quarta-feira, 24 de outubro de 2007

CARTA A UM COMPANHEIRO DE TRINCHEIRA



CARTA A UM COMPANHEIRO DE TRINCHEIRA





Caro Ricardo Neves Gonlalez.


Vim de ler seu post Estado Nazista, onde critica sua excelência, o digníssimo secretário de segurança do Rio de Janeiro por sua infeliz declaração que desmascarou o Estado.

Sinto-me honrado por tê-lo nesse combate ao lado do bom senso, da ética e da Democracia.

Intolero ditadura e ditadores, de maioria ou de minoria, e qualquer passo que conduza à beira desses abismos.

Muitos morreram para que hoje pudéssemos votar ou dizer que o Presidente da República é um sábio ou uma besta, dependendo da posição crítica ou ideológica de cada um, ou do preconceito onde ele exista.

Por essas razões, para mim não há diferença de pele, de crença, de opção sexual, de classe social, ou outra qualquer: muito menos, claro, econômica e social.

O discurso da mídia, sempre fiel como um cão ao seu dono (e certamente não são os pobres), sempre foi o de apontar a razão de faltar comida no prato, de sofrermos com políticas de educação, de saúde, de habitação, etc. aos “fernandinhos-beira-mar” da vida. Como? Apontando para direção diversa do ponto da estrutura que é responsável por tais aberrações; a total ausência de Justiça Social.

Crimes e criminosos são os melhores anestésicos. Apontam por dias (ou meses) para algum crime rumoroso e o povo, como gado, vai na onda. Claro que crimes como o que ceifou a vida de Tim Lopes, de Gabriela, do menino Hélio, são chocantes. Mas nem mais nem menos chocantes que os que acontecem todos os dias, às dezenas, nessa cidade e, às centenas, pelo país. Iguais.

Então um político vai e legisla por mais pena, outro lá clama pela pena de morte ou pela diminuição da idade para a imputabilidade penal, como se fôssemos acabar com a criminalidade através de mais pena.

O que teria de melhor efeito (mas não solução vez que solução apenas se dará através de Justiça Social), é acabar com a impunidade, pois não há bandido que se imagine sendo preso ou punido e vá, mesmo assim, cometer o ato. Não. O criminoso crê que “vi se dar bem” e não está nem aí se a pena é de 10, 100 anos ou de morte.

Balela pensar que se constrói um estado democrático de direito sem garantia aos direitos fundamentais de todos, incluindo os excluídos.

Mas aquela parte da sociedade formadora de opinião aplaude, como aplaudiu a verborragia nazi-fascista de sua excelência. Aliás, a mesma parte que se quedou inerte nos primeiros anos do golpe de 64 e que somente se mobilizou ao se sentir atingida. Quando matavam jovens na época dos anos malditos, a classe média apenas se insurgiu quando viu serem atingidos...seus filhos.

Hoje, o número jovens mortos subiu milhares por cento. Perto do que aconteceu nos anos duros, o que ocorreu no passado, em termos de morte e de tortura é incomparável. Mas, por serem pobres, apenas ouço um "bandido-bom-é-bandido-morto" como se fôssemos todos idiotas a acreditar que a maioria assassinada é culpada.

A classe média e alta não se insurge e até legitima o ofício.

Claro, enquanto não baterem na sua porta com o coturno e mandar sair todo mundo nu para o meio da Vieira Souto, como se faz com os pobres, na ponta de fuzis.

O governo já assumiu que há cidadãos de segunda classe. Eles, os pobres, que se tornaram "os outros".

Falta agora acabar com a hipocrisia e assumir, como alguns já fazem, que pobre não precisa ser julgado.

Culpado ou inocente, basta ser pobre para legitimar o tiro que lhe derem na cara.

Vem-me à memória parte do poema do niteroiense Eduardo Alves da Costa que muitos atribuem à Maiacósvski (em razão do título:"No caminho com Maiacósvski"):

"Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada"

De minha trincheira, ainda que sozinho (mas sei que conto com milhares como você, de bom senso): certamente não calarei, caro Ricardo.

Prezo muito a Democracia e os que por ela tombaram, para ficar na concha...

Minha admiração e respeito, meu caro.

E, grande abraço!

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007.

Paulo da Vida Athos.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

TIRO NA ZONA SUL É DIFERENTE... MATAR POBRE É MENOS TRAUMÁTICO.


Traficantes estão migrando para a Zona Sul, diz secretário

Segundo José Mariano Beltrame, esta é nova estratégia dos criminosos.

Ainda de acordo com o secretário, nessa região o risco das operações policiais é maior.

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, afirmou, nesta terça-feira (23), que os traficantes do Rio estão migrando para a Zona Sul da cidade e deslocando armamentos para as favelas dessa região. De acordo com Beltrame, essa é a nova estratégia do tráfico para evitar prisões e apreensões já que, segundo o secretário, é mais difícil fazer operações na Zona Sul do que em outros pontos, como as comunidades do subúrbio.



Cai a máscara da hipocrisia, ESCUTE A DECLARAÇÃO AQUI



“Buscá-los (os traficantes) na Zona Sul, no Dona Marta, no Pavão-Pavãozinho, 'eu (polícia) estou muito próximo da população'. É difícil a polícia ali entrar. Porque um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra. E aí?”, disse. Segundo o secretário, a repercussão das ações na Zona Sul do Rio é maior, já que os prédios de moradores da classe média ficam perto das favelas.


Beltrame também admitiu que o efetivo da Força de Segurança Nacional no Rio de Janeiro está sendo reduzido por causa da solicitação de outros estados. Após os Jogos Pan-Americanos, o governo federal garantiu que 1,2 mil homens continuariam na cidade até o fim do ano. Mas o próprio secretário nacional de Segurança Pública, Antônio Carlos Biscaia, confirmou que o número está menor. “Já está abaixo de mil (homens). Mas a recomposição já está sendo feita. Esse compromisso de manter 1,2 mil homens está ainda confirmado”, afirmou.


Fonte.

