NOVA YORK - Colunista do "The New York Times", o jornalista Thomas Friedman, autor de "Hot, flat and crowded" ("Quente, plano e lotado", que chega no fim do mês às livrarias), é um dos mais influentes comentaristas de política internacional do mundo. Num momento de alta tensão nas relações entre EUA e Israel após o anúncio de novos assentamentos judaicos na Cisjordânia, Friedman não hesita em classificar as autoridades israelenses como "um governo de bêbados".
THOMAS FRIEDMAN: Foi de fato desastroso. Este anúncio só nos faz perceber como o governo israelense está cego diante da realidade dos conflitos no Oriente Médio. Biden deveria simplesmente ter tomado o avião de volta para casa, deixando um bilhete: "Amigos não deixam amigos dirigirem quando estão bêbados. E vocês devem estar bêbados. Voltamos a conversar quando vocês retomarem o contato com a realidade".
FRIEDMAN: Não acho que houve esta inteligência. Houve uma trapalhada, uma bagunça. E isto nos faz ver como eles estão divididos e perdidos. Eu não acho que o anúncio foi deliberado. Eles não enxergam o que está acontecendo no mundo em volta. Pensam apenas nas disputas internas. Eles realmente não pensam mais nos EUA. Ou nos interesses americanos.
FRIEDMAN: Foi realmente um desastre. Por nove meses o enviado especial George Mitchell tentou construir um caminho para o diálogo entre israelenses e palestinos e ele se dispôs a fazer a ponte para estabelecer conversações de paz. Pois num fim de semana o governo israelense praticamente pôs tudo a perder. Lamentável.
FRIEDMAN: Não. Como todo respeito ao presidente Lula, ele não vai querer se meter no meio de uma confusão tão grande. (risos)
FRIEDMAN: Oh, não. Esta não é uma tarefa para ele. O presidente Lula precisa se concentrar no Brasil. Este não é um trabalho para ele, definitivamente.
FRIEDMAN: Neste momento não tenho certeza se isto será possível. As conversas de paz entre israelenses e palestinos fazem parte de um longo processo de negociação entre as forças inimigas na região. Não vejo como alguém inteiramente estranho ao conflito poderia ajudar. A geopolítica no Oriente Médio é muito complicada porque lida com forças muito diversas. Ninguém vai começar a conversar do zero. Todos gostariam que o processo que vinha sendo longamente negociado fosse adiante. Este foi o objetivo da visita do vice-presidente Joe Biden. Agora vamos ver como o governo Obama vai reagir.
FRIEDMAN: Sem dúvida. O objetivo era também trazer os palestinos para a mesa de negociações a fim de isolar o Irã e tirar a Palestina do baralho de cartas iraniano.
FRIEDMAN: Eu acho que sim. Sanções econômicas impostas pelas Nações Unidas, com grande apoio da comunidade internacional, tendo como alvo a Guarda Revolucionária, poderiam ser eficientes sim. Eu não sei se seriam decisivas, mas acho que certamente teriam um grande efeito sobre o regime iraniano.
FRIEDMAN: Não sei. Mas acho que teriam efeito sobre os membros da Guarda Revolucionária. Estamos conversando sobre sanções bem específicas, que visem a Guarda Revolucionária.
FRIEDMAN: Sim, haverá alguma dor. Mas é difícil prever se o governo iraniano vai mudar sua política nuclear por conta dessas restrições para importação. Se o regime tiver cometido violações ao acordo de não-proliferação de armas nucleares, merece uma resposta da ONU, teremos que reagir quanto a isto.
Fonte O Globo Online
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