domingo, 21 de outubro de 2007

CLASSE MÉDIA APÓIA HOLOCAUSTO DE POBRES


Especialistas e ONGs criticam política de segurança do Rio

Para OAB, polícia do Rio é a que mais mata e que mais morre.

Especialista em violência da Uerj diz que é necessário integração do governo.


A ação da polícia em operações de combate à criminalidade no Rio vem sendo criticada por sociólogos, entidades e ONGs. Na última megaoperação realizada pela polícia, na quarta-feira (17), 12 pessoas morreram, entre elas um menino de 4 anos e um policial civil. Imagens mostraram dois suspeitos fugindo quando eram perseguidos por um helicóptero da polícia. Eles foram baleados e morreram.

Um dos críticos da política de segurança do Rio, Wadih Damous, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), considera que inocentes e policiais são as maiores vítimas da ação policial. Para ele, a ação é uma guerra, que despreza a investigação e o trabalho de inteligência.

“A polícia do Rio é a que mais mata e que mais morre. As cenas da TV sobre a guerra em Senador Camará transformam em realidade a ficção que vemos nos filmes da TV e do cinema. É o resultado de uma política de segurança fracassada que não foi concebida pelo atual governo, pois vem sendo adotada há muitos anos sem resultados. É uma política que despreza os direitos humanos dos moradores pobres e a segurança dos policiais. Não vamos sair do atoleiro enquanto adotarmos esta política.”


Apoio vem da classe média

Para Damous, o apoio às ações policiais vem da classe média, “que tem uma visão parcial dos acontecimentos, por isso ela aplaude as ações violentas da polícia e é adepta do velho ditado que diz que bandido bom é bandido morto.”

“Se esta política fosse boa, teríamos outros resultados no combate ao crime. Até hoje, só temos fracassos e mais fracassos. Não vemos solução para o problema da violência se persistir esta política de troca de chumbo entre polícia e bandido com inocentes no meio do fogo cruzado.”

Em resposta à declaração do governador Sérgio Cabral sobre a operação na Favela da Coréia, Damous declarou, em nota oficial, "não aceitar que o ser humano seja tratado como animal de abate, independentemente do pretexto que o estado adote para agir". Sérgio Cabral havia defendido a atuação da polícia e ironizou ao dizer que não é possível organizar um seminário para pedir aos traficantes que eles devolvam as armas.

O Governo do Estado do Rio de Janeiro informou que reitera que as ações da polícia são planejadas com inteligência, que não deseja o confronto, mas que ele é inevitável. O governo disse que não vai recuar de sua obrigação de buscar e garantir a segurança da população.

É preciso integrar o governo

O professor e coordenador do laboratório de análise de violência da Universidade

do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), João Trajano, considera que a política de segurança atual apenas difere da anterior no grau de intensidade e agressividade adotado pela polícia.

“Não funcionou nos últimos anos, não creio que vá funcionar agora. Os resultados obtidos até agora são muito ruins. As iniciativas têm um grande impacto na mídia, muita visibilidade, mas têm um custo humano muito alto e nenhuma eficácia. A polícia invade um morro, mata dez traficantes, apreende armas e 15 dias depois o tráfico está ali de novo”, disse ele.

João concorda com a idéia de que é preciso reduzir o poder de fogo do tráfico, mas para ele, é preciso haver uma integração de todas as áreas do governo. “A polícia não pode ocupar um morro para sempre. O que vai acontecer quando a polícia sair? Houve uma redução da política de segurança ao enfrentamento armado do tráfico. O estado tem que se fazer presente quando a polícia sair.”

Para João, o estado tem que fazer com que os moradores das comunidades consigam alcançar seus direitos. Segundo o professor, é preciso que haja acesso à Justiça, regulamentação do uso do solo, oferta de bens, como lazer e cultura e urbanização.


ONGs assinam documento

A ONG Justiça Global, junto com outras organizações, divulgou no dia seguinte da operação na Zona Oeste uma nota de repúdio à ação policial. No documento há um protesto contra a gestão do governador Sérgio Cabral que, segundo a ONG, "dá carta branca” para as incursões de extermínio da polícia. Leia abaixo trechos da carta.

“Há 10 meses a população do Rio de Janeiro vem assistindo a repetidas execuções sumárias de supostos traficantes. As ações da polícia têm provocado medo e terror nas comunidades, impedido o funcionamento de escolas públicas e fechado o comércio local assim como aconteceu no Complexo do Alemão. No dia 27 de Junho de 2007, uma megaoperação nesta comunidade deixou 19 mortos. Desde então, em várias comunidades no Rio, mais de 100 pessoas foram assassinadas durante incursões policiais.

As cenas exibidas pela televisão confirmam que o foco principal da polícia é a execução: dois rapazes, supostamente traficantes, foram perseguidos por helicópteros, alvejados e mortos diante das câmeras. A polícia do Rio insiste em ter como critério de eficiência o alto índice de mortes.”

O documento diz que "a política de segurança pública militarizada que vem sendo implementada por sucessivos governos do Estado do Rio de Janeiro” tem chamado a atenção de organismos internacionais de direitos humanos.

As organizações que assinam o documento exigem investigações sobre todas as mortes ocorridas na Zona Oeste. Entre elas estão o Observatório de Favelas, o grupo Tortura Nunca Mais e a própria OAB.



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