NÃO HÁ DICOTOMIA: HÁ HOLOCAUSTO CONTRA OS EXCLUÍDOS













CABRAL DIZ QUE NÃO HÁ DICOTOMIA ENTRE DIREITOS HUMANOS E ORDEM PÚBLICA











RIO - O governador Sérgio Cabral rebateu, na tarde desta segunda-feira, as críticas de que a polícia do Rio não respeita os direitos humanos. Sem dar nomes, o governador afirmou que os críticos tratam como assuntos distintos direitos humanos e ordem pública. Na semana passada, o governador e a OAB-RJ trocaram farpas após a ação no Morro da Coréia, que resultou na morte de 13 supostos bandidos. A declaração foi feita em uma solenidade no Palácio Guanabara para assinatura de protocolos e intenção na área do turismo.


- A democracia depende de ordem pública. Essa falsa dicotomia entre direitos humanos e ordem pública, que prevaleceu no Rio durante muitos anos, é que levou o estado a isso. Como se direitos humanos e ordem pública não pudessem conviver. Quem mais sofre com aqueles selvagens da Favela da Coréia, com os selvagens da Favela do Alemão, são os moradores do Alemão, são os moradores da Rocinha, Coréia. A cidade inteira sofre, mas os que moram lá sofrem muito mais. A barbaridade é diária.


Subsecretário diz que inteligência nem sempre evita confrontos

Mais tarde o governador afirmou que não estava se referindo às críticas da OAB:

- Acho que a OAB é uma instituição histórica, respeitável, presidida por um advogado que tenho enorme admiração, dr. Wadih. Ele está no papel de discutir o assunto. Não tem que ter da nossa parte nenhum autoritarismo. Temos que discutir, falar francamente. É um debate de idéias. Não há uma posição monolítica. Só quero cada vez mais reiterar que não se tem democracia sem ordem pública. A democracia pressupõe o respeito à ordem. Ninguém concebe que no seu bairro um policial seja recebido a tiros. Em algumas comunidades do Rio o policial não pode entrar porque leva tiro. Isso não é normal.

Em entrevista para o RJ TV, o subsecretário de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, Edval Novaes, falou como o governo pretende agir para atingir as metas de redução da criminalidade.


RJTV - O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, falou em confronto quando for necessário e atuação permanente de inteligência. Que resultado esta estratégia tem trazido para o combate ao crime?

Joca, chega ao Rio vindo de Fortaleza / Foto: Marcos Tristão

Edval Novaes - O resultado tem sido o que a população tem visto: prisões e apreensões. O que é importante frisar é que, apesar da atividade de inteligência, isso não significa que não ocorrerão confrontos. Nós gostaríamos de que as operações sem tiros, como a da prisão do traficante Joca, em Fortaleza , fossem a regra. Mas, infelizmente, muitas vezes os traficantes se encontram em comunidades carentes, encastelados em áreas de difícil acesso para a polícia e, certamente, cercados de muitos seguranças com armamentos pesados.

A população tem passado informações para a polícia, muitas vezes através do Disque-Denúncia. O senhor acha que isso é uma mudança de comportamento dos moradores das comunidades e das áreas vizinhas?

Com certeza. A participação da população tem sido fundamental no auxílio ao trabalho da polícia. Nós pedimos que essa confiança no nosso trabalho permaneça e que, cada vez mais, a população continue denunciando.


Existe alguma forma de proteger essa população em casos de operações onde há tiroteio e confronto?

O que nós buscamos é fazer as incursões da maneira mais cirúrgica possível, em horários onde a população esteja mais protegida. Ou seja, nós procuramos evitar horários de entrada e saída de colégios, de saída e retorno da população ao trabalho. Nem sempre isso é possível, mas é o que nós sempre buscamos.


Que análise o senhor faz dos últimos números do Instituto de Segurança Pública (ISP)?

Um índice importante foi na questão dos homicídios, com um resultado menor em relação a setembro. Mas é interessante destacar também que qualquer estatística tem que fazer uma referência em relação a mais de um período. Neste caso, estamos comparando apenas agosto com setembro. Se nós pegarmos estes mesmo números e compararmos com setembro de 2006, ainda assim nós temos uma queda nos índices. Da mesma forma, se nós pegarmos o acumulado de janeiro até setembro de 2007, nós temos números menores do que o acumulado de janeiro a setembro de 2006. Independente disso, desde que o ISP foi criado, dos 11 principais índices medidos, 8 deles diminuíram no nosso governo, ou seja, de janeiro até outubro.

Enquanto isso, hoje de manhã, 23/10/2007, uma mulher foi baleada na barriga esta manhã no Morro do Andaraí. Segundo a assessoria do hospital, Daniela Ribeiro, 25 anos, está estável, sob avaliação médica na emergência. Ela teria sido atingida durante uma troca de tiros entre traficantes e policiais do Grupamento de Apoio Tático do 6 º BPM (Tijuca).

Me engana que eu gosto...

Fonte

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

POLÍCIA MATA MAIS E PRENDE MENOS: 961 EM 2007.


Número de mortos pela polícia sobe 21% em setembro

Foram registradas no mês 91 mortes; no ano, já são 961



O número de mortos em confronto com a polícia subiu 21,3% em setembro, em relação ao número de pessoas mortas pela polícia no mesmo mês de 2006. Segundo balanço das ocorrências criminais, divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto de Segurança Pública, foram registrados em setembro 91 autos de resistência, contra 75 no mesmo mês do ano passado.

No ano, já são 961 mortos - 154 a mais que o registrado entre janeiro de setembro de 2006 (aumento de 19%). Das 91 mortes em confronto em setembro, 76 ocorreram na capital.

O aumento no número de mortes em confronto contrasta com a diminuição do volume de ocorrências policiais. O número de prisões, por exemplo, caiu de 1.196, em setembro de 2006, para 1.085, em setembro deste ano. No período de janeiro a setembro, foram efetuadas 10.215 - 2.894 ou 22% a menos que o total registrado no mesmo período do ano anterior (13.109). Ou seja, a polícia está matando mais e prendendo menos.

Caiu também em setembro o número de ocorrências de apreensão de drogas (de 901 para 562) e o de apreensão de armas (de 1.089 para 681).

No mês de setembro, morreram em serviço 2 policiais. De janeiro a setembro foram 22 mortos contra 24 no mesmo período de 2006.

