RIO - Após dois meses da decisão judicial que concedeu liberdade provisória para sete suspeitos de integrarem uma milícia que atuava na Favela da Palmeirinha, em Guadalupe, moradores da região voltam a apontar o mesmo grupo como responsável pelo assassinato do borracheiro Wemerson Resende Ribeiro Santos, de 25 anos (ouça o depoimento emocionado da mãe do jovem morto) . Testemunhas contaram que o ex-fuzileiro naval e PM Fabrício Fernandes Mirra, conhecido como Mirra ou MR, e PM Marcos Gregório Siqueira Silva, o Zero, com outros membros do grupo estariam, desde a semana passada, liderando ações criminosas na localidade. Segundo investigações, o grupo agiria em quatro favelas, cobrando por serviços.
O borracheiro foi executado na porta de casa, com pelo menos três tiros, por volta das 6h30m. Segundo a mãe de Wemerson, a auxiliar de serviços gerais Aparecida Ribeiro, de 48 anos, o filho dormia quando foi chamado por um homem, solicitando pelo serviço. O jovem foi ver quem era. Nesse momento, ela ouviu uma rajada de disparos.
- Eu só peço, por favor, para que não julguem o meu filho porque a gente mora em uma favela. Ele era um rapaz trabalhador e foi morto covardemente - desabafou, indignada, a mãe, que perdeu o filho único.
Testemunhas contaram que o grupo voltou a agir na semana passada, ameaçando moradores contrários as cobranças dos milicianos.
- Todos os moradores estão oprimidos aqui na comunidade. Eles falaram que isso aqui vai ficar um rio de sangue. A prova disso é o assassinato do Wemerson - contou uma moradora, que, temerosa, pediu anonimato.
Os policiais Mirra e Zero - além de outros cinco homens - foram soltos pelo juíz Rafael de Oliveira Fonseca, da Vara de Itaguaí, no dia 24 de março, por entender que não haveria riscos para testemunhas. O grupo dos PMs é investigado por assassinatos e outros crimes.
Acusado de chefiar uma milícia que atua em quatro favelas do Rio, o soldado PM Fabrício Mirra tentou evitar a investigação de um homicídio em que era o principal suspeito do crime. A tentativa de encobrir sua suposta participação no assassinato de José Alexandre Silva Eugênio, que morreu dia 20 de fevereiro, dois dias após ser espancado pelo PM, na cidade de Pinheiral, no Sul Fluminense, foi flagrado numa escuta telefônica, feita pela Polícia Civil, com autorização da Justiça.
Em um telefonema, gravado em 19 de fevereiro, às 18h07m, Mirra atende a uma ligação de outro integrante do bando, o também PM Marcos Gregório Silva, o Zero.
Durante a conversa, que durou pouco mais de um minuto, Zero pergunta se a "prima" (apelido dado a testemunha do espancamento) pode ser morta. "Se, de repente, a prima dele escorregar e cair (morrer)?".
Mirra não concorda, já que um segundo crime complicaria ainda mais a sua situação. Ele então pede para que o comparsa tente subornar a testemunha. "Não pode escorregar nunca. Segura ela (testemunha), bate um papo e oferece um dinheiro", disse na conversa.
Zero diz que atenderá a ordem. "Só faço (a execução) quando libera", afirmou o cúmplice.
No dia 20 de fevereiro, mesma data em que José Alexandre Eugênio morreu num hospital, Zero foi flagrado em um telefonema, orientando um homem a instruir uma testemunha a mentir em seu depoimento, que seria prestado à polícia.
Na ligação, ocorrida às 9h, Zero fala com o homem não identificado que a testemunha deve omitir o nome de Fabrício Mirra.
"Pede pra ela reverter a situação. Dizer que era um negão e inventa outro nome. Tem que falar outro nome e que é um negão alto e escuro. E fala que o nome é Fábio e não Fabrício", orientou Zero, no telefonema.
Em janeiro de 2006, Fabrício Mirra foi acusado de ter assassinado Cleber Vasconcelos Pinho, em Marechal Hermes. Vinte e cinco dias após o crime, uma testemunha que havia acusado o PM pelo assassinato, voltou atrás e inocentou o soldado Mirra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário