Rio - O chope gelado depois do trabalho nos bares do Arco do Teles, a volta para casa nas barcas da Praça 15 e o turismo nas igrejas do Carmo e no Paço Imperial. As opções de lazer atraem cada vez mais pessoas ao Centro do Rio. A boemia, no entanto, esconde um passado sombrio da história brasileira.
Com a chegada da Família Real em 1808 e a abertura dos portos no mesmo ano, o comércio ganhou força. O tráfico negreiro que abastecia as minas de ouro em Minas Gerais continuou a pleno vapor. Para o historiador e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Nireu Cavalcante, apesar das melhorias introduzidas com a chegada da nobreza, Dom João manteve o comércio de escravos. “O comércio era indigno da Corte. Dom João teve uma grande dívida com os negros deste país. Ele deveria ter acabado com o mercado negreiro no Brasil, como fez em Portugal, e não ter esperado 100 anos para pôr fim à escravidão”, critica o pesquisador.
Durante o século 18, 750 mil escravos entraram no Rio. Os negros vindos da África eram recuperados da longa viagem e engordados para a venda. Segundo Cavalcanti, a mudança do comércio negreiro para o Valongo transformou a região de moradias de pescadores numa área comercial que abrigaria o futuro Porto do Rio, próximo à Praça Mauá. Foi naquela região que se formaram as primeiras rodas de samba e capoeira do Rio. A água do mar batia bem próximo de onde foi construída a Cidade do Samba. Negros libertos sem dinheiro foram morar no Morro da Providência, a primeira favela do Rio.
Na Gamboa, cemitério descoberto por acaso
Escravos que não resistiam à travessia nos navios negreiros e morriam antes de serem comercializados eram enterrados no Cemitério dos Pretos Novos, na Gamboa. Hoje, o local, na Rua Pedro Ernesto 36, abriga um sítio arqueológico, descoberto em 1996, durante as escavações no terreno de uma casa contruída no início do século 18. Os proprietários, Merced e Petruccio, descobriram durante uma reforma pedaços de crânios e ossos humanos, que permitiram identificar 28 corpos, em sua maioria de jovens do sexo masculino, com idades entre 18 e 25 anos.
Os cadáveres, geralmente nus, eram carregados por dois negros e lançados em lugares sem covas e sem caixões. Ficavam cobertos por um pouco de terra e quase expostos. A área onde era localizada a Igreja de Santa Rita era usada para sepultamento de escravos até a transferência do mercado negreiro para o Valongo, em 1769.
De tão numerosos, os enterros eram feitos uma vez por semana, causando mau cheiro insuportável. De tempos em tempos, a ‘montanha’ de cadáveres em decomposição era queimada. Para quem quiser saber mais sobre esta história, a Galeria de Artes dos Pretos Novos está aberta à visitação. O agendamento é pelo telefone (21) 2516-7089.
Por Maria Luisa Barros
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