Segundo o governo do estado, as análises dos índices são preliminares e podem sofrer alterações na medida em que sejam consolidados os Registros de Ocorrências lavrados nas Delegacias Tradicionais.




Número de homicídios cai 13,9%


Todas as demais ocorrências registraram queda no estado, com destaque a diminuição de 13,9% dos homicídios dolosos. No mês de setembro, foram registrados 283 homicídios, consolidando um total de 4.030 mortes no ano - 650 a menos que as 4.680 registradas no período de janeiro a setembro de 2006. Em relação ao mesmo mês do ano anterior, houve uma queda de 18 % ou menos 499 vítimas.

Destacam-se ainda a queda dos registros de extorsão (- 35,1%), com menos 410 casos; os de atentado violento ao pudor (-20,7%) ou menos 295 vítimas e os de ameaça (-15,7% ) ou 7.491 casos.

No acumulado do ano, chama a atenção o aumento do delito de roubo a transeunte subiu 14,7%, com mais 3.994 casos em relação ao mesmo período do ano anterior. Auto de resistência apresentou alta de 19%, com mais 154 mortos.

Na Região Metropolitana houve aumento, entre outros, em roubo a transeunte, com mais 4.851 casos (15,3%) e lesão culposa de trânsito, com mais 594 vítimas.

Na capital fluminense apresentaram aumento percentual, em comparação ao mesmo período do ano anterior, os registros de roubo a transeunte (17,7%, ou mais 3.942 casos); lesão culposa de trânsito (12,4%) com mais 1.339 vítimas, e homicídio culposo de trânsito, que subiu 12,5%, com mais 72 vítimas.

As maiores quedas de registros da Capital foram de extorsão, com menos 38,1% ou 266 casos, atentado violento ao pudor, que caiu 28,9%, tendo menos 160 vítimas e roubo de veículo que teve queda de 15,6% ou 2.889 casos.

A íntegra do balanço pode ser conferida no site do Instituto de Segurança Pública.


by Darlan Alvarenga


Fonte

domingo, 21 de outubro de 2007

CÂNTICO NEGRO












CÂNTICO NEGRO


José Régio











"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!

QUANDO A POLÍCIA USA INTELIGÊNCIA POLICIAL


ACUSADO DE CHEFIAR TRÁFICO NA ROCINHA É PRESO EM FORTALEZA

Preso estava no aeroporto esperando a namorada.
Investigações começaram no início do ano.

A polícia prendeu na tarde deste domingo (21) João Rafael da Silva, conhecido como Joca, que seria um dos chefes do tráfico da favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio. A Coordenadoria de Informação e Inteligência da Polícia Civil (Cinpol) e a 19ª DP (Tijuca) realizaram a prisão do acusado no Aeroporto de Fortaleza, no Ceará, quando, segundo a polícia, esperava a namorada desembarcar. Os agentes da Cinpol estariam no mesmo avião que ela.

Saiba mais

Segundo a Coordenadoria de Informação e Inteligência da Polícia Civil, João Rafael da Silva estava sendo monitorado há dois meses, desde quando teria deixado a Rocinha com R$ 2,5 milhões. Desde então, o traficante teria ido para um outro estado antes de chegar até Fortaleza. As duas delegacias investigavam a favela da Rocinha desde o começo do ano.

A polícia afirmou ainda que, a partir de uma operação feita na Rocinha, em agosto, prejudicada por vazamento de informações, os agentes conseguiram colher vários dados de moradores da favela através de denúncias. Por causa disso, a ação foi batizada como Operação Cidadão Carioca.

"A prisão de Joca mostra que hoje a polícia do Rio trabalha com objetivos claros, concretos, com missão planejada e com o suporte da inteligência. Nada é aleatório. O segundo ponto é a credibilidade que estamos ganhando junto à população. Sem as informações anônimas, que foram bem trabalhadas, seria muito mais difícil chegar no Joca. E terceiro ponto é o sigilo e a paciência" , comentou o secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame.

Viagem

A Cinpol informou que Joca teria passado pelo estado de Mato Grosso e pelo Distrito Federal, antes de ir para o Ceará. Ele deve ser levado até o Rio de Janeiro na noite deste domingo ou na segunda-feira (22) por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB). Quando ele desembarcar no estado, serão feitas e concluídas investigações de diversas delegacias, como a 15ª DP (Gávea), e das próprias Cinpol e 19ª DP (Tijuca).

Ainda segundo a polícia, além da venda de drogas, o traficante é investigado pela execução, em março, de três menores na Rocinha. Uma das vítimas seria Suellen Moreira, de 15 anos, que namorava o policial Sérgio Luiz de Albuquerque, detido em agosto por suspeita de vazar informações sobre uma operação na favela.

Política assistencialista

De acordo com a Polícia Civil, o traficante costumava adotar uma política assistencialista para conseguir o apoio dos moradores da favela da Rocinha e estaria à frente das negociações com atacadistas de drogas. Joca controlaria o tráfico de drogas na área que ia do Shopping Downtown, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, até o Humaitá, na Zona Sul.

A Polícia Civil disse ainda que Joca integrou a quadrilha de Denir Leandro dos Santos, o Dênis da Rocinha, que morreu enforcado em 2001 no presídio de Bangu I. Ele foi cúmplice ainda de Luciano Barbosa da Silva , o Lulu, morto em confronto com a polícia em abril de 2004.



Fonte

CLASSE MÉDIA APÓIA HOLOCAUSTO DE POBRES


Especialistas e ONGs criticam política de segurança do Rio

Para OAB, polícia do Rio é a que mais mata e que mais morre.

Especialista em violência da Uerj diz que é necessário integração do governo.


A ação da polícia em operações de combate à criminalidade no Rio vem sendo criticada por sociólogos, entidades e ONGs. Na última megaoperação realizada pela polícia, na quarta-feira (17), 12 pessoas morreram, entre elas um menino de 4 anos e um policial civil. Imagens mostraram dois suspeitos fugindo quando eram perseguidos por um helicóptero da polícia. Eles foram baleados e morreram.

