quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

MEUS AMIGOS SECRETOS


Meus secretos amigos




por Garth Henrichs



Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida m outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade, e eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morridos todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.

Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar! Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.

E, às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de quanto me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que tremulamente construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu oro pela vida deles.

E me envergonho porque essa prece é, em síntese, dirigida ao meu bem-estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando aquele prazer...

Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

"A gente não faz amigos, reconhece-os."



Texto apresentado a mim por minha irmã amada.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

JANGO FOI ASSASSINADO?








MPF começa a investigar suposto assassinato de Jango








Rio de Janeiro, 21 fev (EFE). O Ministério Público Federal (MPF) começará a investigar amanhã a morte do ex-presidente João Goulart, e as partes litigantes se propõem a expor o caso como mais um dos crimes das ditaduras sul-americanas, segundo familiares de Jango.

A primeira audiência deve acontecer amanhã na Procuradoria Regional da República na 4ª região (sede em Porto Alegre).

"Queremos conscientizar a Procuradoria sobre a importância que tem tudo isto", explicou à Agência Efe o advogado Christopher Goulart, neto de Jango e encarregado de representar a família no processo civil.

"Não se trata apenas de uma investigação sobre a morte do ex-presidente Jango, o que tem uma importância histórica, mas também trata o tema dos direitos humanos nos países da América do Sul", acrescentou Christopher.

Segundo o advogado, a família Goulart acredita que o processo pode levar à denúncia de outros casos de pessoas perseguidas e mortas pelas ditaduras militares sul-americanas nos anos 60, 70 e 80.

Jango ficou no poder de 1961 a 1964, quando foi derrubado pelo golpe militar. Morreu no exílio na Argentina, em 1976, devido a um infarto, segundo a versão oficial.

Sua família e alguns historiadores, porém, suspeitam de que Jango foi envenenado por agentes uruguaios infiltrados, sob o comando dos militares brasileiros.

João Vicente Goulart, filho do ex-presidente, disse à Efe que a morte de seu pai foi "encomendada pelo Governo militar brasileiro em uma operação internacional que teve o apoio das demais ditaduras da região".

João Vicente atribui o assassinato de Jango a "um consórcio, uma cooperativa do crime" organizada pelas ditaduras sul-americanas antes mesmo da famosa Operação Condor.

No final de 2007, a família pediu à Procuradoria Geral uma investigação do suposto assassinato, em meio a um esforço de recuperar a memória histórica do político reformista, visto com maus olhos pelos militares de direita em pleno auge da Guerra Fria.

O filho de Jango também propôs recentemente à Comissão de Direitos Humanos a criação de um acordo entre os países do Mercosul para agilizar a troca de informações sobre assassinatos e desaparecimentos registrados nestes países durante suas ditaduras militares.

Esta semana, a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou a criação de uma comissão para investigar a morte de Jango.

Segundo o deputado estadual Adroaldo Loureiro (PDT/RS), a comissão pretende colaborar com a investigação realizada pelo MPF solicitada pelo Instituto João Goulart, presidido pelo filho do ex-presidente.

"Existe uma forte suspeita de que o ex-presidente não sofreu um infarto, mas foi envenenado", disse na quarta-feira o deputado ao justificar a reabertura das investigações.

Em 2000, o Congresso iniciou uma investigação que não chegou a conclusões firmes sobre a tese do assassinato, mas já supunha que a morte de Jango estava relacionada com algo parecido à Operação Condor, conforme lembrou hoje o filho do ex-presidente.


Fonte

Foto

Colaboração da companheira
Auriluz Pires

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

MILÍCIAS, A SEMENTE DO MAL: PODER PÚBLICO É RESPONSÁVEL.








Disputa por comando



Cabral sobre milícias: 'poder público abandonou essas comunidades'



RIO - O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que o 9º BPM (Rocha Miranda) vai manter um policiamento na entrada da favela Palmeirinha e num ponto de saída da comunidade. A milícia que controlava a favela foi presa na sexta-feira e, no domingo, um bando armado invadiu a favela agredindo moradores e teria seqüestrado duas pessoas . Segundo Beltrame, este "é o policiamento que podemos ter ali neste momento. A milícia é um perigo assim como o tráfico. Temos que combater os dois. Se combatermos um e outro entrar, a polícia tem que ir retirar". O governador Sérgio Cabral também comentou o problema.


- O poder público abandonou essas comunidades. Então, lá nessas comunidades, não tem escola, não tem esgoto, não tem posto de saúde e também não tem segurança. Ou é o tráfico de drogas ou é a milícia. Nós estamos invertendo isso. Não é fácil, mas estamos no caminho certo: combater a marginalidade, seja ela do tráfico de drogas, seja ela da milícia - afirmou Cabral.



Favela amanheceu sem policiamento nesta segunda

Três traficantes suspeitos de retomar o poder na favela de forma violenta, no domingo, já foram identificados. Dois moradores ainda estão desaparecidos. Na manhã desta segunda-feira, não havia policiamento na Favela da Palmeirinha. No fim da tarde, duas patrulhas circulavam no acesso à favela.

- Se deixar sem segurança, do jeito que está, vai piorar ainda mais - criticou um morador.

No momento da invasão dos traficantes, na madrugada de domingo, os moradores contaram que telefonaram para a Polícia Militar.

