram e estão sendo lançadas pelos quatro cantos desses brasis; algumas caem em terreno fértil, outras nas areias ou nos rochedos, e essas últimas estão à espera de um vento forte ou o bico de uma ave, para serem levadas também a solo fértil, já que são sementes que não morrem. Apenas estão à espera...

A Democracia foi plantada, e é adubada e regada com o sangue e a esperança de milhões de jardineiros. Nós, os que vivem no Brasil, brasileiros ou não, que por ela se deram e se dão, nessa doação do ser, nessa doação do amor.

Vocês são jardineiras, com quem também fui e vou aprendendo. Sempre temos algo a aprender e algo a ensinar. Sempre.

Hoje a Democracia é árvore mais madura, mas seus frutos ainda não chegaram a todos, livres ou prisioneiros, sãos ou doentes, ilustrados ou analfabetos, e aí reside nossa vocação, nosso ideal e nossa missão.

E para tanto, é necessário ficar de olhos muito bem abertos, com a atenção dos convictos aos sons que surgem das ruas.

Para que não tentem outro golpe que venha a solapar o povo.

Ou se tentaram, como sempre tentam nesses tempos da grande festa democrática, a Eleição, possam ouvir em bom tom, dos ecos vindos de Espanha:

“ - No pasarán!”

Paulo da Vida Athos

Rio de Janeiro, 10 de setembro de 2010, 14:55h.

Nenhum comentário:

Postagens mais visitadas

Palestina e o silêncio que mata

A preocupação nunca foi com os reféns,  tampouco com o Hamass. O objetivo é o apagamento de um povo e sua cultura.  O móvel, a terra. Ao col...