Um dos críticos da política de segurança do Rio, Wadih Damous, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), considera que inocentes e policiais são as maiores vítimas da ação policial. Para ele, a ação é uma guerra, que despreza a investigação e o trabalho de inteligência.

“A polícia do Rio é a que mais mata e que mais morre. As cenas da TV sobre a guerra em Senador Camará transformam em realidade a ficção que vemos nos filmes da TV e do cinema. É o resultado de uma política de segurança fracassada que não foi concebida pelo atual governo, pois vem sendo adotada há muitos anos sem resultados. É uma política que despreza os direitos humanos dos moradores pobres e a segurança dos policiais. Não vamos sair do atoleiro enquanto adotarmos esta política.”


Apoio vem da classe média

Para Damous, o apoio às ações policiais vem da classe média, “que tem uma visão parcial dos acontecimentos, por isso ela aplaude as ações violentas da polícia e é adepta do velho ditado que diz que bandido bom é bandido morto.”

“Se esta política fosse boa, teríamos outros resultados no combate ao crime. Até hoje, só temos fracassos e mais fracassos. Não vemos solução para o problema da violência se persistir esta política de troca de chumbo entre polícia e bandido com inocentes no meio do fogo cruzado.”

Em resposta à declaração do governador Sérgio Cabral sobre a operação na Favela da Coréia, Damous declarou, em nota oficial, "não aceitar que o ser humano seja tratado como animal de abate, independentemente do pretexto que o estado adote para agir". Sérgio Cabral havia defendido a atuação da polícia e ironizou ao dizer que não é possível organizar um seminário para pedir aos traficantes que eles devolvam as armas.

O Governo do Estado do Rio de Janeiro informou que reitera que as ações da polícia são planejadas com inteligência, que não deseja o confronto, mas que ele é inevitável. O governo disse que não vai recuar de sua obrigação de buscar e garantir a segurança da população.

É preciso integrar o governo

O professor e coordenador do laboratório de análise de violência da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Trajano, considera que a política de segurança atual apenas difere da anterior no grau de intensidade e agressividade adotado pela polícia.

“Não funcionou nos últimos anos, não creio que vá funcionar agora. Os resultados obtidos até agora são muito ruins. As iniciativas têm um grande impacto na mídia, muita visibilidade, mas têm um custo humano muito alto e nenhuma eficácia. A polícia invade um morro, mata dez traficantes, apreende armas e 15 dias depois o tráfico está ali de novo”, disse ele.

João concorda com a idéia de que é preciso reduzir o poder de fogo do tráfico, mas para ele, é preciso haver uma integração de todas as áreas do governo. “A polícia não pode ocupar um morro para sempre. O que vai acontecer quando a polícia sair? Houve uma redução da política de segurança ao enfrentamento armado do tráfico. O estado tem que se fazer presente quando a polícia sair.”

Para João, o estado tem que fazer com que os moradores das comunidades consigam alcançar seus direitos. Segundo o professor, é preciso que haja acesso à Justiça, regulamentação do uso do solo, oferta de bens, como lazer e cultura e urbanização.


ONGs assinam documento

A ONG Justiça Global, junto com outras organizações, divulgou no dia seguinte da operação na Zona Oeste uma nota de repúdio à ação policial. No documento há um protesto contra a gestão do governador Sérgio Cabral que, segundo a ONG, "dá carta branca” para as incursões de extermínio da polícia. Leia abaixo trechos da carta.

“Há 10 meses a população do Rio de Janeiro vem assistindo a repetidas execuções sumárias de supostos traficantes. As ações da polícia têm provocado medo e terror nas comunidades, impedido o funcionamento de escolas públicas e fechado o comércio local assim como aconteceu no Complexo do Alemão. No dia 27 de Junho de 2007, uma megaoperação nesta comunidade deixou 19 mortos. Desde então, em várias comunidades no Rio, mais de 100 pessoas foram assassinadas durante incursões policiais.

As cenas exibidas pela televisão confirmam que o foco principal da polícia é a execução: dois rapazes, supostamente traficantes, foram perseguidos por helicópteros, alvejados e mortos diante das câmeras. A polícia do Rio insiste em ter como critério de eficiência o alto índice de mortes.”

O documento diz que "a política de segurança pública militarizada que vem sendo implementada por sucessivos governos do Estado do Rio de Janeiro” tem chamado a atenção de organismos internacionais de direitos humanos.

As organizações que assinam o documento exigem investigações sobre todas as mortes ocorridas na Zona Oeste. Entre elas estão o Observatório de Favelas, o grupo Tortura Nunca Mais e a própria OAB.



Fonte

sábado, 20 de outubro de 2007

NINGUÉM NO BRASIL PRATICA CRIMES SEM DAR DINHEIRO À POLÍCIA


UMA ENTREVISTA COM HÉLIO LUZ



Uma revelação do documentário Falcões: meninos do tráfico, exibido no Fantástico do domingo passado, assombrou os brasileiros: crianças vendem drogas com a conivência das autoridades, inclusive as policiais - a quem pagam salários para o funcionamento dos seus negócios. Nenhuma novidade para o delegado aposentado e ex-chefe de Polícia do Rio de Janeiro (de 1995 a 1997, durante o governo de Marcelo Alencar) Hélio Luz, que diz isso há pelo menos 10 anos.

Radicado em Paris (França) desde 2002, Luz, 60 anos, está em Porto Alegre, sua cidade natal e onde residem familiares. Em um shopping da Capital, Luz conversou ontem com Zero Hora sobre o documentário produzido por MV Bill e Celso Athayde, criticou a inexistência de um "projeto de segurança" no país e voltou a bater no que denomina de "banda podre" da polícia.

- Ninguém no Brasil pratica crimes sem dar dinheiro à polícia. Se o cara chegar e cair na besteira de fazer isso, na segunda ou na terceira vez estará na cadeia. A polícia no Brasil é eficiente. Ela sabe quem praticou crime, onde está e como está. Agora, daí a prender e colocar isso no processo é uma distância grande - disse o delegado aposentado, ao longo de 45 minutos de conversa:

Zero Hora - O senhor não deve ter se surpreendido quando meninos revelaram o envolvimento da polícia com traficantes de drogas.