- Ligamos. Muitos moradores ligaram e eles não vieram: não compareceram em momento nenhum - afirmou outro morador da comunidade. A Polícia Militar afirmou que não recebeu nenhum chamado, no domingo, sobre a invasão da Favela da Palmeirinha.

Na sexta-feira passada, quatro chefes da milícia foram presos na Favela da Palmeirinha. Dois dias depois, sem policiamento, o território ficou livre para a ação de traficantes. Moradores contam que eles invadiram uma casa e espancaram um casal, que desapareceu: A vendedora Josefa do Nascimento, de 28 anos, e o garçom Marcelo Gregório da Silva, de 36 anos.

Nesta segunda-feira, a Polícia Civil descobriu que um dos corpos encontrados no domingo, dentro de um carro incendiado na Avenida Brasil, é o de Marcelo, suspeito de integrar a milícia e irmão de um dos presos , Bruno Gregório Siqueira Nascimento, que é ex-soldado da Polícia Militar. Marcos acompanhou o enterro do irmão sob escolta policial. Somente um exame de DNA poderá confirmar se o outro corpo é o da vendedora.

Segundo a Draco, os milicianos da Palmeirinha dominavam pelo menos outras quatro favelas: Fernão Cardim, Águia de Ouro e Guarda, em Del Castilho; e o Morro da Coroa, no $éier. O chefe do grupo é Fabrício Fernandes Mirra, soldado Batalhão Ferroviário e ex-fuzileiro naval, que está foragido. Até agora 13 milicianos foram indiciados pela Draco, sendo que sete estão presos.


Fonte: G1

Foto: O GLOBO

ACRÓSTICO II


PAULO ATHOS ACRÓSTICO



por Odemar Leotti*




Pausas, passagens, paradas, pensares, pulsares mais e menos fortes,

Atalhos redemoinhos espirais, ponto incógnito, pontos incapturáveis

Uivos, urros, uma voz fala consigo mesmo e não mais se lê como antes

Leituras múltiplas que fogem de nosso controle levada pelo corpo

Ocultações a si mesmo. Fugas e perdições e o fervilhar embaralhado



Atonicidades sempre existiram e não espantam mais os viajantes

Todas as estradas pertencem somente a quem sempre viaja

Honrar a vida é fabricá-la em várias viagens para fora dela

Ornamentá-la quando prazerosa, cheirosa e gostosa.

Suspendê-la quando viçosa e sem o brilho de um amanhecer.


*Mestre em História Social pela Unicamp em 1998, lotado no Departamento de História da Universidade de Mato Grosso, escreve para o jornal O REBATE, a quem agradeço a imerecida homenagem.

MILÍCIA: A SEMENTE DA FARC CARIOCA, UMA SEMENTE DO MAL


O poder das milícias no Rio de Janeiro



Clique aqui e veja o vídeo.

Gravações telefônicas feitas pela polícia revelam os bastidores de um poder paralelo que se espalhou pelo Rio: as milícias, grupos controlados por policiais-bandidos, responsáveis por extorsões e homicídios. Você vai ver o depoimento de um homem que resolveu desafiar a lei imposta pelas milícias e pagou caro por isso.

Não se trata de roubo de carros. É muito pior. Carrões em uma favela? São de policiais. Um Omega importado blindado? O dono é um simples soldado. Um Vectra prateado? De outro soldado. São policiais que fazem parte de uma milícia no Rio de Janeiro, uma atividade muito rentável, ilegal e brutal.

Para um policial prender um colega gera constrangimento, além de uma duvida técnica: atrás ou na frente? Onde levá-lo? "Quando o negão vai entrar no camburão? Ele é 'polícia'", disse um policial.

A cortesia de ir na frente não é estendida a outros presos. Em uma operação, realizada na sexta-feira (22), quatro homens foram presos. Ela foi feita pela delegacia que combate o crime organizado - e a milícia está bem organizada.

É verdade que tudo ainda é muito rudimentar. As listas são manuais, com a contribuição obrigatória de cada casa e de cada comerciante. A cada dia, o bolo vai crescendo. É uma lista de taxas cobradas.

Quem vive nessas comunidades tem que pagar pelo gás, pelo acesso ilegal à internet, pelo acesso ilegal à TV a cabo, pelo transporte de mototáxi ou de van e para a compra e venda de qualquer imóvel. A lista dessas taxas impostas pela força continua a crescer. Sentinelas das milícias ficam em locais estratégicos e vão se alimentando como parasitas do dinheiro de todos.

O que era um problema das favelas, das comunidades pobres, está se expandindo em direção às ruas e aos bairros dos subúrbios. Para se ter uma idéia da audácia desse grupo que foi preso, eles estavam construindo uma guarita no meio da avenida, como se fosse um posto de fronteira, para monitorar o entra-e-sai dos moradores.

É assim que eles vão se apossando de pedaços da cidade. Isso ao lado da Avenida Brasil, a principal via de acesso ao Rio de Janeiro. A milícia agia na área como um governo soberano.

"Começa a ocupar bairro como se fosse uma ocupação de um estado, um domínio daquela área ali. Começa a ter uma evolução espacial. E isso cria um problema na comunidade terrível, porque a comunidade passa a se sentir desprotegida, passa a não ter esferas do poder público a quem recorrer", afirma o delegado Cláudio Ferraz.

