De Páscoa, prisões e passagens.
Existem muitos significados para a palavra Páscoa, pagãos ou não pagãos, ligados á natureza ou não, mas sempre com um ponto em comum: a mudança. Assim colocado, ouso dizer que seu grande significado é a transformação de um estado ou posição, para outro estado ou posição melhor que o anterior. Ou seja: tudo que a humanidade precisa nessa esquina do tempo.
Vivemos um tempo manchado de sangue de inocentes, de gritos de socorro não ouvidos, de pessoas morrendo de fome, de mísseis que entram pelo telhado das casas como balas perdidas que encontram vidas que são ceifadas, assim, num estalar de dedos.
Vivemos um tempo assim, de ouvidos surdos, de conivência muda, em que pequena parte da humanidade, que tem o poder de decidir ou de exigir uma decisão diversa, é legitimadora de genocídios como os ocorridos em Ruanda, Angola, Curdistão, Palestina, Afeganistão, Iraque, que pesquisadores, descartando o termo genocídio, atualmente usam o “violência massiva” e o definem como “fenômeno humano da destruição coletiva por causas culturais, religiosas, sociais e políticas”, e que alguns Estados terroristas conceituam como “combate ao terrorismo”.
Vivemos um tempo em que falta ao homem, humanidade. Essa desumanidade, somada ao silêncio legitimador da maioria, permitiu a criação de infernos como prisão de Abu Ghraib, Guantánamo, e todas as atrocidades lá cometidas. Esse mesmo silêncio, não nos permite sequer pensar no óbvio: o fechamento de Guantánamo não responde a principal questão: onde estão os cerca de vinte mil iraquianos que lá estavam presos? O que estão passando nos infernos de Campo Bucca e Campo Cropper, já que não há acusação formal, nem direito de defesa, nem fiscalização da comunidade internacional?
Não temos resposta. Aliás, nem perguntamos! Assim como nada fazemos quando nossas comunidades carentes viram palco de “operações contra o tráfico”, o que, traduzido ao pé-da –letra quer dizer: “terra de ninguém”. E nessas operações, cada inocente que é abatido conta apenas com o silêncio omisso de todos nós. Nem uma voz, um movimento, nada é feito para cobrar a imediata cessação do absurdo, enquanto abrimos nossos ovos de Páscoa num domingo de abril.
Fazer uma oração não basta sem que com ela venha a ação. Deus também conta com nossa ação.
Faço o que posso e posso mais do que faço, é verdade, mas faço mais que orar durante o ano inteiro.
Por isso me concedo, hoje, fazer apenas uma prece.
Que seja essa Páscoa uma passagem por onde trafeguem nossas ações e que, através delas, Deus realize seu maior desejo.
O de que não matemos em nós, a humanidade.
Feliz Páscoa ao mundo.
Paulo da Vida Athos
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