Hélio Luz - No Rio, o problema não era o Comando Vermelho, mas sim o "comando azul", a PM. O problema é a corrupção na polícia. Existe a impressão no Brasil de que a criminalidade é alta. Não é. A corrupção da polícia que é alta. A criminalidade é decorrente da corrupção da polícia. Quando a polícia deixa de ser corrupta, a criminalidade reduz. Quando meninos dizem que participam do salário da polícia, é verdade. O tráfico, na realidade, é um sócio da polícia brasileira.

ZH - O senhor é autor de uma frase polêmica sobre as delegacias especializadas do Rio de Janeiro: "a Roubos rouba, a Furtos furta e a Homicídios mata". Era isso mesmo?

Luz - (Risos) Eu falei um dia em que estava irritado. Eu dirigia a Divisão Anti-seqüestro, no Rio, e estava aporrinhado porque tinha cinco ou seis seqüestros em andamento e havia polícia na outra ponta (seqüestrando). Então, era eu enfrentando policial. Eu falei: "Bom, a partir de hoje a Divisão Anti-seqüestro não seqüestra mais".

ZH - Ela seqüestrava?

Luz - Seqüestrava! Esse é que era o problema. Então, você não conseguia acabar com o seqüestro no Rio porque a Divisão Anti-seqüestro seqüestrava! Ela terceirizava. O traficante ia lá seqüestrava e ela operava o prêmio (resgate). Ela (a polícia) ia para dentro da casa do seqüestrado e depois operava lá na ponta para pegar o dinheiro do resgate.

ZH - Os policiais da Delegacia de Roubos roubavam também?

Luz - Não vou generalizar. Falo sobre o Rio. Não é que a (divisão especializada de) Roubos e Furtos pratique roubo e furto, mas eles vão ser sócios dos ladrões. Falo na prática. Na hora em que enquadrei a Divisão Anti-seqüestro acabou o problema de seqüestro no Rio.

ZH - A analogia serve para roubo e furto de veículos?

Luz - Teve uma época em que aumentaram o roubo e o furto de automóveis no Rio. Então, eu desmanchei a especializada de roubo e furto de automóveis, transformei em uma repartição burocrática. Reduziu o índice (de roubo e furto de veículos). O índice de 1996 foi o menor dos últimos tempos no Rio. Eram eles que roubavam os carros? Não. Mas eles organizavam o roubo de carros do Rio.

ZH - Talvez o senhor tenha sido o primeiro chefe de Polícia que disse para todo país ouvir: "Há uma banda podre na polícia". Isso foi em 1996. De lá para cá, mudou alguma coisa?

Luz - Não vejo mudança. Em uma instituição pública, o controle externo vai lá e retira o corrupto. A instituição continua funcionando normalmente. Na polícia, não. A corrupção é um instrumento utilizado pela polícia. O Estado sabe disso e tolera.

ZH - Essa análise vale para o Rio ou para o Brasil em geral?

Luz - É geral. Talvez a do Rio seja mais corrupta porque é uma das mais velhas do país.

ZH - Como o senhor analisa a intervenção do Exército no Rio?

Luz - Por que o Exército, ao invés de subir as favelas do Rio, não controla a fronteira seca com o Paraguai e a Bolívia? Se fizer isso, o tráfico de drogas e de armas vai cair. Se a Polícia Federal fechar a ponte de Foz do Iguaçu, o roubo de automóvel e o tráfico de armas reduzem. Todo mundo sabe disso. É público e notório. Mas por que não fazem?

ZH - Como o senhor avalia o projeto de segurança do governo Federal?

Luz - Não me parece que haja um projeto. Não parece que esteja entre as prioridades do governo.

ZH - Como está a experiência na França? Há algo que possa ser utilizado no Brasil?

Luz - Não é a oitava maravilha do mundo. Agora, por exemplo, lá houve protestos, manifestantes tocaram fogo em 10 mil veículos, mas a polícia não matou ninguém. É um Estado voltado para sociedade. Ao contrário da nossa polícia, que faz controle social, a polícia francesa dá segurança ao cidadão.

ZH - Na França é tolerado que um policial tenha uma empresa recuperadora de veículos, por exemplo?

Luz - (Risos) Não existe isso.

ZH - As pessoas de um modo geral acham que mais policiais nas ruas significa mais segurança. O senhor concorda?

Luz - É loucura! Os governantes não controlam 10 mil policiais. Aí, eles contratam mais 10 mil. Bom, quem já não controlava 10 mil agora vai ter de administrar 20 mil policiais. O grande problema nesse país é que não há um projeto de segurança. Se deve reduzir o número de policiais, pagar melhor, qualificar. É impossível ter o controle de 80 mil homens da PM ou de 20 mil da Polícia Civil.

ZH - Além de chefe de Polícia, o senhor foi deputado estadual pelo PT. Pensa em voltar à vida pública.

Luz - (Risos) Não. A saúde não permite mais.


Fonte


A PROIBIÇÃO QUE FINANCIA OS FUZIS



















SENHORES DAR ARMAS E DO PÓ




Arsenal que consta em anotações da Favela da Coréia inclui 41 mil balas compradas em 4 meses


Christina Nascimento e Leslie Leitão



Rio - O poder de fogo dos traficantes da Favela da Coréia, em Senador Camará, que travaram um confronto sangrento na quarta-feira, está traduzido na contabilidade apreendida pela polícia. Anotações mostram que somente de janeiro a abril a quadrilha de Robson André da Silva, o Robinho Pinga, que mesmo preso em Catanduvas (PR) controla o tráfico na região, comprou 55 armas, 38 granadas e impressionantes 41 mil balas de diversos calibres. Ontem de manhã, cinco corpos foram deixados próximo ao Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, o que pode elevar para 17 o número de mortos no confronto na Coréia — entre eles um menino de 4 anos e um policial civil.

Parte da documentação apreendida aponta movimentação de R$ 720 mil. Dessa quantia, R$ 242 mil são oriundos do lucro com a venda de sacolés de cocaína. As anotações são uma mostra de que o comércio clandestino de armamentos fatura alto com a criminalidade carioca. Para comprar 200 caixas de balas de fuzil AK-47, 200 de pistola 9 mm, 200 de 45, 100 caixas de PT 380 e 50 de revólver 38, o tráfico desembolsou R$ 177,5 mil.

