sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

OS POBRES E A ASSISTÊNCIA ESTATAL NO RIO DE JANEIRO


Estado trocará blindados

Secretaria de Segurança anuncia licitação para comprar oito veículos.

Quatro estão parados.






Rio - Para renovar a frota de blindados desgastados e obsoletos, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, anunciou uma licitação internacional, com edital previsto para o próximo dia 19, para a compra de oito novos Caveirões. A maioria dos 12 blindados, usados excessivamente em áreas de risco e intenso confronto, está no fim da vida útil e já não suporta mais passar por reparos. Na operação de quarta-feira, no Complexo da Penha, quatro dos oito veículos usados quebraram.

Ontem, os veículos foram mandados para oficinas. O secretário não descarta a possibilidade de pedir autorização ao Tribunal de Contas do Estado para dispensar a licitação e devolver os blindados mais imediatamente às ruas. Eles precisarão estar recauchutados para enfrentar o armamento pesado de traficantes, pelo menos até a chegada dos novos carros, o que não deve acontecer antes do meio do ano que vem. Apenas a troca dos vidros blindados chega a custar cerca de R$ 30 mil por carro.

Problemas mecânicos de menor porte normalmente são resolvidos nos próprios batalhões. Os veículos costumam seguir para uma empresa especializada em blindagem, na Baixada Fluminense, quando apresentam mais de 200 marcas de tiros ou cápsulas presas às placas de aço. Nos danos à carcaça, mecânicos fazem uma espécie de ‘recapeamento’ nos furos ou trocam as chapas.

Para o secretário, o dia-a-dia nas perigosas favelas cariocas não é o único motivo para o sucateamento dos blindados. Como são carros de transporte de valores adaptados, a manutenção é bastante complicada. Beltrame compara o sistema de montagem de um Caveirão aos computadores feitos com peças avulsas.

“Não é um carro feito em escala, com manutenção autorizada. A mola de suspensão não existe para um blindado que pesa 10 toneladas com a tropa. O deslocamento fica prejudicado, o motor aquece rápido e o jogo de direção é pequeno por causa da proteção balística nos pneus. Até trocar o limpador de pára-brisa é problema. Não é só a questão de levar tiro”, explicou.

O secretário analisa modelos de Israel, da África do Sul, da França e da Rússia, além de um carro brasileiro, que segue o padrão dos atuais. O equipamento israelense está avaliado em R$ 250 mil. Em junho, quando equipe da Secretaria de Segurança esteve naquele país para conhecer o blindado, O DIA mostrou que o veículo era mais rápido e potente, capaz até de passar sobre obstáculos de até meio metro de altura.

Nesta segunda-feira, Beltrame estará em Buenos Aires, na Argentina, para conhecer blindados de patrulhamento, que interessam também pela tarifa do Mercosul. “A necessidade nos fez criar um blindado montado, mas hoje ele já não dá mais conta das adversidades que encontra nas ruas. Precisamos substituí-los, mas até lá queremos que os outros passem por ampla revisão.”

Os quatro carros que tiveram problemas mecânicos durante a operação na Penha precisaram ser retirados das favelas com guincho. Uma estratégia foi montada para o resgate. Essa foi a razão pela qual a investida não teria dado certo. “Não fazemos operação sem logística. Tem pontos que são impossíveis de se chegar a pé. Com os defeitos dos blindados, o melhor foi recuar. Foi uma decisão preventiva. Vamos pensar em nova estratégia para voltar depois”, disse Beltrame.

Os blindados passaram a noite no pátio do 16º BPM e também foram rebocados até a oficina. A previsão é de que estejam nas ruas em menos de um mês. O Caveirão do Bope foi inicialmente reparado por policiais, mas deixou o batalhão com ajuda do guincho.


Reforços também pelo ar

Os mais recentes alvos dos criminosos, os helicópteros das polícias Civil e Militar, também serão blindados. Como O DIA noticiou dia 16, a partir de janeiro, a Polícia Civil contará em suas operações com o Huey II, aeronave americana com capacidade para 15 pessoas, sendo seis atiradores de precisão. Ele já está sendo chamado de “Caveirão voador”. Fabricado nos Estados Unidos e usado na Guerra do Vietnã, o helicóptero custa R$ 8 milhões.