Na investigação, conversas da milícia foram gravadas e mostram de que forma a violência vai sendo aplicada - até contra feirantes.

Fabrício Mirra, foragido: Porque vai ser feito um cadastro, irmão. Se tiver 60 barracas ali, as 60 barracas vão ter que colaborar. Se 59 "colaborar" e uma não colaborar, essa uma vai ser convidada a se retirar.

Como esse convite é feito? Com violência.

Mulher: Ele não sabe que você também faz cirurgias nas pessoas.

Luciano Carneiro, foragido: Sem anestesia, né?

Mulher: Só que sua anestesia é manual.

A milícia faz questão de ser extremamente violenta. Assassinatos com dezenas de tiros são comuns. Trata-se de um recado para os que tentam resistir.

Mas nem sempre isso dá certo. Cada vez mais gente tem denunciado esses crimes. Um homem se negou a pagar à milícia. Foi enrolando, enrolando, até que deu um basta.

"Eu fui repetindo aquelas desculpas até o momento em que achei conveniente agir daquela outra forma. ‘Não te contratei, voce vai ter que me levar a quem te contratou, porque ele é que tem que te pagar, não sou eu. Você não trabalha para mim, nem teu patrão. Não tenho nada que pagar a vocês’", disse o homem.

Pouco depois, o filho único dele foi assassinado. Essa e outras mortes aconteceram em uma região do Rio de Janeiro onde a policia aponta que o vereador Jerominho Guimarães e o deputado estadual Natalino Guimarães sejam líderes de milícia. Os dois já foram indiciados pelo Ministério Público. O vereador está preso.

A atuação deles é denunciada também por outra pessoa: o advogado André de Paula.

"Pegaram os terrenos vazios, inclusive a grande área de lazer da comunidade, e venderam para uma igreja. E os outros terrenos vazios também começaram a vender, como se fossem donos. Então, estamos denunciando. E aí as ameaças de morte vêm se avolumando, sempre através de terceiros. Caso alguma coisa aconteça comigo, estamos responsabilizando o deputado estadual Natalino e o vereador Jerominho", acusa o advogado André de Paula.

Outra gravação também cita o nome do vereador. O diálogo envolve a compra de um tipo de rifle, o 762. Os bandidos falam por código.

Fabrício Mirra, foragido: O outro é igual, é a mesma coisa?

Homem: Não, não, não. O telefone do cara é 762-4542, 762-4542, aquele grandão, bonitão... E aquele cara de ontem que eu ‘tô’ falando, esse amigo lá, o Jerominho, ele pagou R$ 20 [mil] em cada um.

A milícia precisa de mais armas porque precisa de mais gente pra trabalhar. Mão-de-obra especializada.

Luciano Carneiro, foragido: Comunica ao 01 aí que ‘chegou’ três amigos, ‘ex-militar’, pra trabalhar na ‘firma’. O amigo ‘Naval’ trouxe. O amigo é ex-militar também, ‘tá’ querendo trabalhar aí com a gente aí.

Militares , policiais, bombeiros, agentes penitenciários estão virando milícia. Todos foram formados pelo estado, mas agora usam armas em proveito próprio.

"As milícias crescem de uma maneira absurda, de uma maneira descontrolada. Hoje nós temos mais de uma centena de áreas carentes do Rio dominadas por essas milícias. A minha percepção é de que, realmente,o combate é mais difícil do que o combate ao tráfico", compara o procurador-geral da Justiça do Rio de Janeiro, Marfan Vieira.

Muita coisa está sendo feita para combater a milícia, mas a impressão é de que ainda há muito por fazer. E a integridade de um pai é um modelo para todos.

"Eu escutei de diversas pessoas: ‘Ah, era muito mais barato dar R$ 10 ou R$ 20 para ele’. 'Mais barato para você'. Para mim, não. Eu, depois de 60 anos, ser cafetizado não fica bem para mim, se nunca fui antes. Eu sempre fui contrário à propina ou corrupção", finaliza o pai.


Veja o vídeo clicando aqui


Fonte: FANTÁSTICO

sábado, 23 de fevereiro de 2008

I SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE A TORTURA

O Seminário

Devido ao grande número de inscritos, o 1º Seminário Internacional sobre a Tortura foi transferido para o Auditório Ariosto Mila - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU-USP
Endereço: Rua do Lago, 876 - Cidade Universitária - São Paulo - SP
Clique aqui para ver o mapa do local.