O que a polícia já sabe é que o principal responsável por fazer todo esse arsenal chegar às mãos da quadrilha de Senador Camará chama-se Valdenício Antunes Barbosa. Mais conhecido como Val, ou “Senhor das Armas”, ele foi identificado e teve a prisão decretada pela Justiça com base na investigação da Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae).


FORNECEDOR ANTIGO

A relação de Val — que, segundo investigações, vive na fronteira do Brasil com o Paraguai — com Robinho é antiga. Em 2001, quando Pinga ainda integrava o bando de Paulo César Silva dos Santos, o Linho, dado como morto, Val chegou a faturar cerca de R$ 1,4 milhão com a venda de fuzis, granadas e pistolas.

Os valores de 2007 também impressionam. Em 24 de março, a ‘caixinha’ registrava saldo de R$ 478 mil. Desse valor, R$ 50 mil foram usados na compra de dois fuzis: um Parafal e um Sig Sauer. Outros R$ 40 mil foram gastos em 3 de abril, para fazer o pagamento de um fornecedor identificado como “Coroa das Granadas”.

A anotação também mostra que R$ 130 mil foram pagos ao “Matuto (fornecedor) do Cunhado” no dia seguinte. Depois, dia 18, mais R$ 25 mil foram gastos com outros dois fuzis calibre 7.62.

Nos primeiros quatro meses do ano, a quadrilha de Pinga — que é controlada por Luiz Cláudio Cândido, o Claudinho Nonô — adquiriu quatro fuzis, duas pistolas e um total de 41.339 balas: 4.100 de fuzil AK-47; 2.949 de 7.62; 280 de 5.56; 13.073 de pistola 45; 11.339 de 9 mm; 1.308 de PT 380; 5.850 de calibre 40; e 2.500 de revólver 38.


ARMAS INÚTEIS

Nessa última operação, foram apreendidas uma metralhadora antiaérea ponto 30, cinco fuzis, seis pistolas e quatro granadas. Material avaliado em R$ 200 mil. Um fuzil FAL calibre 7.62, com brasão do Exército, foi encontrado. A polícia tenta agora descobrir quem é o militar, identificado como “Selva”, que aparece nos papéis recebendo R$ 3 mil pela venda de balas de 7.62 e 9 mm, em 10 de fevereiro.

Apesar de as armas terem sido retiradas das mãos dos bandidos, elas vão para o depósito e ficam inutilizadas. Ontem, o governador Sérgio Cabral criticou o procedimento: “Elas deveriam ser reaproveitadas pela polícia”.


FOGOS DE ARTIFÍCIO NO ENTERRO DE TRAFICANTES

Sete dos 10 bandidos encontrados mortos na quarta-feira foram enterrados ontem. Cinco sepultamentos ocorreram no Cemitério de Campo Grande. Ônibus e vans levaram cerca de 50 moradores da favela à cerimônia, que teve fogos em homenagem aos mortos e policiamento reforçado para evitar protestos.

Velados juntos, os corpos de Marcus Vinícius Ramos Pinto, 17 anos, Luís Cláudio da Silva Ferreira, 33, Tiago do Nascimento Ignácio, 22, Leonardo Caetano de Souza, 20, e Leandro Gomes Matos, 17, foram enterrados em covas rasas.

Também de manhã, Leandro Vinícius dos Santos, 21 anos, foi enterrado no Cemitério Jardim da Saudade de Sulacap, e Paulo Cezar Correa Linhares, 22, no Jardim da Saudade de Paciência. Os outros três bandidos continuavam sem identificação no Instituto Médico-Legal até a noite de ontem. Dos mortos já identificados, dois tinham passagem pela polícia: Leandro já foi preso armado e com um carro roubado; Paulo Cezar foi detido por tráfico.

O governador Sérgio Cabral disse que as operações vão continuar: “Se eu pudesse pedir para os marginais devolver as armas, faria. Mas infelizmente não é assim. Esses traficantes da Favela da Coréia estavam na Avenida Santa Cruz, em frente à favela, fazendo blitz, a qualquer hora do dia ou da noite, para tocar o terrorismo dentro da comunidade e fora. São verdadeiros criminosos selvagens”.

O deputado estadual Alessandro Molon, da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, pediu ontem ao Ministério Público que acompanhe as investigações sobre a operação.


A VIDA POR UM CORDÃO

Desde quarta-feira, o delegado Rodrigo Oliveira, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), tem no corpo não só fragmentos da bala de fuzil que o atingiu no pescoço na operação da Coréia. Um pedaço do cordão de ouro que usava naquele dia está alojado bem próximo da coluna, pouco abaixo do ferimento. O policial, que se recupera em casa, será submetido a uma cirurgia para a retirada dos objetos daqui a dois meses.

O delegado lembra com clareza o que aconteceu depois de ser baleado. Rodrigo conta que teve de subir um trecho do morro de cerca de 200 metros até chegar ao helicóptero que o socorreu: “Fiquei preocupado porque não sabia até onde conseguiria ir ferido daquele jeito. Mas graças a Deus consegui escapar da morte”.

O policial estava em um blindado e foi dar apoio a outras equipes que trocavam tiros perto da casa do menino Jorge Kauã. Quando o garoto chegou ferido, trazido por um agente, o delegado saiu do veículo e seguiu a pé para ajudar os outros policiais. “Eram muitos tiros.

Os marginais atiravam na direção da equipe que estava na frente da casa. Tentei fazer um cerco nos fundos, mas fui baleado e caí. Não me recordo exatamente da hora em que isso aconteceu, mas lembro que, quando cheguei ao hospital, meu relógio marcava 12h30. Estranhamente ele parou de funcionar depois disso”, relatou Oliveira.

À frente da força de elite da Polícia Civil, ele já participou de vários confrontos e nunca havia sido atingido. “Acredito numa força maior, num Deus que nos protege sempre. Mesmo ferido, escapei da morte. Agora tenho duas datas de nascimento.”

