Cerca de 400 pessoas fazem homenagem e protesto no enterro de menina assassinada.
Rio - “A Rocinha chora por mais uma de nossas crianças estupidamente assassinadas. Justiça e paz”. O lamento estava estampado em 200 camisas distribuídas pela família de Ágatha Marques de Souza, 11 anos, morta com um tiro no peito dentro de casa na sexta-feira na Rocinha, durante uma operação da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).
Aproximadamente 400 pessoas acompanharam o enterro, ontem, muitas com balões brancos nas mãos, no Cemitério São João Batista, no fim da tarde. Várias crianças participaram com cartazes e faixas de protesto e indignação pela morte da garota.
Cerca de 100 vans e ônibus e centenas de motos com faixas de protesto acompanharam o cortejo, que percorreu a orla do Rio. Muitos veículos estavam com fotos de Ágatha no painel ou com fitas pretas amarradas nos retrovisores e antenas. Durante o trajeto, houve salva de palmas diversas vezes.
O corpo da menina foi velado no Centro Comunitário Vila Verde. Às 16h, o cortejo saiu pela orla, que chamou a atenção de moradores e turistas que estavam no local. Ágatha tinha feito aniversário de 11 anos no mês passado e trocado a festinha por um vôo de asa-delta.
Tristeza e revolta dos parentes
Muito emocionado, o motorista de van Claudino Silva dos Santos, pai de Ágatha, contou como foi o momento em que ela foi atingida. “Olhei para a minha filha, vi a marca do tiro e pensei que tivesse sido de raspão. Depois vi que ela sangrava muito e que a bala tinha atravessado o seu corpinho. Olhei fixo para ela e pedi que continuasse respirando. Jamais vou esquecer a imagem dela agonizando nos meus braços”, disse ele. A mãe, Flávia da Silva Marques, teve que ser amparada o tempo todo por parentes e dizia apenas que queria sua filha.
Segundo o tio de Ágatha, o taxista Humberto Barbosa Santos, ninguém é contra o trabalho da polícia. “Mas não se pode admitir que eles entrem de qualquer jeito. Isso tem que acabar.” “O que aconteceu aqui foi um ato covarde e estúpido dos policiais, a comunidade está chocada”, disse o presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Luiz Cláudio de Oliveira, o Claudinho.
Comunidade acusa policial civil
Testemunhas acusaram um policial de ser o autor do tiro que matou Ágatha Santos. Segundo pessoas que estiveram ontem no enterro, um agente com a camisa da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas estava na caçamba de uma picape apontando sua arma em direção à comunidade. A declaração do delegado da Core Rodrigo Oliveira de que os policiais não passaram pelo local onde Ágatha morava revoltou moradores. Ele era o coordenador da operação.
Segundo a delegada titular da 15ª DP (Gávea), Márcia Julião, a perícia no local só vai acontecer amanhã. “Como hoje (ontem) é sábado, não estou na delegacia. Primeiro vou recolher peças importantes para a investigação e só depois vou mandar fazer perícia”, afirmou. No entanto, a partir de amanhã, Márcia Julião deixará o comando da 15ª DP. Em seu lugar entrará a delegada Patrícia Aguiar.
por Mahomed Saigg e Maria Inês Magalhães
Fonte: O Dia.
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