O Seminário Internacional sobre a Tortura, que ocorrerá nos dias 25, 26 e 27 de Fevereiro de 2008, tem por objetivo promover uma ampla discussão sobre a tortura e seus mitos. Dois fatores simultâneos motivam a realização deste seminário: 1) o retorno da discussão sobre a "eficácia" da tortura, ainda que em determinadas condições como, por exemplo, a "guerra contra o terror", onde diante de um perigo iminente a tortura seria justificada para extrair informações que poderiam evitar danos maiores (argumento da "ticking bomb"); 2) a sobrevivência da tortura, mesmo vinte anos após o retorno à democracia, no interior das instituições brasileiras que deveriam garantir o cumprimento da lei. Destaca-se ainda aqui que, na atual democracia brasileira, a tortura não apenas persiste, mas coexiste juntamente com inúmeras outras violações aos direitos humanos. A possibilidade da democracia se consolidar diante de tantas violações tem sido o foco do programa de pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV-USP) e, neste contexto, a recente discussão sobre a tortura parece ter primordial importância para as discussões a respeito do futuro da democracia e dos direitos da pessoa humana. Ainda mais, quando se considera que a condenação, quase universal do uso da tortura passou, após os atentados de 11 de setembro, a ser questionada e o que parecia ter sido apagado do discurso público, resultado de todos os acordos, convenções e tratados assumidos pelas principais democracias durante os últimos séculos, passou, de algum modo, a suscitar dúvidas a respeito de sua aplicação universal. Além disso, este debate, sem dúvida nenhuma, também causa impacto no plano local, principalmente no interior das instituições que resistiram à erradicação de tais práticas que, freqüentemente, ainda são aqui aplicadas em "pessoas consideradas suspeitas". É neste contexto que os pesquisadores do NEV reconhecem que é hora de promover um amplo debate intelectual sobre os mitos que alimentam e sustentam a prática da tortura, não somente em contextos brasileiros, mas também nas democracias sob a ameaça de ataques terroristas. Para promover esta discussão, este será o primeiro [1] de uma série de dois seminários com os seguintes propósitos:


1 – promover um debate esclarecido sobre a tortura e o impacto que a diminuição das restrições contra a mesma possam ter sobre a democracia;

2 – promover trocas entre instituições acadêmicas / pesquisadores nacionais e internacionais;

3 – encorajar as redes de contato das instituições acadêmicas Brasileiras a fim de informar mais prontamente o debate público sobre estes assuntos.

[1] O Segundo seminário "A Prevenção da Tortura e Outras Formas de Violência: Agindo sobre as Causas Econômicas, Sociais e Culturais", será realizado juntamente com a "World Organisation Against Torture", previsto para o segundo semestre de 2008.

Fonte

Colaboração de Beatriz Abagge e Ana Maria Bruni

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

CRIANÇAS ABANDONADAS E COM FOME: NENHUMA É CUBANA!


A RENÚNCIA DE FIDEL



Fidel Castro, 81, renunciou às suas funções de presidente do Conselho de Estado de Cuba e Comandante-em-Chefe da Revolução. Entregue aos cuidados de sua saúde, prefere manter-se fora das atividades de governo e participar do debate político – que sempre o encantou – através de seus artigos na mídia. Permanece, porém, como membro do Birô Político do Partido Comunista de Cuba.

No próximo domingo, 24, Raúl Castro, 77, será eleito pelos novos deputados da Assembléia Nacional para ocupar as funções de primeiro mandatário de Cuba.

Esta é a segunda vez que Fidel renuncia ao poder. A primeira ocorreu em julho de 1959, sete meses após a vitória da Revolução. Eleito primeiro-ministro, entrou em choque com o presidente Manuel Urrutia, que considerou radicais as leis revolucionárias, como a reforma agrária, promulgadas pelo conselho de ministros. Para evitar um golpe de Estado, o líder cubano preferiu renunciar. O povo saiu às ruas em seu apoio. Pressionado pelas manifestações, Urrutia não teve alternativa senão deixar o poder. A presidência foi ocupada por Osvaldo Dorticós e Fidel voltou à função de primeiro-ministro.

Estive em Cuba em janeiro deste ano para participar do Encontro Internacional sobre o Equilíbrio do Mundo, à luz do 155º aniversário de nascimento de José Martí, figura paradigmática do país. Retornei em meados de fevereiro para outro evento internacional, o Congresso Universidade 2008, do qual participaram vários reitores de universidades brasileiras.

Nas duas ocasiões encontrei-me com Raúl Castro e outros ministros cubanos. Reuni-me também com a direção da FEU (Federação Estudantil Universitária), estudantes da Universidade de Ciências Informáticas, professores de nível básico e médio e educadores populares.

Ilude-se quem imagina significar a renúncia de Fidel o começo do fim do socialismo em Cuba. Não há nenhum sintoma de que setores significativos da sociedade cubana aspirem à volta ao capitalismo. Nem os bispos da Igreja Católica. Exceção a uns poucos que, em nome dos direitos humanos, não se importariam que o futuro de Cuba fosse equivalente ao presente de Honduras, Guatemala ou Nicarágua. Aliás, nenhum dos que se evadiram do país prosseguiu na defesa dos direitos humanos ao inserir-se no mundo encantado do consumismo...

Cuba não é avessa a mudanças. O próprio Raúl Castro desencadeou um processo interno de críticas à Revolução, através das organizações de massa e dos setores profissionais. São mais de um milhão de sugestões ora analisadas pelo governo. Os cubanos sabem que as dificuldades são enormes, pois vivem numa quádrupla ilha: geográfica; única nação socialista do Ocidente; órfã de sua parceria com a União Soviética; bloqueada há mais de 40 anos pelo governo dos EUA.

Malgrado tudo isso, o país mereceu elogios do papa João Paulo II por ocasião de sua visita, em 1998. No IDH 2007 da ONU, o Brasil comemorou o fato de figurar em 70º lugar. Os primeiros setenta países são considerados os melhores em qualidade de vida. Cuba, onde nada se paga pelo direito universal à saúde e educação de qualidades, figura em 51º lugar.