O ministro da Defesa, Nélson Jobim, elogiou a operação da polícia na Favela da Coréia. “Há uma necessidade de ir para o confronto. O resultado de outras políticas foi um zero à esquerda”, afirmou. (Maria Inez Magalhães)

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sexta-feira, 19 de outubro de 2007

LIBERAR A DROGA PARA NÃO FINANCIAR FUZIS









DA FAVELA À DROGARIA








A discussão tabu sobre a legalização das drogas como forma de destruir econômicamente o tráfico e reduzir o morticínio a um problema de saúde pública emergirá mais cedo ou mais tarde.


Alfredo Sirkis


A capacidade de reposição e reprodução do tráfico lembra um monstro da mitologia grega: a Hidra de Lerna. Tinha muitas cabeças e cada vez que uma era cortada, nasciam várias outras. As drogas, para além dos eventuais efeitos negativos sobre a saúde pública, constituem a base de uma gigantesca atividade econômica, cujo impacto é infinitamente mais grave e destruidor do que os efeitos negativos do seu uso ou abuso. Os bandidos armados de AR-15, ocupando territorialmente a favela, são apenas a ponta visível do iceberg do tráfico na própria comunidade. São a falange militar de um sistema de distribuição comercial que emprega mães de família e até idosos, que embalam, crianças que funcionam de mensageiros e fogueteiros e mais uma série de atividades consorciadas, algumas de entretenimento, festivas e musicais. Toda uma cultura fascistóide se forma ao redor dessa atividade econômica, realçando valores machistas, bairristas e sádicos.

O tráfico é uma poderosa fonte de riqueza no meio da pobreza e ceva as “bandas podres” das polícias, da justiça e do sistema penitenciário. Um jovem em busca de trabalho ganhará muito mais como “avião” do que como pedreiro, balconista ou eletricista. O status de traficante lhe granjeará “respeito”, objetos de consumo cobiçados, atenção feminina. Valores éticos e religiosos e o medo da morte nunca impediram a reposição daqueles freqüentemente eliminados. Gerações sucessivas vão surgindo, com uma tendência à produção de bandidos cada vez mais jovens, “bolados” e cruéis. Sua movimentação agora é um ataque frontal à sociedade e ao Estado, numa fase inicial, tosca, que poderá ainda piorar muito.

O tráfico existe em função do mercado composto de viciados e usuários menos ou mais eventuais. A repressão nesta ponta, que atualmente volta a ser objeto de propostas e campanhas de mídia, é ineficaz. Seria realista prender usuários quando não há lugar suficiente nas prisões sequer para os bandidos violentos? A idéia da descriminalização do usuário vem avançando lentamente, de forma oblíqua. Ela pode eventualmente coibir uma maior interferência policial na privacidade dos mesmos e limitar a extorsão a ela vinculada, mas não altera o “x” do problema e traz consigo a incoerência da procura ser tolerada mas a oferta ilegal.

Para reduzir o uso e abuso de drogas ilícitas existe um único caminho viável que o mesmo que se aplica, com sucesso, às drogas legais: a educação e a prevenção. Qualquer ex-tabagista sabe como é duro deixar o cigarro, no entanto, cada vez menos gente fuma. Todas drogas, tanto lícitas como ilícitas, acarretam potencialmente algum dano, maior ou menor, mas seus efeitos e eventual dependência são socialmente secundários e muito menos graves que as conseqüências devastadoras da ilegalidade da drogas como motor de uma economia subterrânea e pivô das disputas pelos seus mercados. No Rio de Janeiro morrem por ano menos de cem pessoas por overdose de cocaína. Essas mortes poderiam ser reduzidas se houvesse um maior controle medico sobre dependentes e substâncias. Não há comparação de escala entre a mortandade por intoxicação química e o morticínio de milhares de pessoas mortas nas guerras pelos mercados de drogas. Além desse massacre a sociedade sofre com o imenso poder corruptor e intimidador dessa atividade cujas metástases se espalham pelas comunidades, pelas polícias, por outras instituições. O tráfico praticamente destruiu o movimento associativo nas favelas, por exemplo.

Os defensores da descriminalização do usuário, em geral, se originam na esquerda e abordam a questão sob o ângulo dos direitos civis, da não ingerência do estado na privacidade das pessoas. Já a defesa da legalização, aparentemente mais extremada, têm curiosamente seus principais defensores, num campo mais conservador. A revista inglesa The Economist, o premio Nobel de Economia Milton Friedman, o promotor Vicent Bugliosi, o jornalista William Buckley Jr são alguns desses pensadores que partem de um amargo realismo. Seu argumento é de uma radical simplicidade: queremos destruir o tráfico? Então vamos acabar com sua base econômica permitindo a compra legal e controlada das drogas ilícitas... na drogaria. Regula-las, cobrar impostos sobre elas e dar-lhes o mesmo tratamento das drogas hoje lícitas, mas, nem por isso, menos nocivas à saúde.

No início, raciocinam eles, o consumo poderia até aumentar, pela novidade, mas a médio prazo, provavelmente, cairia, como o do cigarro, mercê de campanhas educativas e prevenção. O problema das drogas sairia assim do âmbito do morticínio, da guerra pelos mercados, dos desafios armados ao estado e à sociedade e se concentraria no campo da saúde pública. A droga deixaria de matar a bala milhares de pessoas e construir impérios. Continuaria a matar, de overdose, algumas dezenas de drogados crônicos ou temerários. Cessaria a relação perversa entre o viciado e o traficante. Um mal maior seria assim reduzido a um mal menor. O exemplo invariavelmente citado por esses pensadores é o da Lei Seca. Ao tentar impedir os americanos de encherem a cara o presidente Hubert Hoover, nos anos 20, acabou criando Al Capone e uma geração de traficantes de álcool ilegal. Legalizado novamente, nos anos 30, por Franklin Roosevelt, o alcool continuou a ser um flagelo social e de saúde mas parou de alimentar o gangsterismo armado. A solução defendida por The Economist , Friedman, Buckley Jr e outros talvez não seja viável, a curto ou médio prazo, em um só país, isoladamente. Mas debate-la deveria deixar de ser um tema tabu.

Fonte

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

OPERAÇÃO NA FAVELA DA CORÉIA: MODELO LETAL


OPERAÇÃO NA FAVELA DA CORÉIA: MODELO LETAL




Por Paulo da Vida Athos.



