UPP: mais registros na delegacia
Número de queixas feitas por moradores dos morros da Babilônia e Chapéu Mangueira subiu 30%. Na 10ª DP, responsável pela área da Favela Santa Marta, o aumento foi de 40% . Para delegados, há mais confiança na polícia
Rio - Mais de um ano depois de começar a ocupação de comunidades dominadas pelo tráfico, o programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) provocou um novo fenômeno. As delegacias das áreas onde ficam as favelas ocupadas contabilizam aumento do número de ocorrências registradas por moradores. Os delegados afirmam que, antes da UPP, quem vive nessas comunidades evitava procurar a polícia, com medo de represálias dos traficantes.
“Antigamente, recebíamos denúncias por telefonemas anônimos ou cartas. Agora, os registros ganharam rosto, os moradores do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo (ocupadas pela UPP) vêm aqui e recebem informações sobre o nosso trabalho. Eles não têm mais medo. Isso é um marco”, afirmou a delegada Monique Vidal, da 13ª DP (Ipanema).
A policial acredita que a repressão ao tráfico despertou interesse das pessoas sobre seus direitos. “Vêm grupos enormes registrar uma ocorrência. Explicamos como o trabalho da polícia funciona, damos muita atenção para que eles se sintam à vontade para voltar”, disse Monique. A delegada ressalta que as ações nos morros também foram facilitadas depois da ocupação. “Sempre foi uma área difícil, conflagrada. Para irmos lá, precisávamos montar megaoperação. Agora uma viatura consegue entrar sozinha. Essa segurança faz o morador confiar na polícia”, ressaltou.
Na 12ª DP (Copacabana), o índice de ocorrências feitas por moradores dos morros Chapéu Mangueira e Babilônia, no Leme, subiu 30%. O delegado Antenor Martins observou ainda que delitos de menor gravidade, antes não comunicados, já foram registrados várias vezes. “As pessoas estão mais confiantes de que podem contar com a polícia. Crimes como lesão corporal, ameaça, injúria e violência doméstica agora aparecem com frequência no nosso sistema. Isso facilita o trabalho porque temos mais dados para investigar”, disse o delegado.
Responsável pela área onde foi implantada a primeira UPP, no Morro Santa Marta, a 10ª DP (Botafogo) também teve aumento de quase 40% nas queixas de moradores da comunidade. “Os registros do que acontecia no morro eram feitos por policiais que apreendiam drogas, armas ou prendiam traficantes. Agora temos ocorrências feitas por moradores sobre diversos delitos, como queda de balão, brigas em casa ou uso de drogas”, contou um agente.
Morador não ia à delegacia por medo dos traficantes
“Morador não fazia registro porque o tráfico não queria a polícia na comunidade. Se estão procurando, é porque o tráfico não exerce mais influência”, afirmou o delegado João Luiz Costa, da 32ª DP (Taquara). Para ele, a parceria da polícia com moradores da Cidade de Deus, em Jacarepaguá, ajudou na identificação dos seis suspeitos de incendiar o ônibus 701, semana passada, deixando 13 inocentes queimados. A unidade pacificadora da comunidade recebeu cerca de 100 denúncias.
Atentos às informações, os policiais das UPPs têm feito diversas prisões. Ontem, Bruno do Carmo, o Dogão, foi preso no Morro Santa Marta. Contra ele, havia mandado de prisão pendente por assalto, no fim do ano passado, no estacionamento da Cobal do Humaitá. Já na Cidade de Deus, três rapazes foram presos por PMs. Eles são acusados de assaltar uma creche da comunidade e foram presos quando tentavam usar um cheque da escola. O trio já estava sendo monitorado por agentes do Serviço Reservado.
Por Vania Cunha.
Fonte O Dia
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