O país apresenta uma taxa de alfabetização de 99,8%; conta com 70.594 médicos para uma população de 11,2 milhões (um médico para 160 habitantes); índice de mortalidade infantil de 5,3 por cada 1.000 nascidos vivos (nos EUA são 7 e, no Brasil, 27); 800 mil diplomados em 67 universidades, nas quais ingressam, por ano, 606 mil estudantes.

Hoje, Cuba mantém médicos e professores atuando em mais de 100 países, incluído o Brasil, e promove, em toda a América Latina, a Operação Milagros, para curar gratuitamente enfermidades dos olhos, e a campanha de alfabetização Yo si puedo (Sim, eu sou capaz), com resultados que convenceram o presidente Lula a adotar o método no Brasil.

Haverá, sim, mudanças em Cuba quando cessar o bloqueio dos EUA; forem libertados os cinco cubanos presos injustamente na Flórida por lutarem contra o terrorismo; e se a base naval de Guantánamo, ora utilizada como cárcere clandestino (símbolo mundial do desrespeito aos direitos humanos e civis) de supostos terroristas for devolvida.

Não se espere, contudo, que Cuba arranque das portas de Havana dois cartazes que envergonham a nós, latino-americanos, que vivemos em ilhas de opulência cercadas de miséria por todos os lados: "A cada ano, 80 mil crianças morrem vítimas de doenças evitáveis. Nenhuma delas é cubana". "Esta noite, 200 milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma é cubana".


Escrito por Frei Betto*

Em 20-Fev-2008


*Frei Betto é escritor, autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros.

Fonte

Colaboração enviada pela companheira e amiga Gilda Arantes

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

A HISTÓRIA DE UM PAÍS QUE QUER EXISTIR


HISTÓRIA E MEMÓRIA


Sobre a Bolívia, a história de um país que quer existir



A tragédia se repete, girando como um peão: há cinco séculos, a fabulosa riqueza da Bolívia amaldiçoa os bolivianos, que são os pobres mais pobres da América do Sul. "A Bolívia não existe": não existe para seus filhos. A análise é do escritor uruguaio Eduardo Galeano.

Uma imensa explosão de gás: esse foi o desfecho popular que sacudiu toda a Bolívia e culminou com a renúncia do presidente Sánchez de Lozada, que fugiu (em 17/10/2003), deixando atrás de si um rastro de mortos.

O gás iria ser enviado para a Califórnia, a preço ruim e a troco de mesquinhas regalias, através de terras chilenas que em outros tempos haviam sido bolivianas. A saída do gás por um porto do Chile colocou sal na ferida, em um país que há mais de um século vem exigindo, em vão, a recuperação do caminho para o mar que perdeu em 1883, na guerra vencida pela Chile.

A rota do gás, no entanto, não foi o motivo mais importante da fúria que ardeu por todas as partes. Outra fonte essencial foi a indignação popular, que o governo respondeu a bala, como de costume, regando de mortos ruas e caminhos. As pessoas se indignaram porque se negaram a aceitar que ocorra com o gás o que antes ocorreu com a prata, o salitre, o estanho e todo o resto.

A memória dói, mas ensina: os recursos naturais não renováveis se vão sem dizer adeus, e jamais regressam.

Por volta de 1870, um diplomata inglês sofreu, na Bolívia, um desagradável incidente. O ditador Mariano Melgarejo lhe ofereceu uma taça de chicha, uma bebida nacional feita de raiz fermentada; o diplomata agradeceu, mas disse que preferia chocolate. Melgarejo, com sua habitual delicadeza, obrigou-o a beber uma enorme tigela quente de chocolate e depois o fez passear em um burro, montado ao contrário, pelas ruas de La Paz. Quando a rainha Victória, em Londres, tomou conhecimento do assunto, mandou trazer um mapa, colocou uma cruz de tinta sobre o país e sentenciou: "A Bolívia não existe!".

Várias vezes ouvi esta história. Ocorreu assim? Pode ser que sim, pode ser que não.

Mas a frase, atribuída à arrogância imperial, se pode ler também como uma involuntária síntese da atormentada história do povo boliviano. A tragédia se repete, girando como um peão: há cinco séculos, a fabulosa riqueza da Bolívia amaldiçoa os bolivianos, que são os pobres mais pobres da América do Sul. "A Bolívia não existe": não existe para seus filhos.

Na época colonial, a prata de Potosi foi, durante mais de dois séculos, o principal alimento do desenvolvimento capitalista da Europa. "Vale um Potosi" se dizia para elogiar algo que não tinha preço.

Em meados do século 16, a cidade mais populosa, mais cara e mais decadente do mundo brotou e cresceu aos pés da montanha que provinha prata. Essa montanha, a chamada Cerro Rico, tragava os índios.

"Estavam os caminhos cobertos, que parecia que se mudava o reino" escreveu um rico mineiro de Potosi: as comunidades se esvaziavam de homens, que de todas as partes marchavam, prisioneiros, rumo à boca que conduzia às escavações. Do lado de fora, temperatura de inverno.

Dentro, o inferno. De cada dez homens que entravam, somente três saíam vivos. Mas os condenados à mina, que pouco duravam, geravam a fortuna dos banqueiros flamencos, genoveses e alemães, credores da coroa espanhola, e eram esses índios que possibilitaram a acumulação de capitais que converteu a Europa no que a Europa é.

O que obteve a Bolívia com tudo isso? Uma montanha oca, uma incontável quantidade de índios assassinados pelo cansaço, e uns tantos palácios habitados por fantasmas.

No século 19, quando a Bolívia foi derrotada na chamada Guerra do Pacífico, não só perdeu sua saída para o mar e ficou encurralada no coração da América do Sul. Perdeu, também, seu salitre.

A história oficial, que é a história militar, conta que o Chile ganhou essa guerra. Mas a história real comprova que o vencedor foi o empresário britânico John Thomas North. Sem disparar um tiro ou gastar um centavo, North conquistou territórios que haviam sido da Bolívia e do Peru e se converteu no rei do salitre, que era à época o fertilizante imprescindível para alimentar as cansadas terras da Europa.

No século 20, a Bolívia foi o principal abastecedor de estanho do mercado internacional.

As latas de sopa, que deram fama a Andy Warhol provinham das minas que produziam estanho e viúvas. Nas profundidades das escavações, o implacável pó de silício matava por asfixia. Os operários apodreciam seus pulmões para que o mundo pudesse consumir estanho barato.

Durante a segunda Guerra Mundial, a Bolívia contribuiu para a causa aliada vendendo seu mineral a um preço dez vezes mais baixo do que o baixo preço de sempre. Os salários dos operários se reduziram a nada, houve greve, as metralhadoras cuspiram fogo. Simon Patiño, dono do negócio e senhor do país, não teve que pagar indenizações porque a matança por metralhadas não é acidente de trabalho.

À época, o senhor Simon pagava 50 dólares de imposto de renda, mas pagava muito mais para o presidente da nação e a todo seu gabinete. Ele havia sido um morto de fome tocado pela varinha mágica da fortuna. Suas netas e netos ingressaram na nobreza européia; casaram-se com condes, marqueses e parentes de reis.

Quando a revolução de 1952 destronou Patiño e nacionalizou o estanho, restava pouco mineral, não mais que restos de meio século de desaforada exploração a serviço do mercado mundial.

Há mais de 100 anos, o historiador Gabriel René Moreno descobriu que o povo boliviano era "cerebralmente incapaz". Ele havia posto na balança um cérebro indígena e outro mestiço e havia comprovado que pesavam entre cinco e dez onças a menos que o cérebro da raça branca.

Com o passar do tempo, o país que não existe segue enfermo de racismo.

Mas o país que quer existir, onde a maioria indígena não tem vergonha de ser o que é, não culpa o espelho.

Essa Bolívia, farta de viver em função do progresso alheio, é o país de verdade. Sua história, ignorada, abunda em derrotas e traições, mas também em milagres dos quais são capazes de fazer os desapreciados, quando deixam de desapreciar a si mesmos e quando deixam de brigar entre si.

No ano 2000 ocorreu um caso único no mundo: uma população desprivatizou a água. A chamada "guerra da água" ocorreu em Cochabamba. Os camponeses marcharam desde os vales e bloquearam a cidade. A população apoiou. Foram atacados com balas e gases, o governo decretou estado de sítio. No entanto, a rebelião coletiva continuou, sem recuar, até que na investida final a água foi arrancada das mãos da empresa Bechtel. (A empresa, com sede na Califórnia, recebe agora um consolo do presidente Bush, que a premia com contratos milionários no Iraque.).

Faz alguns meses, outra explosão popular em toda a Bolívia venceu nada menos que o Fundo Monetário Internacional. No entanto, o FMI vendeu caro sua derrota, cobrou mais de 30 vidas assassinadas pelas chamadas forças da ordem, mas o povo cumpriu sua façanha. O governo não teve outro remédio a não ser anular o imposto aos salários, que o FMI havia mandado aplicar.

Agora, é a guerra do gás. A Bolívia dispõe de enormes reservas de gás natural. Sanches de Lozada havia chamado de "capitalização" à sua privatização mal dissimulada, mas o país que quer existir acaba de demonstrar que não tem memória fraca. Outra vez a velha história de riqueza que se evapora em mãos alheias? "O gás é nosso direito", proclamam os panfletos e as manifestações. O povo exigia e seguirá exigindo, uma vez mais, que o gás seja posto a serviço da Bolívia, em lugar de a Bolívia se submeter, novamente, à ditadura de seu subsolo.

O direito à autodeterminação, que tanto se invoca e tão pouco se respeita, começa por aí.

A desobediência popular fez a corporação Pacific LNG, integrada pela Repsol, British Gas e Panamericana Gas (que se supõe ser sócia da empresa Enron, famosa por seus virtuosos costumes) perder um valioso negócio. Tudo indica que a corporação viera com intenção de ganhar US$ 10 para cada dólar investido.

Por sua parte, o fugitivo Sánchez de Lozada perdeu a presidência.

Seguramente, não perdeu o sono. Sobre sua consciência pesa o crime de mais de 80 manifestantes, mas essa não foi sua primeira carnificina, e este porta-voz da modernização não se atormenta por nada que não seja rentável. Afinal, ele pensa e fala em inglês, mas não é o inglês de Shakespeare: é o de Bush.

O artigo El país que quiere existir, de Eduardo Galeano, foi publicado originalmente nos jornais Pagina 12 (Argentina), El Mundo (Espanha), e Bolpress (Bolivia)].

*Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940) é um jornalista e escritor uruguaio.


Foto: http://www.leelau.net/chai/images/bolivia/potosi.JPG

(Colaboração de Maria Elisa Mancini que nos enviou o texto)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

DON JUAN DE MARCO


DON JUAN DE MARCO*




(Have You Ever Really Loved a Woman? - Bryan Adams)




Para realmente amar uma mulher, para compreendê-la.

Você precisa conhecê-la profundamente por dentro,

Ouvir cada pensamento - ver cada sonho,

E dar-lhe asas - quando ela quiser voar.

Então, quando você se achar repousando,

Desamparado em seus braços,

Você saberá que realmente ama uma mulher...


Quando você ama uma mulher,

Você lhe diz que ela realmente é desejada.

Quando você ama uma mulher,

Você lhe diz que ela é a única,

Pois ela precisa de alguém para dizer-lhe

Que vai durar para sempre!


Então diga-me: você realmente,

Realmente... já amou uma mulher?


Para realmente amar uma mulher,

Deixe-a te segurar

Até que você saiba como ela precisa ser tocada.

Você precisa respirá-la - realmente provar o gosto dela

Até você possa sentí-la em seu sangue.

E quando você puder ver suas crianças

Que ainda não nasceram, dentro dos olhos dela,

Você saberá que realmente ama uma mulher...


Você precisa dar-lhe um pouco de confiança - segurá-la bem apertado.

Um pouco de ternura - precisa tratá-la corretamente.

Ela estará lá por você, cuidando bem de você,

Você realmente precisa amar sua mulher...

Então, quando você se achar repousando

Desamparado em seus braços,

Você saberá que realmente que ama uma mulher...

Então diga-me: você realmente, Realmente, realmente já amou uma mulher?"



Tradução da letra da música.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

GUERRA INSANA E POLÍTICA DE SEGURANÇA CRIMINOSA


A ROCINHA PEDE PAZ





Cerca de 400 pessoas fazem homenagem e protesto no enterro de menina assassinada.



Rio - “A Rocinha chora por mais uma de nossas crianças estupidamente assassinadas. Justiça e paz”. O lamento estava estampado em 200 camisas distribuídas pela família de Ágatha Marques de Souza, 11 anos, morta com um tiro no peito dentro de casa na sexta-feira na Rocinha, durante uma operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).

Aproximadamente 400 pessoas acompanharam o enterro, ontem, muitas com balões brancos nas mãos, no Cemitério São João Batista, no fim da tarde. Várias crianças participaram com cartazes e faixas de protesto e indignação pela morte da garota.

Cerca de 100 vans e ônibus e centenas de motos com faixas de protesto acompanharam o cortejo, que percorreu a orla do Rio. Muitos veículos estavam com fotos de Ágatha no painel ou com fitas pretas amarradas nos retrovisores e antenas. Durante o trajeto, houve salva de palmas diversas vezes.

O corpo da menina foi velado no Centro Comunitário Vila Verde. Às 16h, o cortejo saiu pela orla, que chamou a atenção de moradores e turistas que estavam no local. Ágatha tinha feito aniversário de 11 anos no mês passado e trocado a festinha por um vôo de asa-delta.


Tristeza e revolta dos parentes

Muito emocionado, o motorista de van Claudino Silva dos Santos, pai de Ágatha, contou como foi o momento em que ela foi atingida. “Olhei para a minha filha, vi a marca do tiro e pensei que tivesse sido de raspão. Depois vi que ela sangrava muito e que a bala tinha atravessado o seu corpinho. Olhei fixo para ela e pedi que continuasse respirando. Jamais vou esquecer a imagem dela agonizando nos meus braços”, disse ele. A mãe, Flávia da Silva Marques, teve que ser amparada o tempo todo por parentes e dizia apenas que queria sua filha.

Segundo o tio de Ágatha, o taxista Humberto Barbosa Santos, ninguém é contra o trabalho da polícia. “Mas não se pode admitir que eles entrem de qualquer jeito. Isso tem que acabar.” “O que aconteceu aqui foi um ato covarde e estúpido dos policiais, a comunidade está chocada”, disse o presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Luiz Cláudio de Oliveira, o Claudinho.


Comunidade acusa policial civil

Testemunhas acusaram um policial de ser o autor do tiro que matou Ágatha Santos. Segundo pessoas que estiveram ontem no enterro, um agente com a camisa da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas estava na caçamba de uma picape apontando sua arma em direção à comunidade. A declaração do delegado da Core Rodrigo Oliveira de que os policiais não passaram pelo local onde Ágatha morava revoltou moradores. Ele era o coordenador da operação.

Segundo a delegada titular da 15ª DP (Gávea), Márcia Julião, a perícia no local só vai acontecer amanhã. “Como hoje (ontem) é sábado, não estou na delegacia. Primeiro vou recolher peças importantes para a investigação e só depois vou mandar fazer perícia”, afirmou. No entanto, a partir de amanhã, Márcia Julião deixará o comando da 15ª DP. Em seu lugar entrará a delegada Patrícia Aguiar.


por Mahomed Saigg e Maria Inês Magalhães


Fonte: O Dia.

ARRE! SE COM JUIZ É ASSIM, IMAGIMEM COM O POVO...