Quando o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, em 17/10/2007, após operação em favela que deixou um saldo de 12 mortos, entre eles um menino de 4 anos e um policial civil, e mais 5 policiais feridos, vem a público para afirmar que aquela foi uma “operação que será modelo para combater tráfico” e que a “reação (dos bandidos) não surpreende. Graças ao esforço e profissionalismo da inteligência temos conseguido fazer operações com planejamento. Mesmo assim, acontecem incidentes dolorosos como a gente não quer de forma alguma que ocorra”, creio que sua excelência julga a todos nós como idiotas, ou minimamente destituídos de um mínimo de raciocínio para não reconhecer essa política de segurança letal que está sendo aplicada nas favelas da cidade.

Como resultado do “esforço e profissionalismo da inteligência”: uma dúzia de cadáveres. Não tenho como parabenizar a inteligência de sua excelência, nem o que ele considera como tal, tecnicamente falando, no plano da segurança pública. Não chupo essa manga!

Para se ter uma idéia dessa política mortal, segundo a AGÊNCIA BRASIL, as “áreas em torno das favelas do Complexo do Alemão, Vigário Geral e outras comunidades da zona norte do Rio tiveram um salto nas estatísticas sobre a violência em 2007. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do estado, foram 91 assassinatos e 111 mortes sob a alegação resistência - essas são as pessoas mortas pela polícia por supostamente resistirem à prisão. Ou seja: a polícia está matando mais que os criminosos naquela área. No placar macabro o time do Estado está com um saldo positivo de dez mortes.

Para mim, longe de inteligência, isso é um atestado de incompetência e brutalidade.

Muito coerente a postura de alguns setores da sociedade e do governo em doutrinar que a preocupação com direitos humanos é o mesmo que solidariedade com criminosos. Dessa forma, através de seus instrumentos mais eficazes, o rádio a televisão e o jornal, esses setores impedem com que a sociedade como um todo, principalmente aquela parcela historicamente formadora e cristalizadora de opinião, que é a classe média, atente para o fato de que um holocausto está em andamento.

O estudo feito pela Organização dos Estados Ibero-Americanos, em 2006, já colocava o Brasil como líder em jovens mortos por arma de fogo e entre os Estados brasileiros, o que apresentava as maiores taxas de homicídio na população jovem era o Rio de Janeiro (102,8 mortes por 100 mil jovens). De lá para cá ninguém duvida que as coisas por aqui, pioraram.

Em 2007 um relatório da ONU consignou que “São Paulo tem 1% dos homicídios de todo o mundo e, no Brasil, 100 pessoas morrem por dia, em média, vítimas de armas de fogo. A capital paulista e o Rio representam metade dos crimes violentos no País”.

Talvez sua excelência considere que 50 mortes por dia no Rio de Janeiro seja um grande sucesso em Segurança Pública. Talvez você que está lendo nem saiba dessa cifra que nos envergonha. Talvez a “carta branca” dada a sua excelência pelo senhor governador do Rio de Janeiro devesse ter outro nome, ou outra cor para o nome - creio que um vermelho-sangue fosse a cor mais apropriada para a tal carta - , mas estamos diante de um silencioso extermínio e quanto a isso não tem talvez.

Sim, senhoras e senhores, estamos diante de um holocausto em relação ao qual os responsáveis sabem desde sempre que não precisarão prestar contas a ninguém. Não é preciso nem dar explicações para a cena que invadiu nossas casas pela TV, de dois marginais tentando fugir das balas disparadas de um helicóptero - enquanto o narrador afirmava que os bandidos estavam armados – até serem abatidos como coelhos. Muito menos quanto aos corpos que chegam baleados pelas costas ou com balas na nuca, em sinais evidentes de execução, que chegam às centenas, por mês, no Instituto Médico Legal. Estamos legitimando essa barbárie e não teremos moral, amanhã, para reclamarmos quando ela bater à nossa porta.

Em 2004 o cientista social e antropólogo e Luiz Eduardo Soares afirmava que a “maioria das instituições de segurança pública, particularmente as polícias, na maior parte dos estados, é ingovernável’’, segundo ele, a crise no setor tem três vetores: falta de eficiência, brutalidade e corrupção. Onde é possível medir isso, o resultado é assustador. No ano passado, 1.195 pessoas foram mortas em ações policiais no Rio — mais de 65% com sinais de execução, como tiro por trás e à queima roupa. Nos últimos oito anos, essas mortes cresceram 298% no estado”.

E essa política de extermínio de suspeitos colocada em prática pelo Estado, e que a mídia se esforça para não revelar, demonstra, de forma insofismável, que o aparelho repressivo-policial não mais está submetido ao poder e ao controle do judiciário, pautado nas balizas da democracia, da constitucionalidade e da legalidade.

Hoje esse descaso com a vida está muito pior.

Estamos em uma escalada de violência fascista, sem dúvida. Para cada morte de um jovem da classe média ou alta, morrem 100 jovens pobres. As favelas viraram guetos e de guetos passaram a campo de batalha, onde o Estado somente se faz presente através da força policial-militar.

Notícia de uma morte já nem é nota de roda-pé nas redações. Não vende e deseduca.

Apenas aquelas como as de ontem, da matança na favela da Coréia, onde mais de uma dezena de jovens perderam a vida são veiculadas. E assim mesmo com certo ar de justificação por parte da mídia engajada nesse projeto neofascista, revelando a aplicação descarada da doutrina enunciada por Günther Jakobs, dissecada na teoria do Direito Penal do Inimigo no combate à criminalidade, que ao fim e ao fundo demonstra que algumas pessoas ou grupo de pessoas são tratadas como cidadãos de segunda categoria, sem os mesmos direitos conferidos aos cidadãos de primeira categoria. Eles, os favelados, são “os outros”.

Não me acenem com o discurso que legitima essa doutrina do tipo:

“- Quer o que, subir a favela com flores?”

Não! Nem flores nem fuzis!

Quero aquilo que é basilar para o Estado Democrático de Direito: respeito e garantia para com a cidadania de todos.

O que quero, é que não existam: “os outros”!



Foto: O Globo.

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