sábado, 26 de fevereiro de 2011

Insegurança Pública.



Insegurança Pública.



Por Celso Athayde*


Como muitos cidadãos brasileiros, em especial os cariocas, tenho acompanhado a nova crise na Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro. Na verdade, não sei se podemos chamar de crise, já que ela está sendo provocada pelo próprio Secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que demonstra uma árdua vontade de resolver um problema antigo. Mas já que todos dizem por aí que é crise, vamos considerar que seja.


A última vez que ouvimos com frequência falar da tal “banda podre” foi na época do ex-governador Garotinho, na então gestão de Luiz Eduardo Soares como Secretário de Segurança. Hoje, essa expressão volta com mais força, parecendo que chegou a hora de acabar com a velha cultura do “esses policiais corruptos são a minoria, e não vamos deixá-los manchar o nome da maioria da instituição.”

Chega disso, né? Se fizermos uma pesquisa, descobriremos que a maioria é corrupta em alguma medida. isso faz parte da cultura policial, não somente no Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil. Basta ver o ponto a que chegamos – a cúpula está mais do que enrolada. Infelizmente, o buraco é bem mais embaixo.

É perfeitamente compreensível que em casos como esses, os secretários de segurança e governadores venham a público dizer: “Esses poucos marginais fardados (quando são militares) serão punidos exemplarmente, não vamos deixar que essa minoria venha a manchar o nome da grande maioria que é correta e incorruptível”. Eu, no lugar deles, diria a mesma coisa. Em nome da governabilidade, claro!

Eis a questão, pois eu realmente duvido que eles creem no que afirmam, que em cada cinco ocupantes de um patamo (Patrulha Tático Móvel), apenas um seja corrupto e os outros sejam santos. Que a maioria dos policiais dos DPOs combata o tráfico e não se beneficie dele. Ou que as carceragens das Delegacias não levem nenhuma vantagem financeira para facilitar a vida dos presos e de seus visitantes, só pra citar alguns exemplos. Mas fique tranquilo se você é parente de um policial – sério, não é dele que estou falando, estou me referindo aos “outros” .

As famílias dos policiais se revoltam quando a categoria é acusada de corrupção, no entanto concordam que existe a necessidade de fazer uma limpeza geral. Assumir a verdade é a única forma de preservar os bons policiais que infelizmente são a minoria. Tão minoria que vivem acuados e oprimidos nos batalhões e delegacias. O que pode ser confirmado diretamente com eles, que talvez não falem por medo – o mesmo medo que o cidadão comum sente.

Só para termos uma ideia, os governos estaduais se orgulham por expulsarem centenas de policiais bandidos , envolvidos com os piores crimes, todos os anos , além de terem prendido tantos outros envolvidos com domínios de favelas. Apesar disso, infelizmente as milícias não recuaram nenhum centímetro. Pelo contrário, só crescem mais e mais a cada dia. Sendo assim, o que nos faz acreditar que esses “moços” e suas redes gigantes sejam a minoria?

Amigos de policiais e traficantes sempre os acham gente boa. Independente do que eles são capazes de fazer com os outros. Veja,não estou generalizando e dizendo que todos são corruptos, estou dizendo apenas que se trata da maioria sim, em alguma medida.

É comum que policiais que defendem a sociedade e eventualmente prestam bons serviços ao Estado caiam nos braços do deslize engordando as fileiras dos que são seduzidos pelas oportunidades criminosas. E, cá entre nós, a maioria é somente 50% mais um. Você acha esse percentual realmente alto?

Por isso, antes de defender os amigos policiais, é bom lembrar que você nunca participa de suas incursões cotidianas, perseguição a ladrões de bancos com os carros cheios de dinheiro e nos sequestros a traficantes, vendas de inimigos e outras ações sinistras que até Deus duvidaria.

O problema é que existem algumas atividades ilegais que a sociedade passou a achar normal com o passar do tempo. E somente os mais graves como assaltos, estupros, sequestros, venda de armas, passaram a ser vistos como crimes de fato. Os outros desvios passaram a ser vistos como meros escorregões éticos, nada tão grave. Fazer segurança para a contravenção, milícias receberem

dinheiro de tráfico, receber dinheiro da própria polícia para beneficiá-los em melhores escalas de serviços, receber dinheiro de camelôs, entre diversas outras manifestações, deixaram de ser vistas como anomalias. Sem contar com o crime de omissão.

Depois de uma análise mínima, percebemos que sem a corrupção desenfreada não existiria nas ruas das cidades as taxas dos flanelinhas, ou alguém acha que eles são independentes? Vou além, alguém

acha que o tráfico de armas, pirataria de marcas e até mesmo de remédios não têm relação com a corrupção policial? Para não falar em prostituição, e tantos outros crimes e contravenções que só conseguem se sustentar a partir de uma relação promíscua entre a desordem e a suposta lei.

Por outro lado, temos que concordar que a corrupção não é intervenção exclusiva da polícia. Os canas parecem refletir um comportamento social, que é o mal que abre as portas para todos os males.

Para alguns, este texto pode ser visto com o único objetivo de desmoralizar a polícia. Quero deixar claro que não, longe disso, pelo contrário, acredito que sem uma polícia séria só nos restará nas ruas das cidades o caos, um verdadeiro vale tudo. O que precisamos é perceber o óbvio e deixar de lado a demagogia, para que os bons policiais sejam libertados das armaduras que lhes fazem entrar nesse jogo sujo ou proteger muitos policiais que estão em desvantagem, se aquartelando, pedindo licença-prêmio ou se virando como podem para protegerem suas próprias vidas. Precisamos de paz na vida desses homens e mulheres da lei para que as nossas vidas sejam protegidas também.

P.S.: Gostaria de aproveitar e sugerir que o Estado refletisse sobre as últimas prisões efetuadas pelos 40 policiais presos nessa última operação no Rio. Pois se o próprio estado os prendeu e afirma que eles são bandidos, pode ser que os presos sejam na verdade vítimas.

P.S. 2: Alguém ainda duvida de que o pastor da Vila Cruzeiro dizia a verdade quando acusou policiais de roubo e de que não é justo ele ser indenizado já que o estado reconhece essas loucuras?

*Fonte: Opnião

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