Testemunhas demonstram medo na CPI das Milícias
Em depoimento na Alerj, pai e filho negaram ter conhecimento de milícias na Zona Oeste.
Deputado sob suspeita participa da audiência e não segue o regimento interno.
Mesmo diante das negativas das testemunhas, que disseram não saber lidar com explosivo, e do medo que os dois demonstraram, o presidente da CPI das Milícias da Assembléia Legislativa do Rio (Alerj), deputado Marcelo Freixo, considerou que os depoimentos prestados pelo pescador Antônio Santos Salustiano e seu filho, o estudante Ocian Gomes Ranquine Salustiano, foram importantes porque ajudam a entender o funcionamento das milícias.
Durante a audiência, o deputado Natalino - suspeito, junto com o irmão, o vereador Jerominho, de chefiar um grupo de milicianos conhecido como Liga da Justiça, na Zona Oeste - chegou à sessão e se sentou de frente para o estudante. Contrariando o regimento, Natalino, mesmo sem se ter membro efetivo da CPI, dirigiu uma pergunta à testemunha Ocian, o primeiro a depor.
Natalino perguntou diretamente ao rapaz se o delegado Marcus Neves teria citado o nome dele e de Jerominho, proferido palavras de baixo calão ou citado algo que os prejudicasse. Vacilante até então, o rapaz respondeu com segurança que o delegado tinha dito que "Jerominho e Natalino eram inimigos".
O deputado ainda esboçou uma nova pergunta, mas foi interrompido por Freixo, sob o argumento de que, pelo regimento interno, não poderia se reportar diretamente ao depoente e que se quisesse fazer perguntas deveria encaminhá-las por escrito ao presidente da CPI.
"Isso demonstra que existe perseguição contra mim, desde que denunciou a corrupção na Polinter, em outubro de 2007", comentou Natalino, que se retirou da sala logo após o final do depoimento do estudante.
Pai e filho afirmaram que só trabalham com fogos de artíficio, não têm conhecimento técnico para fabricar bombas, que são compradas prontas e negaram ter fabricado o explosivo jogado contra a 35ª DP (Campo Grande), no dia 11. Disseram ainda desconhecer qualquer atuação de milícias na Zona Oeste.
A sessão da CPI, que começou às 10h20, foi encerrada ao meio-dia desta quinta-feira (26). Antônio e Ocian estão respondendo em liberdade ao processo pelo atentado à delegacia, depois de passar 15 dias presos na Polinter.
"Foram depoimentos marcados pelo temor, de pessoas que estão respondendo a processo e que estão tentando não se comprometer e buscando a defesa. É importante frisar que não somos defensoria pública nem delegacia", disse Freixo ao final da sessão.
Durante os depoimentos, o deputado frisou que a CPI não quer substituir a polícia, mas que está trabalhando em defesa do estado, procurando investigar, diagnosticar e fazer propostas para resolver o problema. Ele disse que poderá determinar o fechamento das próximas sessões, caso a comissão perceba que os depoentes estejam se sentido constrangidos. A CPI tem 150 dias de prazo para chegar a uma conclusão.
Na próxima quinta-feira (3), a CPI vai ouvir o delegado da 35ª DP (Campo Grande), Marcus Neves e os inspetores Lício Modesto Ferreira e Marco Antônio Barbosa, que prenderam o pescador e seu filho. Os policiais teriam ouvido informalmente os suspeitos afirmando que eles haviam fabricado a bomba a pedido do deputado Natalino, suspeito de chefiar um grupo de milícia na Zona Oeste, conhecido como Liga da Justiça.
Em depoimento aos deputados, o pescador contou que costuma fazer espetáculos pirotécnicos, com fogos de artifícios, para igrejas de Cosmos, na Zona Oeste, há mais de dez anos. Ele contou oque o material recolhido pela polícia em sua casa - 85 unidades de fogos treme-treme, 47 unidades de fogos buscapé, 15 caixas de morteiros de 12 tiros, 30 unidades de fogos de efeito pirotécnico, material para colorir os fogos e nove estopins - era sobra da festa de Corpus Christi. Os fogos, segundo ele, estavam reservados para a festa da igreja de Santa Sofia, em setembro.
O pescador negou ter conhecimento técnico para a fabricação de bombas e disse que costumava comprar os fogos prontos e se encarregava apenas de armar o espetáculo pirotécnico. Ele contou que ele e o filho foram detidos em casa e que foram reconhecidos por dois homens encapuzados. Quando estava sendo levado para a delegacia ouviu os policiais comentando: "Os caras, pelo jeito, não têm nada a ver com o negócio".
Mas, ao chegar à delegacia, o pescador contou que o delegado Marcus Neves foi logo dizendo: "Natalino e Jerominho são inimigos. Confessem logo que fizeram a bomba", disse o pescador, acrescentando que respondeu dizendo que só falaria em juízo.
Na próxima segunda-feira (30), começa a funcionar o serviço de Disque-Milícia da Alerj. As denúncias poderão ser feitas pelo telefone 0800-2820376, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.
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