quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Unidade de Polícia Pacificadora (UPP): inteligência para um Rio mais humano e menos violento


Polícia Pacificadora: o preço da liberdade é a eterna vigilância


Milton Correa da Costa*


Os analistas e estudiosos de cenário da violência e da segurança pública, entre os quais me incluo (registre-se que não tenho representatividade de nenhum governo) começam a constatar, inegavelmente, que algo está surgindo e mudando, com eficácia e solidez, o combate efetivo à criminalidade atípica do Rio. Não é à toa que o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, é um dos indicados este ano ao importante prêmio " Faz Diferença" de O GLOBO.

Gestor da atual política de segurança, baixada pelo governador Sérgio Cabral, diga-se de passagem de forma corajosa e obstinada, Beltrame tem levado adiante o mais revolucionário e inovador modelo de segurança que possibilitou, inquestionavelmente, onde até agora foi implantado, restaurar a ordem pública, resgatando a paz e os direitos humanos e de cidadania em comunidades até então oprimidas e aterrorizadas pelo tráfico de drogas. O direito fundamental do ir e vir foi resgatado para cidadãos humildes em "zonas de anomia" onde até então só vigorava a lei das armas e do terror.

Tal constatação enche e renova de esperança os que vivem e que amam a mais bela entre as cidades do mundo. Ainda que o Rio encontre-se envolto sob o contexto de uma das mais violentas guerras urbanas que já se teve noticia na história policial, não se pode negar que o sólido modelo da UPPs é capaz de enfraquecer o poder paralelo, situação inimaginável até então, principalmente no discurso e na ação de cientistas sociais, numa visão romanceada de antigas políticas (irreais) do "bandido cidadão" e do "bandido social", que redundaram sim na maior ousadia e no fortalecimento cada vez maior do banditismo no Rio.

As UPPs, é fato comprovado, vêm resgatando direitos e implantam a confiabilidade no policial que atua no contato diário em tais localidades. Ou seja, cria os alicerces de uma nova polícia, democrática e cidadã, cuja missão precípua é a de servir e proteger. Segundo o governo do estado, estima-se que 110 mil pessoas já tenham sido beneficiadas diretamente com a instalação das UPPs com a queda dos índices de criminalidade no seu entorno. Cidade de Deus, Leme e as cercanias do Morro Santa Marta são os maiores exemplos disso. Os imóveis ao redor foram valorizados. O Morro da Babilônia, no Leme - vejam a importância da paz social -, voltou agora a ser local de atração turística.

José Junior, coordendor do AfroReggae, ONG que desenvolve 34 projetos sociais no Rio em parceria com países com Estados Unidos, China e Índia, ao ser perguntado sobre sua opinião em relação as Unidades de Polícia Pacificadora, disse que pela primeira vez um governo está tentando isso, reconquistar territórios perdidos, sendo que o mais importante, frisou, é que as UPPs estão entrando nas favelas acompanhadas de investimentos em educação, saúde e cultura. Não são só projetos sociais. Projetos urbanísticos, com iluminação, câmeras de segurança, quadras de esporte, ciclovias, em parceria com o governo federal (Pronasci e PAC) e a prefeitura municipal, demonstram que quando há união das três esferas de poder, caminhando de mãos dadas, todos ganham.

É significativo ter ciência de que até 2016, quando o efetivo da Polícia Militar estará acrescido de 23 mil homens, dezenas de novas UPPs serão implantadas. Falta agora, portanto, efetivo policial, recém formado, policias sem vício, para alocá-los nas novas unidades. Numa análise de cenário de áreas conflagradas, considero que o bairro da Tijuca (Morros do Borel, Casa Branca e Formiga) e de Vila isabel (Morro dos Macacos, geminado ao Morro São João, no Engenho Novo), sejam, salvo indicação em contrário da inteligência policial, os locais onde a instalação da UPPs se fazem mais urgentes.

O mais importante, no entanto, é que o modelo sólido das UPPs trouxe a esperança de um Rio mais humano e menos violento, e também de um modelo de policiamento efetivamente comunitário, onde a parceria polícia/comunidade é a base do sucesso. O preço da liberdade é a eterna vigilância. Ponto para o poder público. Nesta quarta-feira, 23 de dezembro, é mais um dia de vitória para a ordem pública no Rio, com a inauguração da UPP do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo. Até o final do ano, em Copacabana, o Morro dos Cabritos e a Ladeira dos Tabajaras também estarão ocupados. A paz social é possível, basta ter coragem e vontade política. O Rio está vencendo a guerra contra a violência.


*Milton Corrêa da Costa é tenente coronel da PMERJ, na reserva.


Fonte O Globo

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