O juiz, a polícia e o malandro.




por Roberto Schuman*


Segunda-feira de carnaval. Saí de casa por volta das das 22 horas para encontrar a namorada na porta do Circo Voador, na Lapa. Ao chegar, deixei o táxi ao celular, para tentar localizá-la. Além de tênis, bermuda e camisa, usava um chapéu, desses vendidos em todos os cantos da cidade a 5 reais. Presente da namorada. Coisa de mulher.

Atravessei a rua e quase fui atropelado por um camburão, luzes e lanternas apagadas, com a inscrição Core (Coordenadoria de Recursos Especiais, unidade especial da Polícia Civil do Rio). No mesmo momento, o motorista gritou: “Ô, malandro!” Assustado, dei um pulo para a calçada, pedi desculpas e virei as costas, ainda ao celular.

Percebi, então, que a viatura andava ao meu lado, com três policiais de preto. E escutei, em alto e bom som: “Saia da rua, seu malandro e bêbado!” Neste momento, reagi. Isso não é jeito de tratar as pessoas na rua. “Não sou bêbado nem malandro. Se vocês não estiverem em operação, está errado andarem com essa viatura preta e apagada, pois quase me atropelaram e vão acabar ferindo alguém!”

Foi a oportunidade que queriam. Os homens de preto desceram da viatura: “Ô, malandro, tu é abusado e tá preso”. Ato contínuo, diante da voz de prisão, estendi os dois braços para ser algemado. Pergunto ao mais novo dos três, que estava completamente alterado: “Qual o motivo da prisão?” Resposta: “Desacato”. Insisto: “O que os senhores entendem por desacato?” Resposta: “Até o DP a gente inventa, se a gente te levar pra lá”.

Percebi a gravidade da situação e disse: “Estou me identificando como juiz federal e minha identificação funcional está dentro da minha carteira, no bolso da bermuda”. Imediatamente, o policial novinho, que se identificou como André e no DP disse ser Cristiano, meteu a mão no meu bolso, pegou a minha carteira e a colocou em um dos bolsos de sua farda preta. Então, o impensável aconteceu! Disseram: “Juiz federal é o c... Tu é malandro e vai para a caçapa do camburão”.

Fui atirado na mala do camburão como bandido, algemado, com o celular no bolso. Os três policiais do Core diziam que, no máximo, eu deveria ser “juiz arbitral ou de futebol”. Temi pela vida. Por incrível que pareça, veio-me aquela frase de Dante, da obra Divina Comédia: “Abandonai toda esperança, vós que entrais aqui”.

Sem perder as esperanças, mesmo algemado, peguei o celular do bolso e liguei para a assessoria de segurança da Justiça Federal. Informei a situação, bem baixinho. Que não sabia se seria levado ou não ao DP. Pedi para acionar a Polícia Militar e localizar a viatura do Core que circulava pela Lapa comigo algemado.

Após o telefonema, disse-lhes uma única coisa, ainda na viatura. “Vocês estão cometendo crime.” Eles zombaram aos risos: “Juiz federal andando com esse chapéu igual a malandro. Até parece. Se você for mesmo juiz, a gente vai chamar a imprensa, pois juiz não pode andar como malandro”.
Na delegacia, as gracinhas dos policiais continuaram: “Olha o chapéu do malandro”. Já me sentindo em segurança, revidei. “Vocês querem que eu tire o chapéu e vista terno e gravata?” O fato é que, na presença do delegado, as algemas foram retiradas. Vinte minutos depois, um dos policiais de preto veio ao meu encontro: “Excelência, desculpas. Nós agimos mal, podemos deixar por isso mesmo?”
Respondi: “Primeiro, não me chame de excelência, pois até há pouco eu era malandro. Segundo, não. Não pode ficar por isso mesmo. Como é que vocês tratam assim as pessoas na rua, como se fossem bandidos? Terceiro, vocês três não honram a farda que vestem. Quarto, desde a abordagem policial, agi apenas como cidadão e fui desrespeitado. Depois de ter me identificado como juiz federal, fui ainda mais ofendido. Logo, houve um crime de abuso de autoridade seguido de outro de desacato.

O circo foi montado pelo próprio agente Cristiano, que ligou do interior do DP para os repórteres, de forma incessante. Talvez temesse que ele e seus dois colegas de farda preta fossem presos por mim no interior do DP. Decidi não fazê-lo, porque em nada prejudicaria a instauração de procedimento administrativo na Corregedoria da Polícia Civil, bem como a ação penal por abuso de autoridade e desacato, sem mencionar o dano à minha pessoa, como cidadão e magistrado.

“Se como juiz federal fui ameaçado por três homens de farda preta com pistolas automáticas, algemado e jogado como um bandido na mala de um camburão, simplesmente por tê-los repreendido, de forma educada, como convém a qualquer pessoa de bem, o que aconteceria a um cidadão desprovido de autoridade e conhecimento dos seus direitos?”

De minha parte, duas coisas estão claras. Não permitirei nada passar em branco, pois são fatos sérios e graves que partiram daqueles que têm o dever de zelar pela segurança da sociedade. E, no próximo carnaval, não usarei o presente da namorada, o tal chapéu. É perigoso. Pode ser coisa de malandro.


*Cidadão e juiz federal no estado do Rio de Janeiro


Fonte

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