domingo, 11 de maio de 2008

AÇÃO ENTRE AMIGOS. MILÍCIA OFERECE MORROS AO TRÁFICO


Milícia oferece morros ao tráfico



Paramilitares que invadiram três favelas de Quintino estariam pedindo R$ 500 mil para entregar áreas ao CV



Rio - Pressionados pela polícia para saírem de favelas em Quintino, na Zona Norte, milicianos estariam negociando a ‘venda’ do controle dos morros do Dezoito, Caixa D’Água e Camarista Méier, na divisa com o Méier, com traficantes da facção Comando Vermelho (CV). O assunto, que está em cada roda de conversa nas esquinas do bairro, será investigado pela 28ª DP (Campinho). A milícia estaria exigindo R$ 500 mil para deixar o caminho livre para que os traficantes retomem as áreas, sem confrontos.

“Nosso dever é investigar essa informação”, afirmou o chefe do Setor de Investigação da 28ª DP, João Luiz Martins. No dia 23, O DIA mostrou com exclusividade que até o funcionamento das barracas na tradicional Festa de São Jorge foi coordenado pelos milicianos. O escândalo provocou reações imediatas junto aos comandos do 9º BPM (Rocha Miranda) e 3º BPM (Méier), que ordenaram cerco aos milicianos, dando, inclusive, prazo de 10 dias — que venceria este fim de semana — para que eles saiam da região. Os comandos dos batalhões não comentam o assunto.

Segundo moradores, os milicianos não estariam mais atuando, por exemplo, no Morro do Saçu e também já não circulam mais ostentando armas em diversas ruas, como a Lemos de Brito e Assis Carneiro. “Alguns (milicianos) falam abertamente que os morros serão vendidos para o Comando Vermelho e que nós, moradores, é que vamos ter que arcar com as conseqüências, pois os traficantes voltariam a impor a lei do terror e da crueldade”, diz um morador da Rua Assis Carneiro.

DESVALORIZAÇÃO

Desde que a milícia passou a fazer a ‘segurança’ da região, expulsando bandidos da facção Amigos dos Amigos (ADA), até o mercado imobiliário passou a seguir as ‘leis’ do poder paralelo. De acordo com um corretor de imóveis experiente na região, a oferta de venda e aluguel de casas e apartamentos aumenta. Os preços dos imóveis despencam. “A violência e o medo de confrontos é que ditam os valores de venda ou locação. Isso acontecia também quando os traficantes dominavam os morros do bairro e viviam em guerra pelas bocas-de-fumo”, lamenta.

Em meio às especulações sobre a ‘venda’ dos morros, os moradores vivem sob tensão, com medo de uma futura e provável guerra entre bandidos do Comando Vermelho e da facção Amigos dos Amigos (ADA). Esses últimos, comandados pelo traficante conhecido como Cotonete, foram expulsos pela milícia no início do ano dos morros do Dezoito, da Caixa D’Água e do Saçu, durante confronto que terminou com quatro traficantes mortos. “O policiamento ostensivo dos dois batalhões (9º e 3º BPM) melhorou nas últimas semanas, mas o clima de batalha sangrenta está sempre no ar. Somos constantes reféns do medo”, queixa-se uma moradora do Dezoito.

Recibo obtido por O DIA comprova que moradores de várias ruas, como Milão, Taciba, Urupema, Maturi e Lemos Brito, são obrigados a pagar entre R$ 15 e R$ 20 por suposta ‘segurança’, em nome da falsa Associação de Moradores da Rua Utupeva. De acordo com a Região Administrativa da Prefeitura do Rio em Madureira, a associação não é legalizada e nem funciona no número 385, conforme consta no recibo, onde ainda há espaço para pagamentos mensais até o ano de 2013.

PÁROCO RECEBEU PROTEÇÃO

Mesmo contra sua vontade, o pároco da Matriz de São Jorge, em Quintino, Marcelino Modelski, 41, recebeu proteção policial durante a festa do santo, no mês passado. O padre confirmou denúncias de que milicianos estavam fazendo a ‘segurança’ dos mais de 100 barraqueiros, com exceção de cinco, que trabalharam dentro da área da igreja. “Naquela época, por precaução, escoltamos o padre até sua residência. Entendemos que a situação era preocupante na ocasião e por isso lhe demos proteção”, revela o chefe do Setor de Investigação da 28ª DP, João Luiz Martins.

O padre, que virou herói no bairro, evita comentar o assunto. Depois das festividades alusivas a São Jorge, ele tentou conversar com um dos chefes da milícia na região, sem sucesso. Preocupados, fiéis disseram que, por meio de recados, os milicianos mandaram avisar que eles estavam “muito chateados” com Marcelino. Nas últimas semanas, mais de 20 barraqueiros já prestaram depoimentos na 28ª DP.

Fonte: O Dia.

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