Já a PM dispõe do modelo AS 350 B2 Esquilo, equipado com sistema de observação a distância, através de uma câmera que capta e grava imagens e localiza objetos e pessoas pelo calor, mesmo à noite. A aeronave, que foi comprada por R$ 7,8 milhões, é de fabricação americana, tem capacidade para seis policiais e possui um gancho que carrega mais de uma tonelada.


SARGENTO SALVA OS CAVEIRÕES

O ‘anjo da guarda’ dos blindados é um sargento do 16º BPM, que, com 18 anos de polícia, adaptou o Caveirão 05 para resgatar tropas e veículos enguiçados nas favelas da Penha. Na quarta-feira, ele ‘socorreu’ seis carros e consertou dois. Uma mangueira de água que rasgou por estilhaços de granadas foi trocada sob fogo cruzado.

O Caveirão de resgate, alvo de 4.600 tiros em dois anos, ganhou trilhos nos pára-choques para derrubar barricadas. A embreagem, agora de trator, suporta maior esforço, e um ar-condicionado de van refresca o inferno dos conflitos de minas, granadas, coquetel molotov e muitos tiros.

O blindado 05, segundo o sargento, salvou mais de 270 policiais que estavam em risco, mas teve que trocar 97 vidros, 103 pneus e 14 pneus blindados, que foram rasgados por explosivos. O carro foi aperfeiçoado para a dura realidade, que afetou o motor e a caixa de marcha de outros blindados na ação de quarta.

“Quando tem um amigo em socorro, você conta com a vontade, a coragem e com o Caveirão para salvar uma vida. Sei que a manutenção é cara, mas mesmo que só tivesse sido um único policial resgatado, já valeria o preço”, afirmou.

Na megaoperação no Alemão, em junho, quando 19 pessoas morreram, o sargento usou retroescavadeira para retirar um caminhão-frigorífico para deixar o blindado passar.


CLIMA DE MEDO E AULAS SUSPENSAS

Um dia após a operação que mobilizou 650 policiais no Complexo da Penha, o clima que permanecia entre os moradores e comerciantes era de medo. A maioria das escolas não funcionou. A informação era de toque de recolher do tráfico. No Ciep Gregório Bezerra, na Penha, as aulas aconteceram somente no período da manhã. Pais e alunos eram abordados na calçada por um homem e orientados a voltar para casa. “Não sei qual é o motivo. Ele só me disse que não tinha aula e que era para trazer as crianças no outro dia”, contou uma dona-de-casa, que não quis se identificar.

A Secretaria Municipal de Educação confirmou que uma creche no Morro da Fé e duas escolas localizadas na área do confronto não funcionaram por causa do tiroteio do dia anterior. A Secretaria Estadual de Educação negou. Explicou que os colégios estavam fechados à tarde porque só abririam novamente no período noturno. No portão da Escola Municipal Luiz Cesar Sayão Garcez, um cartaz avisava sobre a suspensão das aulas.

O comandante do 16º BPM (Olaria), Marcus Jardim, afirmou que é normal que, após uma grande operação, o ritmo de aulas fique comprometido. “A própria vagabundagem não quer que os filhos fiquem sem aula”, comentou ele.

Pela manhã, policiais do 16º BPM fizeram uma operação na Favela Vila Cruzeiro, Penha. Houve intenso tiroteio. Bandidos teriam atirado na direção do batalhão. Segundo PMs, balas teriam atingido o pátio da unidade, mas o comandante nega. Uma central clandestina de TV a cabo foi estourada.

O comandante-geral da PM, Ubiratan Angelo, negou que tenha ocorrido vazamento de informações sobre a operação de quarta-feira. Ele disse que não há nenhuma informação fidedigna que possa levantar suspeitas de que os criminosos ficaram sabendo com antecedência da ação na Penha.



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