sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

MUSA PERDIDA







MUSA PERDIDA

por Paulo da Vida Athos




Você vai me buscar nas esquinas da noite,
nas canções peregrinas de cada bar desperto na madrugada,
entre as sombras alongadas do cais,
nas memórias dispersas nas ruas do tempo,
nos rostos, nos olhares
e nos perfumes que a noite dilui.

Vai me buscar e seguir os meus rastros
de rastros, se arrastar nas areias do universo
que num vislumbre de deus-pequeno,
deus-homem, imundo, reverenciei.

Vai caçar os meus defeitos,
já virtudes então em sua saudade.
Você vai me buscar no escopo de cada copo,
em cada carícia, em cada bofetada,
em cada ponta de cigarro esquecido no cinzeiro das calçadas
esfomeadas pelos ecos de meus passos
perdidos, nesses caminhos incertos
por onde andei sem deitar raízes certas.

Irá me buscar nos mistérios,
seguirá o esperma de minha poesia alada,
fechada no útero de meus sentimentos etéreos
encontrando, o nada!

Buscar-me-á incansável no cansaço do quase desistir,
para me encontrar na miragem que há de vir
no momento em que o não mais ser
tornar-me eterno, no que criei,
no instante imortal de uma poesia.

E então itinerante estrela cadente, candente, peregrinante,
rastreando a impossibilidade da caça inatingível e alucinógena,
vez que tocada sempre no limiar da mente,
mas inalcançável, sempre,
no orbitar de nossos descaminhos,
tentará dormir.

Para poder me encontrar... num sonho.

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