sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

OUÇA-ME...




Ouça-me



Tem gente que vive saindo na porrada com o presente, com a alma prenha de insatisfação e uma esperança cabeçuda de ser feliz no ontem.

Coisa de bicho homem que prefere dar uma de cachorro abandonado, olhar perdido no passado, enquanto o tempo sacana como ele só vai desfilando na Sapucaí.

“- Foi um rio que passou e minha vida...”

Aí, mané, não tem jeito mesmo. O rio passa e sua alma canina tem mais é que ficar uivando, na bronca, pelo tempo que você deixou passar, babacamente, numa esquina qualquer , pensando em mil coisas que deixou de fazer, em mil digas que deixou de dizer, em algumas bocas que deixou de beijar, só por que a porra do amor que vive em você é tão besta quanto quem o abriga e te sacaneou legal, te deixando plantado, sedado, enquanto o tempo passava sem parar sua evolução, como minha Portela querida.

Tem mais que cair no samba, tem mais que cair na vida!

Ou está pensando que regando lembranças com lágrimas colherá realidade? Tá. Me engana que eu gosto.

Vai ser feliz no ontem? Vai nada!

Muito menos no amanhã poderá viver felicidade alguma.

O ontem passou, é sonho ou pesadelo, o amanhã é visão e talvez você nem chegue lá.

Se tem um momento em que poderá viver qualquer coisa que não seja essa lamentação idiota, é o presente, o hoje, o agora, o já!

E, já!

Não tem essa de amanhã. Isso é papo de cigana ou pai-de-santo marmoteiro.

A mim não engana. Não vou na onda.

Mas se não consegue cair no samba, aproveita a solidão, faça uma poesia ou procure uma pessoa cheirosa, afinal você está sozinho e tem mais que preencher vazios.

Mas não o faça com lembranças, qualquer que seja, muito menos com dor.

Nunca escreva poemas de dor!

Pratique o amor, ame. Se entregue sem medo.

Afinal, você não é eterno e não tem nada a perder.

Curta cada minuto como se fosse o último. Beije. Beije muito, beijar faz bem à saúde.

Curta manhãs de sol, areia no corpo, mergulhe e ouça o murmúrio do mar.

Não durma nas noites de lua cheia e não perca o perfume que o jasmim esparrama nas madrugadas.

Ame as tardes, mesmo aquelas que não são brilhantes como as tardes de abril.

Tente ouvir o canto de um rouxinol, deixe seu olhar bailar com o vôo imprevisível de um beija-flor.

Olhe crianças brincando, você não sabe o quanto isso me deixa feliz!

Fique em uma tarde de outono próximo a uma escola, na hora do recreio, e ouça a canção da vida tomar o céu de sua tarde. A vida é sempre juvenil...

Faça isso, quando nada, por mim.

Você pode até dispensar. Mas eu não abro mão de ser feliz.

Com carinho, seu coração.

2 comentários:

Advogada Criminal disse...

Sou apaixonada por suas poesias. Lindas! "Ouça-me..." é mais uma sumidade! Parabéns! Amei! Abraços.

Paulo da Vida Athos disse...

Sirley, boa noite. Agradeço seu carinho e suas palavras de incentivo. Muito me honraram!

Paz e muito amor em sua caminhada...

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