domingo, 2 de março de 2008

GARRAS DE FORA. MILÍCIA FAZ DESAPROPRIAÇÃO DE IMÓVEIS: NA MARRA


MILICIA DESAPROPRIA IMÓVEIS.


FAMÍLIAS DESALOJADAS À FORÇA.


Moradores denunciam casos de tomada de casas em bairros da Zona Oeste por grupos que exploram segurança clandestina. Polícia Civil investiga roubo de residências para revenda.



Rio - “Eles mudaram o cadeado da porta. Tive que arrombar a minha própria casa para poder entrar e recuperar alguma coisa”. O relato é do morador de Campo Grande William (nome fictício), de 28 anos, que, há meses, ousou não pagar uma taxa mensal de R$ 70 para a milícia da região. A atitude transformou sua vida em pesadelo. No início, a retaliação veio em forma de furtos e tiros contra a residência. Mas a audácia do grupo armado chegou ao extremo no último dia 22, sexta-feira da semana passada.

Seis homens invadiram o imóvel, mudaram a tranca da entrada e fizeram festa com música alta — provavelmente para comemorar a aquisição de mais uma propriedade pela milícia. “Amigo, agora nós que administramos a área”, teve que ouvir o jovem comerciante, pai de uma criança de um ano.

O caso de William é o retrato do absurdo de mais um ramo de negócios que a milícia de Campo Grande resolveu abocanhar. Depois da segurança privada ilegal e do transporte por Kombis e vans irregulares, a Liga da Justiça — grupo clandestino que domina territórios da Zona Oeste — agora também explora investimentos imobiliários altamente lucrativos. Depoimentos de moradores apontam que as casas são vendidas e revendidas aleatoriamente, sem que o proprietário tenha qualquer conhecimento ou compensação pela transação.

O titular da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado e Inquéritos Especiais (Draco-IE), Claudio Ferraz, afirma que já tomou conhecimento da prática. “Há dezenas de casos iguais aos relatados pelas vítimas. Eles dominam tudo aquilo. Excluem as pessoas que têm posse do jeito que bem entendem”, disse o responsável pela unidade, que começou a tentar dar um basta na situação ao levar para a cadeia o vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho (PMDB), no fim do ano passado. Na época, o deputado estadual Natalino José Guimarães (DEM), irmão de Jerominho, foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por participar da quadrilha com outras nove pessoas.

CASAS SEM TÍTULO

Como a maioria das casas da Zona Oeste está em situação irregular — ou seja, sem o título de propriedade —, fica muito difícil para as vítimas do golpe conseguirem reaver suas propriedades roubadas. “Eles entraram na minha casa enquanto eu estava passando uma temporada em Itaguaí. Perdi meus móveis e não posso nem chegar perto dos meus vizinhos senão eu morro”, conta a telefonista Sandra (nome fictício), de 35 anos.

Moradora do Condomínio São Severino, em Inhoaíba, ela teve a residência ocupada em dezembro de 2007. Depois de algumas semanas, os invasores venderam o imóvel por R$ 20 mil para uma mulher que seria ligada a Fábio Pereira Oliveira, o Fabinho Gordo, um dos foragidos da Operação Latifúndio, desencadeada pela Draco-IE em dezembro.

William, Sandra e outras vítimas registraram os casos na 35ª DP (Campo Grande), mas as denúncias não levaram a nada até hoje. A solução que resta para os dois é entrar na Justiça para tentar reaver seus próprios bens, enquanto tentam remediar o abuso com ajuda de amigos. Mas como a comprovação de propriedade é demorada, esses processos podem se estender por anos nos tribunais.

Titularidade precária na Zona Oeste

A falta do título de propriedade na Zona Oeste é um problema tão generalizado que a maioria dos moradores da região está sujeita a ter a casa invadida por milicianos. Levantamento feito pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro — que O DIA mostrou na semana passada — aponta que 90% das residências na região estão em situação irregular.

Todos os casos de apropriação irregular de casas estão na delegacia distrital de Campo Grande, mas a Draco-IE aguarda uma decisão da chefia da Polícia Civil para que possa avocar os registros. A delegacia, até agora, vem obtendo bons resultados no repressão às atividades milicianas. Além de combater a Liga da Justiça, a Draco-IE também desarticulou um grupo armado que atuava na Favela da Palmeirinha, em Guadalupe. A especializada também foi a responsável por prender a milícia que dominava a Favela da Kelsons, na Penha.

VEREADORES E DEPUTADO RESPONDEM POR CRIMES

O grupo liderado pelo vereador Jerominho e seu irmão, o deputado estadual Natalino, sofreu um duro golpe no fim de 2007. O MP — após investigações feitas pela Draco-IE — denunciou 11 integrantes da milícia por formação de quadrilha e bando armado. Por ser parlamentar, Natalino responde ao processo em liberdade. Ao todo, seis pessoas permanecem foragidas da Justiça.

Entre eles está Fabinho Gordo, que ainda estaria circulando na Zona Oeste, intimidando moradores e angariando recursos para o grupo. Luciano Guinâncio Guimarães, filho de Jerominho, é outro importante membro da Liga da Justiça que permanece nas ruas.

O genro do vereador, André Luiz da Silva Malvar — que responde a outro inquérito —, também está solto. Ele fora preso em agosto, acusado de atentado contra o PM Francisco César Silva Oliveira, o Chico Bala, na Região dos Lagos. Em janeiro, no entanto, o policial civil fugiu da Polinter de Campo Grande.

A Liga estaria envolvida em diversos crimes como homicídios e exploração de segurança clandestina. Investigações apontam ainda que o grupo dominou parte do transporte alternativo em Campo Grande, Madureira, Bangu e Santa Cruz.

A maior dificuldade para a polícia conseguir imputar os crimes à quadrilha é que, muitas vezes, as vítimas de extorsão ou as testemunhas dos homicídios voltam atrás na identificação dos criminosos. Elas preferem se calar após sofrer ameaças de morte.


‘VENDERAM MINHA CASA POR R$ 20 MIL’

“Estou em depressão desde que a milícia invadiu a minha casa. Tive que tomar remédios e pedi licença do meu trabalho. Eles venderam o meu terreno por R$ 20 mil e ainda roubaram todos os móveis. Registrei o caso na 35ª DP e, depois que deixei meu telefone lá, comecei a sofrer ameaças.

Deixei meu filho de 6 anos com a minha mãe porque tenho medo de sofrer um atentado. Eles (a milícia) não têm limites.

Fonte.

Um comentário:

Anônimo disse...

O BRASIL PRECISA DE FAZER UMA REVOLUÇÃO IGUAL NO IRÃ. SAIR A MULTIDÃO NAS RUAS ENFORCANDO TODOS ELES. É ISSO QUE FOI LÁ E É ISSO QUE UM DIA SÉRÁ AQUI. NAO TEM SAÍDA. A INDIGNAÇÃO IRÁ ALIMENTAR UM BARRIL DE PÓLVORA QUE EXPLODIRÁ, MAIS CEDO OU MAIS TARDE. ABRAÇOS E FICA AQUI MINHA INDIGNAÇÃO.

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